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Paulo Sales
Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
A frase é do jornalista André Forastieri, em seu perfil no Twitter: “Uma geração que cresceu sem pagar por jornalismo e não quer pagar – nem em dinheiro, nem em atenção, nem em respeito. Gerou grupos que cobram posturas 100% alinhadas às suas, ou rejeitam integralmente o outro, o interlocutor, o jornalista”. Forastieri prossegue: “Apoiar jornalismo não é (…) passar recibo pra todas atitudes do dono do jornal ou da imprensa como um todo. Duro ter que explicar isso. Mas há de fato um discurso de ódio contra a imprensa, e tem que ser rebatido”. Concordo com ele.
Forastieri se manifestou após a avalanche de ofensas à repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, na semana passada. Em depoimento na CPMI das Fake News, o ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp a acusou de sugerir sexo em troca de informação. Foi só um dos muitos despautérios criminosos do sujeito, já devidamente refutados pelo jornal. Mesmo assim, o depoimento foi disseminado – e tratado como verdade inquestionável – na terra de ninguém das redes sociais, onde o compromisso com a veracidade dos fatos costuma ser nulo.
Mais do que um ataque a Patrícia, foi um ataque à imprensa como um todo, e é a gravidade desse fato que precisamos entender e combater."O descrédito generalizado do jornalismo tradicional é um risco não apenas à informação. É um risco à democracia. Muita gente vem abandonando a mídia convencional e recorrendo apenas a mídias “alternativas” como fonte de informação." Eu me recuso e considero temerário e insuficiente. Embora saiba que há material de qualidade sendo produzido por novos portais e por jornalistas que não têm espaço nos grandes veículos, dou preferência à capacidade de apuração e checagem de quem possui a estrutura e os profissionais adequados para produzir grandes reportagens.
Pode-se afirmar, não sem certa razão, que parte da imprensa perdeu o prumo diante da ruptura institucional ocorrida no país a partir de 2016 – ou antes mesmo, durante as manifestações de 2013 e as eleições do ano seguinte. A mídia não é infalível. Houve equívocos e há, sim, más intenções. Mas a generalização do descrédito só desmerece o trabalho de profissionais talentosos e destemidos."Não precisamos concordar com tudo que lemos, mas é saudável travarmos contato com informações e opiniões legítimas que se chocam com nossa visão de mundo."Isso nos enriquece e promove debates e reflexões. De minha parte, não quero me agarrar a convicções monolíticas, mas sim líquidas e maleáveis, soprando ao sabor do conhecimento adquirido.
Vale lembrar o quanto devemos, como sociedade, ao bom jornalismo. Denúncias nascidas de apurações rigorosas, responsáveis por derrubar presidentes corruptos, desbaratar atividades empresariais irregulares, desvelar enriquecimentos ilícitos e prender criminosos dos mais diversos matizes."A imprensa é nossa lupa, nosso microscópio. Ela enxerga enfermidades onde enxergamos apenas normalidade."Um país que se pretende democrático não pode prescindir de uma imprensa livre. Do contrário, nos renderemos ao autoritarismo e à obscuridade. Você quer isso? Nem eu.