Elevador Lacerda tem apenas uma cabine funcionando; usuários temem assaltos

Não há previsão para volta do funcionamento total das cabines

Publicado em 6 de maio de 2022 às 18:22

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Tiago Caldas/Arquivo CORREIO

Uma das mais importantes ligações entre a cidade Baixa e Alta de Salvador, o Elevador Lacerda não está funcionando com sua capacidade total desde sexta-feira (6) pela manhã e tem causado transtorno para seus usuários. Durante o início do dia, pessoas que utilizaram o Elevador relataram que apenas uma das quatro cabines estava em funcionamento. Por volta das 16h, duas delas já estavam realizando o transporte dos passageiros e não havia filas. 

A principal queixas das pessoas que utilizam o Elevador Lacerda é a falta de segurança na parte de baixo, localizada na Rua Conceição da Praia, em frente ao Mercado Modelo. Apesar de conter pontos turísticos, o local é conhecido pelos furtos diários. O medo é que, com as filas, as pessoas fiquem mais vulneráveis aos crimes. 

Um jovem que preferiu não se identificar trabalha em uma loja aos pés do Elevador e conta que os roubos fazem parte do cotidiano de quem transita pelo local. “Aqui tem, em média, de seis a oito assaltos por dia. Por volta de meio dia aqui é mais movimentado e as pessoas, além de ficarem no sol, correm o risco de serem assaltadas também”, afirma. 

Segundo ele, o foco dos assaltantes costumam ser pessoas de fora da cidade e o principal crime cometido é o roubo de correntes. Mesmo com dois guardas municipais fazendo a vigilância no hall de entrada do Elevador, o vendedor revelou que um senhor chegou a ser assaltado ali dentro. “Eles vêm em bando, então se a pessoa quiser reagir é até perigoso, porque vem outros que estão disfarçados”, diz. 

A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) informou que na tarde de sexta (6), três das quatro cabines já estavam em funcionamento, sendo que uma delas só seria ativada se houvesse demanda de movimento.  A quarta está parada para substituição de uma peça que deve ser produzida especificamente para o equipamento, por isso, não há prazo para quando todas  voltarão a funcionar novamente. Duas cabines são responsáveis pela subida, enquanto duas outras fazem a descida dos passageiros. 

Um dos motivos que tem causado um fluxo maior de movimento no Elevador Lacerda é a interdição da Ladeira da Montanha, que também liga as duas partes da cidade. O tráfego na via está interrompido desde o dia 21 de abril, quando uma parte de um casarão tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desabou no local, atingindo a pista. 

A secretaria indica ainda que em caso de funcionamento parcial ou não funcionamento do Elevador, os usuários utilizem o Plano Inclinado Gonçalves, localizado nas imediações da Praça da Sé. Ele fica ao lado da Casa do Carnaval, mas as pessoas reclamam da distância que deve ser percorrida. 

Um homem que trabalha fazendo entregas e utiliza o Elevador todos os dias reclama do funcionamento e cobra que sejam feitas melhorias, especialmente no tocante à segurança do local. “A gente se pergunta cadê o dinheiro dessa empresa para fazer reformas. Aqui o que não falta é fila”, critica.

Além do funcionamento parcial, a trepidação na cabine número 2, que faz a descida dos passageiros da Praça Tomé de Souza até a Rua da Conceição da Praia, tem sido motivo de reclamações. A reportagem chegou a utilizar a cabine e presenciou uma senhora desistindo de pegar o Elevador quando soube que a trepidação ainda não tinha sido resolvida. 

“Para quem passa mal que nem ela é melhor nem entrar”, disse a funcionária que fazia o transporte dos usuários e alertou a senhora de que a trepidação continuava. A Semob disse, no entanto, que a trepidação já havia sido resolvida na tarde de sexta-feira (6), o que não foi confirmado pela reportagem. 

Um ambulante que trabalha no Pelourinho, diz que o funcionamento de só uma cabine, como ocorreu durante a manhã de sexta-feira inviabiliza o transporte de usuários aos pontos turísticos da capital. “Tem que ter pelo  menos duas sessões funcionando, porque é muita gente que circula por aqui, muito turista. Além do que, quem fica lá embaixo tem medo de ser assaltado”, conta. 

Problemas recorrentes Em 15 de março, seis pessoas ficaram presas no Elevador Lacerda após uma das quatro cabines do equipamento parar de funcionar por conta de uma falha. O grupo foi retirado sem ferimentos e o ascensor precisou ficar interditado para manutenção. Um mês antes, em fevereiro, o Elevador também precisou ser interditado durante a manhã por apresentar falhas no funcionamento. 

O Elevador Lacerda está em funcionamento na capital baiana há 148 anos e só no mês de abril de 2022 chegou a transportar mais de 192 mil usuários, segundo a Semob. A tarifa custa R$0,15 e funciona todos os dias das 6h às 22h. 

O equipamento foi inaugurado em dezembro de 1873 como Elevador Hidráulico da Conceição. Só em 1896 foi batizado de Elevador Lacerda, em homenagem ao seu idealizador, o engenheiro Antônio de Lacerda.

*Com orientação da chefe de reportagem Monique Lôbo.