‘Ele nunca matou ninguém’, defende avó de jovem que assaltou ônibus em Paripe

Eletricista foi morto com tiro no peito durante a ação dos bandidos

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  • Eduardo Dias

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Polícia Civil/Ascom

Apesar do problema de hipertensão, a aposentada Alda Marli, 67 anos, não hesitou em sair logo cedo de casa para ficar de prontidão em frente à sede da Polícia Civil, na Piedade, nesta quarta-feira (21). Ela aguardava ansiosa para abraçar seu neto, Rodrigo Campos Papa Sousa, 19, que foi preso na última terça-feira (20).

Ele e Allan Denisson Araújo Santana, 19, assaltaram um ônibus em Paripe, na última sexta-feira (16) - no roubo, um passageiro, o eletricista Robson Moitinho Lima, foi morto. A dupla foi apresentada à imprensa nesta quarta. Na ocasião, Allan admitiu que o tiro que matou a vítima foi disparado por ele.

Emocionada, a avó de Rodrigo defendeu o neto e disse que ele não tem envolvimento na morte do eletricista.“Ele é usuário de drogas, não posso negar isso, mas ele nunca matou ninguém”, desabafou Alda.Quando recebeu a ligação de uma de suas quatro filhas informando que Rodrigo havia sido preso por participar de um assalto, e seria levado à sede da Polícia Civil, Alda fez questão de ver o neto antes que fosse levado ao presídio.

Angustiada, e ainda sem saber direito o que aconteceu com Rodrigo, ela viu o neto sair do prédio algemado e conduzido por policiais para dentro de uma viatura do Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (GERRC), para ser levado ao sistema prisional.

Antes que ele fosse levado, Alda fez um apelo. Ela queria ter a chance de dar um abraço no neto e dizer algumas palavras a ele.“Eu perguntei a ele: 'meu filho, o que foi que você fez? Por que você está aqui?'. E ele me disse: 'Vá pra casa, vó'. Ele não me disse mais nada, se fez ou não fez”, lamentou a vó, com a voz embargada.Dona Alda acrescentou ainda que o neto, apesar da vida ligada ao mundo do crime, é uma boa pessoa e já teve alguns trabalhos. “Ele é um bom menino, bastante educado, sempre me tratou bem. Ele trabalhava como mecânico numa oficina em Coutos, consertava ônibus e topic. Eu fui pega de surpresa quando minha filha me ligou, não estava sabendo de nada, pois moro em outro bairro. Vi a reportagem no jornal e fiquei intrigada, é uma situação muito ruim”, disse a avó, que revelou que o jovem sempre passava um tempo em sua casa.

Alda é avó de outros quatro jovens e disse que sempre pede que eles tomem cuidado com as amizades que escolhem. Isso porque ela acredita que "andar com pessoas erradas" foi o que levou Rodrigo a se envolver com o crime.“Eu digo sempre a eles para terem cuidado com as más amizades, foi isso que aconteceu com meu neto. Nunca pensei em viver e ver uma situação dessa, ver meu neto sendo preso é muito triste. É a primeira vez que passo por isso”, explicou a avó.Confissão Allan confessou ser o autor do tiro que matou o eletricista e também a participação dele e de Rodrigo em outros três assaltos nos bairros de Paripe, Águas Claras e Abrantes.

Durante o assalto, Allan foi o responsável por recolher os pertences das vítimas. Ele foi surpreendido por Robson, que lhe aplicou uma gravata após ter seu celular tomado. Ao tentar se soltar, o criminoso pegou a arma, que estava com Rodrigo e atirou contra Robson e o matou.

De acordo com o coordenador do GERRC, delegado Glauber Uchiyama, a arma utilizada no crime foi descartada em uma boca de fumo do bairro de Paripe onde os criminosos foram encontrados.

O crime O assalto que terminou na morte do eletricista ocorreu por volta das 19h30 de sexta-feira (16), dentro de um ônibus do Consórcio Integra Plataforma, da linha 1604 (Base Naval – Lapa), próximo a uma fábrica de gelo, em Paripe, no Subúrbio Ferroviário. Segundo testemunhas, o eletricista reagiu ao assalto.

De acordo com informações da Polícia Civil, os dois homens anunciaram o assalto ao coletivo quando o veículo passava por um viaduto em Paripe. A vítima entrou em luta corporal com um dos criminosos e foi atingida com um tiro no peito. Socorrido para o Hospital do Subúrbio, Robson não resistiu e morreu em seguida.

Em nota, a PM informou que uma equipe da 19ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Paripe) foi acionada, por volta das 20h, via Centro Integrado de Comunicação (Cicom), para checar a informação de que havia um homem baleado no interior de um ônibus, em Paripe.

Ainda segundo a PM, a dupla de assaltantes conseguiu fugir para uma comunidade na região de São Tomé de Paripe. Em seguida, as equipes da 19ª CIPM realizaram rondas e incursões no local a procura dos responsáveis, mas ninguém foi preso.

Passageiros e outras testemunhas do crime foram ouvidas pela polícia, e imagens de câmeras de vigilância do ônibus foram solicitadas.

O eletricista deixa esposa e quatro filhos. O corpo dele foi enterrado na tarde de sábado (17), no Cemitério Municipal de Paripe.

Já na terça-feira (20), por volta das 7h, moradores do bairro de Fazenda Coutos realizaram um protesto na BA-528, a Estrada da Base Naval de Aratu, também conhecida como Estrada do Derba. Por cerca de duas horas, eles queimaram pneus e interditaram trecho da rodovia, em ambos os sentidos.

A manifestação foi encerrada após cerca de 20 minutos de negociação com policiais militares. De acordo com a TV Bahia, o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) esteve no local e apagou o fogo dos pneus. A Polícia Rodoviária Estadual (PRE-BA) também esteve no local.

Os manifestantes pediram segurança e melhorias na infraestrutura do local, além de requalificação da rodovia. 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro