Em Curitiba, o ex-presidente Lula nega acusações feitas contra ele

Em quase cinco horas de depoimento ao juiz Sérgio Moro no processo em que é acusado de receber propina da OAS, Lula negou que tenha recebido vantagens indevidas da empreiteira

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  • Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2017 às 07:34

- Atualizado há um ano

Em quase cinco horas de depoimento ao juiz Sérgio Moro no processo em que é acusado de receber propina da OAS, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que tenha recebido vantagens indevidas da empreiteira, acusou o Ministério Público de persegui-lo e atacou a imprensa. Foi o primeiro depoimento do ex-presidente, que responde a outros quatro processos.O Ministério Público Federal diz que o petista participou do esquema de desvios na estatal e recebeu da OAS um total de R$ 3,7 milhões em vantagens indevidas. Parte deste valor teria sido paga com a reserva de um triplex em Guarujá (SP) e em benfeitorias neste imóvel no valor de R$ 2,4 milhões. Lula disse ao juiz que nunca teve a intenção de adquirir o triplex.“Fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Leo (Pinheiro, ex-presidente da OAS) sobre o apartamento”. Moro então questionou Lula sobre uma visita ao imóvel feita pela mulher do petista em 2014, época em que Lula diz que já havia desistido da compra do imóvel. “Eu não sabia que tinha tido visita. Não sei se o senhor tem mulher, mas nem sempre ela pergunta para a gente o que vai fazer”, afirmou Lula sobre Marisa, morta em fevereiro deste ano.Sobre a outra acusação neste processo, de que a OAS pagou R$ 1,3 milhão em serviços pelo armazenamento de bens do ex-presidente, Lula disse que não sabia o tamanho do acervo de bens recebido por ele durante a Presidência e que somente depois ficou sabendo que a OAS pagou o armazenagem de parte dos bens.Militantes cercam Lula na chegada à sede do tribunal (Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo)Encontro com DuqueLula confirmou a Moro que teve um encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque para questioná-lo sobre eventual conta no exterior, como relatado pelo ex-diretor. O ex-presidente disse que articulou a reunião por meio do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto,  preso, acusado de participação nos desvios. “A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: tem matérias nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, pegando da Petrobras. Você tem conta no exterior? Ele disse: ‘Não tenho’. Acabou. Não mentiu para mim, mentiu para si mesmo”, afirmou.Críticas a MoroAo final do depoimento, Lula criticou o juiz Sérgio Moro por decisões tomadas, como o fato de ter sido alvo de condução coercitiva e o vazamento de gravações envolvendo sua mulher, Marisa. “Eu não tinha o direito de ter minha casa molestada sem que eu fosse intimidado para uma audiência, doutor. Ninguém nunca me convidou”, reclamou.Ao finalizar seu depoimento, fez também um alerta a Moro: “Eu queria lhe avisar uma coisa: esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes”, afirmou. Moro a Lula: “Infelizmente, eu já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs que supostamente patrocinam o senhor. Então, padeço dos mesmos males em certa medida”.O ex-presidente Lula negou que tivesse conhecimento do esquema de pagamento de propina ao PT em contratos da Petrobras. “Se tivesse (conhecimento), eles seriam presos bem antes”, disse Lula. Ele negou que soubesse de uma conta de propina acertada entre Pinheiro e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT.Lula tentou minimizar a sua influência sobre o PT e disse que não participou de reuniões do partido a partir de sua eleição, em 2002. Ao falar das irregularidades na Petrobras, disse que, se tivesse conhecimento, nenhuma das empreiteiras envolvidas prestaria serviço à estatal. “O presidente da República não participa do processo de licitação da Petrobras, não participa de tomada de Petrobras. É um problema interno da Petrobras”, disse.(Foto: Heuler Andrey/AFP)Avião de ex-ministroO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Curitiba, na manhã de ontem, a bordo de um jatinho. A aeronave, um Cessna Aircraft prefixo PR BIR, é do ex-ministro Walfrido Mares Guia. Ex-titular de Relações Institucionais e Turismo, entre 2003 e 2007, Mares Guia é empresário do setor de educação e de saúde. Empresas que oferecem serviço de táxi aéreo em Congonhas cobram entre R$ 15 mil e R$ 20 mil pelo trajeto de ida e volta.

Em audiência, juiz nega que haja desavenças

O juiz federal Sérgio Moro abriu a audiência na qual interrogou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmando não ter nenhum tipo de desavenças com o petista. “Queria deixar claro que, em que pesem algumas alegações, da minha parte não tenho qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente”, disse.

“O que vai determinar o resultado desse processo são as provas e a lei. Eu sou o juiz. Estou aqui para ouvi-lo e proferir julgamento ao final do processo”, afirmou.

Moro é alvo de uma ofensiva da defesa do petista, que pede a sua suspeição sob a alegação de imparcialidade para julgar as ações penais da Operação Lava Jato. A última tentativa de afastar o juiz do processo, porém, foi negada ontem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A audiência de ontem teve momentos tensos, com Lula se exaltando diante de  em algumas situações. 

Também no início do interrogatório, o magistrado avisou a Lula que não haveria a possibilidade de o ex-presidente ser preso durante o depoimento e que haveria algumas perguntas difíceis, o que é “natural do ato judicial”.

“O objetivo é esclarecer a verdade e oportunizar que o senhor tenha uma resposta para cada pergunta”, disse Moro. “Não tem pergunta difícil para quem quer falar a verdade”, respondeu o ex-presidente.

Assista aos vídeos do depoimento

Veja as acusações

Sítio  O sítio em Atibaia pertence a Lula, segundo o Ministério Público Federal. Ele é investigado por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro na compra e reforma do imóvel, frequentado por sua família. O sítio está no nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, amigos da família e sócios de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho de Lula.

Triplex  O apartamento no Guarujá seria de propriedade da família do ex-presidente e teria sido reformado como pagamento de propinas, relacionadas a três contratos da Petrobras.

Instituto  As doações para o Instituto Lula seriam na verdade propina, diz a acusação. Além disso, investiga-se o processo de compra de uma nova sede para a instituição.

BNDES   Lula é acusado de usar sua influência junto ao BNDES  para favorecer empresas. Em contrapartida, a empresa  do sobrinho do ex-presidente, Taiguara Rodrigues, teria recebido pagamentos de R$ 30 milhões.

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