Eleições nos Estados Unidos podem pautar questões do Enem 2020; entenda

Professores citam regionalismo, xenofobia e pautas raciais discutidas na campanha americana como temas pertinentes ao exame

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  • Wendel de Novais

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Olivier DOULIERY/AFP/Arquivo

As eleições presidenciais norte-americanas, que acabaram com a vitória do democrata Joe Biden, ficaram na boca do povo. Seja acompanhando as transmissões de canais de notícia no Brasil, discutindo com os amigos ou criando memes que repercutiram a demora na apuração dos votos, os brasileiros e baianos falaram muito sobre o processo eleitoral dos Estados Unidos na última semana. Mas, segundo professores de geografia e história, além do papo de boteco ou de rede social, dá para tirar mais do assunto. Para os estudantes que se preparam para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, o pleito e as temáticas discutidas pelos candidatos são importantes fontes de estudo para quem precisa ampliar os conhecimentos geográficos, políticos, sociais e culturais.

Questões raciais, de gênero, fluxo migratório e negacionismo da ciência são alguns dos temas que podem ser aproveitados no exame que, segundo os professores, busca sempre testar as habilidades e conhecimentos gerais sobre política mundial e atualidades. Além dos educadores, estudantes também notaram a relevância dos eventos que antecederam a eleição e entendem que há uma probabilidade alta dos assuntos cairem na prova de humanas. Os mais atentos já reservam tempo para entender não só a política americana, mas o cenário global.

É justamente assim que pensa Keyla Sacramento, 18 anos. Para ela, a possibilidade de que os assuntos pautados nas eleições dos EUA sejam colocados em questões da prova é real. Isso porque Keyla entende que as temáticas são discutidas em âmbito mundial:"Questões raciais, discussão de gênero e xenofobia são temas que foram discutidos por Trump e Biden nas eleições, mas não são de agora e fazem parte de um debate global. São temáticas de uma política global. Por isso, são coisas que devem cair e todo mundo precisa ficar ligado", opina Keyla, que pretende cursar medicina.A estudante já até pensou uma maneira de se inteirar sobre os assuntos mais relevantes na política dos Estados Unidos e de outros países. "Eu tento usar as redes sociais em meu favor. Tenho canais que me mandam notícia pelo Telegram e Whatsapp diariamente. Faço isso pra ter um repertório sociocultural amplo, o que acredito que é fundamental para o exame que pede, muitas vezes da gente, esses conhecimentos sobre o que ocorre lá fora", explica. Keyla tem procurado se atualizar sobre os temas discutidos no mundo (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Eduarda Potel, 21, que também quer cursar medicina, não acompanhou muito as eleições, mas, mesmo assim, entende que os assuntos abordados pelos candidatos à Casa Branca são pertinentes. "Não consigo destrinchar muito a respeito das eleições nos EUA porque não acompanhei os últimos acontecimentos. Apesar disso, acho que são temas válidos e que devem cair no Enem sim. Principalmente, questões relacionadas a temas como racismo e xenofobia", acredita. Eduarda vai se atualizar sobre o que foi discutido nas eleições dos EUA para não ser pega de surpresa (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Marcele Santos, 19, também está atenta para a possibilidade dos temas discutidos nas eleições do país que influencia o resto do mundo serem relacionados na prova. "São assuntos pertinentes. Tivemos o movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matters, em inglês) também que mexeu com o mundo todo e diversos diálogos sobre os problemas sociais nos debates pela presidência. Acho que esse é um tema que deve cair", declara.

A jovem, que quer fazer psicologia, vê no estudo sobre as eleições estadunidenses uma oportunidade de otimizar seu conhecimento sobre temas políticos relevantes."O estudo sobre esses temas pode contribuir muito para o meu pensamento crítico, entendendo como foi debatido pelo público e pelos políticos essas questões tão pertinentes dentro dos Estados Unidos.  Acho que um estudo sobre as eleições americanas pode somar muito intelectualmente, e até mesmo ajudar com o Enem", conclui. Marcele quer cursar psicologia (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Dicas dos professores

De acordo com professores que atuam na preparação de candidatos ao Enem, a eleição americana não deve ser uma pauta direta de uma questão, mas estudá-la pode levar os candidatos a um conhecimento prático de assuntos fundamentais que, na opinião deles, estarão entre as perguntas propostas pelo exame.

Para Orlando Neto, professor de geografia da rede privada, a abordagem de temas como racismo, gênero, fluxo migratório, xenofobia, negacionismo científico e acordos político-ambientais faz parte do DNA do exame. "A prova do Enem tem um objetivo muito claro de sempre verificar no aluno as habilidades e competências. Então, é muito possível que, a partir de uma relação feita com o que foi debatido nas eleições, questões que discutam os temas de lá, que também são importantes aqui no nosso contexto, sejam aplicadas", afirma.

O professor Orlando ainda afirmou que há uma diversidade de temas que podem ser abordados ao explorar o que se discutiu nos EUA e, ao falar da sua área, citou dois exemplos:"Existem alguns pontos interessantes que podem ser discutidos ao observar questões que movimentam tanto a política por lá. Falando em geografia, dá pra entender a relação de fluxo migratório com xenofobia em estados como o Texas e a Flórida que recebem muitos imigrantes e estão alinhados com a política de fechamento das fronteiras de Trump e questões como regionalismo baseado na produção por espaço, por exemplo", diz o professor Orlando.Gedeval Paiva, que é professor de geografia no Instituto Federal Baiano (IFBA) de Vitória da Conquista, também vê formas de relacionar os temas abordados nas eleições americanas com áreas de conhecimento cobradas no Enem. "Com certeza, a geopolítica atual é um aspecto que quem elabora a prova vai levar em consideração e o que acontece nos Estados Unidos é parte disso. Impossível não falar, por exemplo, da relação com a pandemia e a corrida científica em torno da vacina que acontece entre vários países e que foi pauta das eleições americanas", lembra om professor, ao afirmar que os estudantes precisam estar atentos ao cenário político estadunidense e mundial para não serem surpreendidos no momento da prova.

A professora de história Tânia Lima, por sua vez, lembra que as temáticas que pautaram as eleições americanas podem ser incluídas em questões de mais de uma disciplina e, por isso, é importante que o estudante tenha domínio sobre elas. "Gênero, racismo e patriarcalismo são temáticas transversais. Podem aparecer em questões de história, de geografia e também na redação. Ainda mais porque, nos últimos dois anos, essas temáticas fazem parte de discussões que vêm se acirrando na Europa, na América Latina e também nos Estados Unidos. Sobretudo as pautas e questões raciais", afirma.Tânia diz que aluno deve, como atividade complementar no estudo destes temas, direcionar seu olhar para o processo eleitoral estadunidense e tentar entender o impacto de cada assunto, que foi capaz de influenciar as eleições por lá e deve ser capaz de se inserir nas questões do Enem. "O aluno precisa se apropriar desses temas que são tão necessários que as discussões pautaram a eleição dentro dos EUA. E a posição de cada candidato em relação a estes assuntos foi fundamental para o resultado da eleição. Então, o aluno tem que entender sobre isso que foi determinante para a eleição no país que é a maior potência do mundo hoje", aconselha. 

Confira temas que podem cair na prova:Migração e Xenofobia - A política de Trump contra os imigrantes nos EUA fez com que ele fosse o mais votado em estados que mais recebem fluxo migratório, como Texas e Flórida. Propostas como um muro entre os EUA e o México ganharam apoio dos eleitores que mantém posturas xenófobas. A xenofobia - antipatia a estrangeiros - é um tema que já foi tratado em outras edições do Enem e pode reaparecer.

Questões raciais - A morte de George Floyd, em Minneapolis, após ser asfixiado por um policial branco que se ajoelhou sobre o pescoço do homem negro, fez com que protestos contra o racismo se espalhassem pelos EUA. A posição de Trump, contrária aos protestos, pautou as questões raciais nos debates anteriores ao pleito e levou a população negra a votar contra o republicano. O racismo nas instituições brasileiras é outro tema que já foi cobrado no exame e, provavelmente, será relacionado em uma das questões.

Mudanças climáticas e o acordo de Paris - A saída dos EUA do Acordo de Paris - pacto mundial sobre as mudanças climáticas - e a necessidade de políticas que tenham como objetivo a redução da emissão de gases do efeito estufa, pesaram nas discussões eleitorais americanas. Trump foi acusado de conduzir um governo desalinhado com as metas de preservação ambiental. O tratado é o maior acordo mundial em relação às mudanças climáticas e pode ser tema de uma das questões do Enem.Inscrições para PPL

As inscrições para o Enem PPL - Pessoas Privadas de Liberdade - 2020, acontecem de 31 de novembro a 11 de dezembro. A prova será realizada nas unidades socioeducativas ou prisionais em que os candidatos estiverem, nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2021. O exame, para aqueles que têm mais de 18 anos, é uma oportunidade de acessar o ensino superior. Os órgãos de administração prisional e socioeducativa que quiserem indicar unidades para  a aplicação do Enem PPL devem enviar um e-mail para o Inep.

CORREIO traz fascículos para revisão

Até o dia 13 de janeiro, o CORREIO publica 17 fascículos especiais do 14º projeto Revisão Enem 2020. Na semana passada o tema foi Matemática e suas tecnologias. Nesta semana, o caderno traz questões sobre Ciências da Natureza e suas tecnologias

Com simulados online, que são disponibilizados no site correio24horas.com.br, os conteúdos contam com uma série de questões objetivas, realizadas pelo SAS Educação, para os estudantes testarem os seus conhecimentos nas disciplinas cobradas no Enem.“É um projeto pensado para facilitar a vida do estudante nessa reta final. Os conteúdos são desenvolvidos para abranger todas as 120 habilidades cobradas no Enem e os assuntos mais recorrentes nas provas, para que o aluno descubra uma forma dele se aproximar mais da realidade do exame,  além de disponibilizar as vídeoaulas com as resoluções para que o aluno, também, aprenda o conteúdo que ainda não sabe”, diz o professor Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Plataforma de EducaçãoAlém disso, sempre às quartas-feiras, o site do jornal conta com videoaulas. As aulas podem ser acessadas na íntegra no canal www.correio24horas.com.br/revisao. "Reunimos em um só lugar materiais inéditos de estudo que serão atualizados semanalmente e ficarão disponíveis para serem consultados sem sair de casa, a qualquer momento, de qualquer lugar, computador ou celular. Toda quarta-feira o estudante poderá ler conteúdos especiais, assistir videoaulas e realizar simulados para testar os seus conhecimentos nas mais diversas áreas”, diz Vanessa Araújo, coordenadora de projetos do CORREIO. 

Além do contéudo de revisão disponibilizado no site do CORREIO, a  UniFTC oferece gratuitamente, toda sexta-feira, aulas de revisão para o ENEM com professores renomados de grandes escolas. Mais uma oportunidade para o leitor estudar através de conteúdo gratuito e de qualidade. Para se inscrever nas aulas gratuitas, basta acessar o site do projeto.

O Revisão Enem 2020 é uma realização do CORREIO, com o patrocínio da UniFTC e o apoio da SAS.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro