'Ele disse que ia esperar a polícia esquecer', diz delegado sobre suspeito de matar assessor

Gabriel Bispo dos Santos foi preso em Santa Catarina

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  • Gil Santos

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 12:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alberto Maraux/SSP

De cabeça baixa e com as mãos sobre as pernas, Gabriel Bispo dos Santos, 24 anos, parecia calmo durante a apresentação na sede da Polícia Civil, na Piedade, nesta sexta-feira (23). Mas a atitude mudou quando os repórteres começaram a fazer perguntas. As respostas foram bem ríspidas em um tom seco: "Nada a declarar".

Segundo a polícia, Gabriel assumiu o crime durante o interrogatório de quinta-feira (22), mas não deu detalhes. Segundo o delegado do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) responsável pela investigação do caso, Delmar Bittencourt, o preso contou em depoimento que estava no momento em que Michel Batista de Sá, 35 anos, foi baleado, mas que não foi ele quem atirou.

"Ele também nega que tenha torturado a vítima e disse que não sabe quem teria feito isso. Sabemos que o crime teve a participação de outras pessoas e estamos investigando. Nossa suspeita é de que o Michel se recusou a entregar o carro e, por isso, teria sido assassinado, mas estamos apurando", afirmou o delegado. Michel deixou esposa e um filho recém-nacido (Foto: Arquivo) Depois de matar a vítima, Gabriel fugiu para Barra do Jacuípe, no Litoral Norte da Bahia, e no dia 20 de agosto correu para Macaé, no estado do Rio de Janeiro, onde tem familiares. Depois foi para Guarulhos, em São Paulo, onde ficou por 15 dias em um apart-hotel. A polícia tem imagens do circuito interno de segurança do estabelecimento que mostram o momento em que Gabriel deixa o local com várias malas, no dia 30 de outubro.

Segundo o diretor do DCCP, Élvio Brandão, Gabriel já aplicou outros golpes similares e estava vivendo em Santa Catarina com o dinheiro que acumulou com essas atividades. O diretor contou que ele tomava alguns cuidados para não ser encontrado pela polícia.

"Ele contou que não usava o chip do celular por mais de uma vez, sempre que fazia uma ligação jogava o chip fora. Ele disse que empresta dinheiro a juros e que não usava a conta corrente dele para receber os valores. Tudo isso para não ser rastreado. Ele disse que ia continuar trocando de cidade por 1 ano e meio até a polícia esquecer do crime", afirmou. Polícia não tem dúvida da participação de Gabriel no crime (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Gabriel estava em uma pensão no município de Pomerode quando foi preso. Segundo a polícia, o suspeito se preparava para trocar novamente de cidade quando foi surpreendido pelos investigadores em uma ação conjunta entre as Polícias Civis dos dois estados. "Ele tentou fugir pelo telhado, mas foi capturado, e contou que pretendia adotar destinos aleatórios, onde não tivesse familiares nem amigos para evitar ser localizado", contou o delegado Bittencourt. 

Os investigadores contaram que Gabriel não demonstra arrependimento e que está mais preocupado com o tempo que vai passar na cadeia e com o dinheiro que ele transferiu durante o golpe aplicado em Michel.

No dia do crime, o golpista apresentou para a vítima um comprovante de transferência de R$ 59,5 mil que seria para a compra do carro que Michel estava vendendo, mas esse montante nunca foi encaminhado para a vítima. O comprovante era falso. A polícia acredita que Gabriel realmente transferiu esse valor, mas para um dos comparsas e que, agora, está preocupado em perder o dinheiro.  Duas equipes policiais estão investigando o caso (Foto: Alberto Maraux/ SSP) Gabriel gravou um vídeo em que nega o latrocínio e acusa o padrasto, o empresário Maurício Lucas de Teive e Argolo, pelo assassinato de Michel. O material foi encaminhado para a família da vítima. Questionado nesta sexta-feira sobre esse fato, os delegados não falaram da suposta relação de Maurício no crime - como acusa Gabriel no vídeo. 

Os delegados orientam as pessoas que forem vender produtos pela internet a desconfiarem de ofertas tentadoras, a sempre levar alguém para os encontros e a verificar o máximo de informação sobre quem é o suposto comprador. Gabriel já tem histórico policial. Ele ficou preso por seis meses em 2016, por tráfico de drogas, e também tem passagem por porte ilegal de arma, no mesmo ano, em Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia.

Entenda o caso O assessor na diretoria da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb) Michel Batista Santana de Sá, 35 anos, morreu depois de ser vítima de um golpe. Tudo começou quando a vítima anunciou em um site a venda do carro dele. Gabriel Bispo dos Santos, 24, fez contato com a vítima e mostrou interesse no produto. 

Os dois se encontaram algumas vezes para discutir a venda. O último encontro aconteceu no dia 16 de agosto, no Salvador Shopping. Michel teria sido enganado por Gabriel que, com a ajuda de comparsas, roubou e assassinou a vítima. O corpo do assessor foi encontrado no dia seguinte na Rua Tamburugy, atrás do Shipping Paralela.  Suplente de vereador Arnando Lessa lamenta a morte do filho (Foto: Almiro Lopes/ Arquivo CORREIO) Dias depois a polícia conseguiu as imagens em que Gabriel aparece usando o cartão de crédito de Michel em uma loja, algumas horas antes do crime. A vítima não estava com ele no momento da compra, o que levou os investigadores a acreditarem que Michel estava rendido em algum lugar. 

Alguns dias depois do crime um homem foi preso suspeito de ser comparsa de Gabriel, mas conseguiu comprovar a inocência e foi liberado. Preso nesta quinta-feira, três meses após o assassinato, Gabriel ainda não contou para a polícia os nomes dos comparsas que o ajudaram. 

O diretor do DCCP, Élvio Barndão, contou que duas equipes policiais estão trabalhando neste caso e que um sapato foi encontrado na casa de Gabriel, em Narandiba, com sangue. A suspeita é de que seja sangue da vítima. "A prisão de Gabriel não significa o fim do inquérito, mas inpulsiona ainda mais a investigação. Não temos dúvida de que houve a participação de outras pessoas", afirmou.  

Michel é filho do  o suplente de vereador Arnando Lessa, 65 anos, e deixou esposa e um filho recém-nacido.