Em 'Medida Provisória', Lázaro Ramos faz boa estreia na direção

Filme que estreia nesta quinta-feira (14) é baseado na peça Namíbia, Não!

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  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de abril de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

Há pouco mais de onze anos, estreava na Sala do Coro do TCA a peça Namíbia, Não!, escrita pelo baiano Aldri Anunciação, que estrelava a montagem ao lado de Flávio Bauraqui. O encarregado de dirigir era Lázaro Ramos, que logo se interessou em levar a história para os cinemas.

Mas, para levar às telas, Lázaro pretendia entregar a história a um diretor já experiente. Apresentou a proposta a alguns, que recusaram. Até que o próprio Lázaro resolveu encarar a empreitada, que chega hoje aos cinemas do país, com outro nome: Medida Provisória, um longa distópico sobre preconceito e conflitos raciais.

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O filme marca a estreia do experiente ator baiano na direção, função que ele havia cumprido apenas num documentário, Bando, Um Filme De, sobre o Bando de Teatro Olodum, que o revelou como ator. Mas ali, Lázaro dividia a direção com Thiago Gomes. Agora, resolveu viver a experiência solo. Para isso, passou mais de um ano estudando cinema, em aulas particulares.

Ele diz que, quando decidiu encarar a direção, passou a chegar mais cedo nos sets dos filmes em participava como ator. "Fazia isso pra ver as coisas que não costumava ver antes de decidir dirigir. Chegava mais cedo pra investigar. Mas vi que isso não ia bastar. Então, fui estudar paleta de cores, lentes, enquadramento...". Lázaro Ramos no set E o resultado é uma estreia bastante satisfatória e promissora, numa mistura de drama, thriller e até uns momentos cômicos, apesar do tema bastante pesado e de alguns momentos até violentos. Qualquer semelhança com a receita de Jordan Peele - diretor de Corra e Nós - não é mera coincidência, como assume o próprio Lázaro: "O filme bebe de algumas fontes e Jordan Peele é uma delas".

Medida Provisória se passa num futuro distópico, quando o governo brasileiro, alegando ser uma forma de "reparar" a escravidão, determina que os cidadãos negros serão levados de volta à África e, para isso, os cidadãos poderão ser rendidos à força. Mas, para não caracterizar invasão a domicílio, as capturas só poderão ocorrer nas ruas.

O advogado Antônio (Alfred Enoch) e o jornalista André (Seu Jorge) se refugiam então no apartamento onde vivem. Mas Capitu (Taís Araújo), namorada de Antônio, está na rua e não consegue retornar. Agora, tem que se salvar e fugir da polícia. É aí que ela encontra um afrobunker, uma espécie de quilombo contemporâneo onde os negros se encontram para se organizar em resistência à medida provisória.

Seu Jorge encontra o tom certo para seu personagem, em uma das suas melhores performances. Embora muito firme em sua luta contra o racismo, André tem momentos em que lida com certo sarcasmo e ironia com a questão.

Lázaro explica por que optou por um filme que transitasse entre vários gêneros, incluindo até o romance: "O filme tem entretenimento e humor para a gente se afeiçoar aos personagens. Tem cenas que parecem de novela, com melodrama, porque essa linguagem é muito consumida no Brasil e é entendida aqui".

O filme também transita entre o pacifismo e a violência como possíveis soluções para as questões raciais. O autor do texto, Aldri, que também participa do filme como ator, se diz pacifista: "Sou pacifista. Mas sou agressivo se você pisa num lugar que vai no meu limite. Não julgo os colegas que fazem de forma mais 'forte' nem aqueles que fazem de forma mais suave: os dois estão corretos".

Alfred Enoch, que interpreta Antônio, nasceu na Inglaterra e é filho de uma brasileira. Atua no teatro e foi o bruxinho Dino Thomas na franquia Harry Potter. O ator estava no Brasil em 2017, quando soube por uma amiga que Lázaro queria lhe mandar o roteiro para lhe propor atuar. "Eu li o roteiro, achei muito bom, divertido e fui pesquisar sobre Lázaro. Cheguei a pensar: 'tem tanto ator bom no Brasil e o Lázaro conhece todo mundo. Por que ele vai me chamar para fazer esse filme?". Taís Araújo e Alfred Enoch em cena do filme Mas Alfred se saiu muito bem na missão e o idioma, que seria uma barreira, é muito bem dominado por ele. O sotaque é quase imperceptível, graças ao pacto que fez com a mãe, de se comunicar com ela em português. Isso, segundo o ator, é também uma maneira de reforçar sua "brasilidade". O sotaque muito leve também se deve ao tempo que viveu em Salvador, por cerca de um ano, ainda criança.

Lázaro Ramos, quando esteve em Salvador com a equipe de Medida Provisória no mês passado, fez um pedido, que o repórter faz questão de reproduzir: "Assista ao filme primeira semana nos cinemas, porque a gente vai enfrentar um filme grande, que não vou dar o nome, pra não divulgá-lo. Vai estrear com a gente e na semana seguinte estreia outro filme, então a gente perde o boca a boca".

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