Em ritual que se repete há quase dois séculos, fogo simbólico chega a Pirajá

Cerimônia integra comemorações do 2 de Julho

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  • Gil Santos

Publicado em 1 de julho de 2019 às 21:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

No princípio eram só algumas casinhas e uma estrada. Pirajá era a BR-324 do século XIX, ou seja, a principal estrada que ligava Salvador ao interior. A BR ainda nem existia na época e era por Pirajá que passavam os carregamentos com grãos, carne, frangos e outros produtos e animais que alimentavam quem morava na capital. E foi por lá também que, em 2 de Julho de 1823, o exército libertador chegou à capital, depois de colocar a tropa portuguesa para correr.

Nesta segunda-feira (1), quando o Fogo Simbólico - que representa a vitória na Batalha de Pirajá - chegou ao bairro, trazido de Cachoeira, no Recôncavo, município onde teve início a luta pela Independência da Bahia, uma multidão se aglomerou em frente ao panteão do general Labatut para registrar o momento em fotos e vídeos.

Os curiosos eram, em sua maioria, pessoas anônimas, mas que estavam pisando no mesmo solo onde lutaram figuras históricas, como Maria Quitéria e o corneteiro Lopes. A Batalha de Pirajá, ocorrida em 1823, foi tão importante para a história da Independência do Brasil, na Bahia, que foi imortalizada em poema por Castro Alves e em filmes séculos depois.

Segundo o historiador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jaime Nascimento, o conflito foi um dos mais sangrentos da Independência e deixou centenas de mortos dos dois lados do campo de batalha. “De um lado você tinha as tropas voluntárias lideradas pelo general Labatut, que foi enviado por D. Pedro I para comandar a luta pela Independência. Do outro, o general Madeira de Melo, que comandava os portugueses. E os dois tinham bons motivos para lutar”, afirmou.

O historiador explicou que a estratégia adotada pelos baianos foi bloquear as estradas e isolar Salvador para deixar os portugueses passando fome. Por isso, tanto Pirajá como a Ilha de Itaparica foram tomadas. Então, se para os brasileiros era tudo ou nada pela Independência, para os inimigos vencer a batalha e liberar a estrada era questão de sobrevivência.

A aposentada Jussara Passos, 58 anos, mora há 50 anos em Pirajá e levou os netos para assistir a chegada do fogo simbólico. "Tenho muito orgulho de ser brasileira e baiana e quero que meu netos aprendam sobre a importância dessa data", disse.

A chama chegou em Pirajá por volta das 16h30, trazida pela atleta de judô Vitória Ribeiro. O general Holthon representou o exército no hasteamento das bandeiras, enquanto o prefeito de Simões Filho, Diógenes Tolentino, representou o governo do estado. O vice-prefeito, Bruno Reis, também participou da cerimônia. Para ele, a celebração serve como reconhecimento histórico e para reafirmar valores e princípios morais do povo baiano.

"Esse é um momento muito importante para a nossa história que precisa sempre estar sendo enaltecido e lembrado. Esse é um dever cívico que todos nós temos, principalmente, para deixarmos exemplos para as gerações presentes e futuras", afirmou.

Já o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, destacou o tema da festa deste ano, Patrimônio do Povo. "É um tema em que a gente homenageia a população, o povo brasileiro, baiano e soteropolitano, porque foi graças a ele que o movimento aconteceu", disse. A cerimônia terminou com a colocação de flores no túmulo do general Labatut, dentro do Panteão.

Um fato curioso acompanha a história da Batalha de Pirajá. Segundo relatos, durante o conflito, o corneteiro das tropas brasileiras recebeu ordens do comandante para dar o toque de recuar, mas teria se atrapalhado e focado o sinal de ‘Cavalaria avançar e degolar’, e isso teria feito os portugueses recuarem.

O historiador Nascimento diz que esse episódio ocorrido há 197 anos - mais lenda do que verdade -, representa uma reviravolta nos destinos da guerra para os baianos.  

"A gente ganhou (a guerra) porque baiano é retado. Não sei se essa história da corneta é verdadeira, mas o que importa é que eles fugiram, e fim de papo", afirmou o vendedor Ícaro Lima, 24 anos.

Confira a programação desta terça do 2 de Julho:

Cortejo

6h - Alvorada com queima de fogos no Largo da Lapinha

7h - Concentração para o cortejo, na Lapinha

9h - Saída do desfile

11h30 - Previsão de chegada do cortejo à Praça Municipal

15h - Começo da segunda parte do cortejo, da Praça Municipal até o Campo Grande.

15h30 - Cerimônia Cívica no 2º Distrito Naval

16h15 - Previsão de chegada dos carros do Caboclo e da Cabocla, e das Autoridades, ao Campo Grande.

17h - Acendimento da Pira do Fogo Simbólico pelo nadador olímpico   Edvaldo Valério

Filarmônicas

*Das 18h às 20h - 28º Encontro de Filarmônicas, no Campo Grande. Começa com  o Coral e Filarmônica da Escola Técnica São Joaquim e Filarmônica Ambiental de Camaçari. Em seguida, se apresentam as filarmônicas Lyra Ceciliana, de Cachoeira; 9 de Maio e João Dourado; Lyra Popular, de Belmonte; e a Oficina de Frevos e Dobrados, que se apresentará com uma participação especial de Juliana Ribeiro.