‘Ele me enforcava muito’, diz ex-mulher de zelador morto por traficantes

Ela nega ser mandante do crime e acusa parentes dele de subtrair pertences

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  • Tailane Muniz

Publicado em 23 de julho de 2019 às 19:11

- Atualizado há um ano

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Joyce afirma ter sido esfaqueada por ex (Foto: Reprodução) Desde o assassinato do zelador Clécio Conceição Matos, 39 anos, na noite de domingo (21), na localidade da Chapada do Rio Vermelho, em Salvador, a família do rapaz acusa sua ex-companheira, a cuidadora de idosos Joyce Marques Ramos, 39, de ser a responsável pelo crime. Em contato com o CORREIO, na tarde desta terça-feira (23), Joyce garantiu que tudo aconteceu quando ela tentou se livrar de “mais uma das agressões” do zelador. 

A Polícia Civil já informou que investiga o crime e que não há, ainda, qualquer conclusão quanto às circunstâncias em que Clécio foi morto. A única informação oficial, segundo a pasta, é a de que ele foi agredido e, posteriormente, socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde acabou morrendo pouco depois. Joyce, no entanto, voltou a ser alvo de ataques dos familiares durante o enterro do ex, na manhã desta terça (23), no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas.

Em resposta à afirmação de que teria “chamado traficantes” da Chapada para matar o zelador, Joyce garantiu que sequer tinha “conhecimento para isso”. A cuidadora, que manteve um relacionamento com o ex por sete anos, questiona os argumentos dos familiares do rapaz, que é nascido e criado no bairro em que morreu.

“Para mim, é uma surpresa que estejam me culpando. As irmãs e irmãos dele sabiam que eu era agredida. Sempre que ele bebia, ficava agressivo e me enforcava muito. Eu contava a eles, e eles me diziam: ‘ele é cabeça dura’. Como podem dizer que chamei traficantes? Minha vida era de casa para o trabalho, do prédio da minha patroa para casa, jamais faria isso”, garante ela, que afirma ter “fugido” do ex-marido apenas "com a roupa do corpo".

Joyce relatou ao CORREIO que no domingo (21), dia do crime, ela estava com a filha do casal, uma menina de 4 anos, quando Clécio, “aparentemente embriagado”, foi até o local com o argumento de que eles precisavam “conversar”. A separação que já durava sete meses, segundo a mulher, ainda era uma insatisfação para o ex, a quem atribui a tentativa de lhe golpear com uma faca do tipo peixeira.“Eu notei o comportamento dele e decidi que não ia subir. Ele, já descontrolado, veio me acertar, isso na rua. Minha filha viu tudo, as pessoas viram tudo, porque a única coisa que fiz foi gritar por socorro. Com o povo se aproximando, eu consegui desviar dele e minha única preocupação era pegar minha filha e sair dali, e foi o que fiz. Eu saí com a roupa do corpo, toda ensanguentada”, narra ela, que relata ter sofrido um ferimento profundo na mão. O corpo de Clécio foi enterrado na tarde desta terça-feira, 23 (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ‘Só soube da morte na Deam’ As pessoas que cercaram o ex-marido, segundo Joyce, não eram do convívio do casal. Ela acrescentou que não viu ninguém armado e que “tudo aconteceu muito rápido”. Ao conseguir sair da Chapada, Joyce foi direto para a casa da patroa, uma senhora de 80 anos, com quem trabalha desde 2009. Ao chegar lá, sem o celular - e antes mesmo de buscar ajuda médica -, se concentrou em acalmar a filha e procurar orientação para registrar o que, em sua leitura, se tratou de uma tentativa de feminicídio por parte do zelador morto.

“Procurei doutor Marcelo (advogado de Joyce), que já me conhecia, sabe quem eu sou, e fomos até a delegacia registrar a ocorrência. Lá, eu soube da morte dele (do zelador). Eu não tive nenhuma culpa disso”, completou a cuidadora, que já foi ouvida por investigadores da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), do Departamento de Homicídios de Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação do caso.

O advogado entrou em contato com o CORREIO na noite de segunda (22) para dar a versão da cliente, a quem garante não ter cobrado pela representação. Ele disse que no dia seguinte é que a cuidadora procurou ajuda na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Brotas.  Morte de Clécio é investigada pela Polícia Civil (Foto: Reprodução) Por meio da assessoria, a Polícia Civil confirmou que Joyce esteve na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), em Brotas, para denunciar Clécio por agressão. No registro, feito no início da tarde de segunda-feira (22), a cuidadora deu as mesmas informações que relatou à reportagem: “ficou ferida na mão direita após tentar fugir do ex-marido que, com uma faca, a atacou”, diz o boletim de ocorrência. 

“Estive no DHPP ontem à noite e contei tudo, porque não tenho o que esconder. Estou contando com o apoio de minha patroa, porque eu não tenho mais nada. Estou sem celular, sem minhas roupas, sem meus documentos. Eles (família de Clécio) pegaram até os documentos de minha filha, não sei nem o que fazer”, acrescentou a cuidadora. 

De acordo com Joyce, sua irmã esteve na casa onde ela morava com Clécio, nesta terça, e constatou que “tudo foi retirado” do local. Televisão, roupas, celular e demais objetos, nas palavras da ex-mulher do zelador, já não são o mais importante agora. Para ela, que pretende provar sua inocência, os primeiros passos já foram dados: “Já fiz os exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e agora eu estou esperando os resultados”. 

Relembre o caso O zelador Clécio foi espancado dentro de casa por traficantes na Rua Coreia do Sul, na Chapada do Rio Vermelho, em Salvador. Ele foi socorrido para o HGE e morreu horas depois. A família relatou ao CORREIO que cerca de 20 homens provocaram a morte da vítima.

Ainda de acordo com amigos e familiares de Clécio, no último domingo (21), enquanto o casal discutia, Joyce atacou o zelador e o teria ferido no peito. Segundo a família, após a confusão a esposa contatou traficantes do bairro e alegou que havia se defendido do companheiro depois de sofrer uma tentativa de estupro. Sem procurar saber detalhes do que aconteceu, cerca de 20 criminosos foram até a casa do casal. Ela nega a versão.

Os criminosos invadiram a casa e espancaram Clécio a pauladas, coronhadas e pedradas. O zelador chegou a ser socorrido pelo irmão para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois. 

Por meio de nota, a Polícia Civil disse que Clécio foi vítima de agressões e, posteriormente, foi socorrido para o HGE. Já a ocorrência, registrada no posto da unidade hospitalar, será encaminhada para a 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina), responsável por apurar o caso.

Em nota, a Policia Militar disse que policiais da 40ª Companhia Independente da Policia Militar (CIPM/Nordeste de Amaralina) foram acionados após informações de que um homem havia sido vítima de espancamento no bairro. Ao chegarem ao local, a equipe da PM foi informada que a vítima já havia sido socorrida para a unidade de saúde.