Em reconstituição, tia aponta PM como responsável por matar menino de 9 anos

'Atirou do carro mesmo', diz ela sobre a policial. Caso foi no Vale das Pedrinhas, em março

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de julho de 2021 às 11:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta/Divulgação

Uma policial militar foi apontada como responsável pelo disparo que matou o menino Ryan Andrew Pereira Tourinho Nascimento, de 9 anos,durante ação policial no Vale das Pedrinhas em março deste ano. Uma das testemunhas do caso, Tatiana dos Santos de Jesus, tia de Ryan, reconheceu ao todo quatro dos 10 PMs envolvidos no caso durante a reconstituição da morte do garoto.

“Ela desceu do carro e a equipe toda começou a proteger ela, mas ela mostrava só a metade do rosto. No dia, lá no HGE, quando o médico deu a notícia que Ryan veio a óbito, ela botou a mão na cabeça. Eu estava lá e vi. Lá no Vale, eu vi quando o meu sobrinho brincava com um amigo e a viatura parou em frente ao beco. Os policiais disseram que viram alguém correndo no fundo do beco, mas não havia ninguém.  Ela atirou de dentro do carro mesmo. Ela estava no banco da frente. Atingiu meu sobrinho ainda brincando com outro menino", diz Tatiana. 

A tia ainda afirma que a policial teve descaso na hora de dar socorro à criança, o que teria feito a contragosto. "Quando Ryan estava no chão, a gente pediu para ela socorrer, mas ela disse, ‘eu não vou sujar a farda’. Isso foi o que revoltou a gente. Despois de a gente implorar muito, ela pediu aos três policiais que estavam com ela, os parceiros, os comparsas, para pegarem o menino. Um puxou pelo braço e outro pela mão e o outro pelas pernas e jogaram Ryan no fundo e saíram arrastando a viatura", afirma. "Na hora, a gente ia pra cima da viatura, mas um deles disse: ‘se vocês aproximarem a gente vai pipocar mais gente’’

A reconstituição começou às 19h30 da quinta-feira (22), com a chegada de acusados e testemunhas, além dos peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), representantes da Corregedoria da Polícia Militar (PM), Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) e o movimento Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, quem vem prestando assistência às famílias do Complexo do Nordeste que tiveram jovens mortos em ações policiais. A simulação dos fatos varou a madrugada. Primeiro foi a versão dos policiais, que começou às 20h15 e finalizou pouco depois da meia noite. Por volta da 12h30 foi encenada a versão das testemunhas. Ruas da região foram isoladas para realização da reconstituição.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que reconstituição foi um procedimento realizado pelo DPT. “ Da parte da Polícia Civil, esse caso é investigado pela 1ª DH/Atlântico que já realizou diligências, além das oitivas de testemunhas e outros envolvidos no caso. Detalhes da apuração não estão sendo divulgados”, diz nota. 

A reportagem procurou a PM, o DPT, a DPE/BA e Minstério Público (MP), mas até o momento não obteve nenhuma resposta.

Morte de Ryan Ryan morreu depois de ser baleado na noite de uma sexta-feira, 26 de março, no Vale das Pedrinhas. A Polícia Militar afirmou que o garoto foi baleado durante uma troca de tiros entre policias e um grupo armado.

Familiares contaram que Ryan estava brincando na Rua Teodoro Sampaio quando os PMs já chegaram atirando. Atingido no braço e no tórax, ele chegou a ser socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. (Foto: Reprodução) Moradores da comunidade fizeram protesto no dia seguinte pedindo por Justiça. A PM divulgou nota afirmando que uma equipe da 40ª Companhia Independente de Polícia Militar fazia ações de policiamento ostensiva quando foi recebida a tiros na Rua do Gás, reagindo em seguida.

Quando os disparos pararam, a PM viu a criança ferida no chão e prestou socorro, afirmou a corporação na época, afirmando que o caso seria levado à Corregedoria.