Em sua construção, Paralela era para desafogar avenida Octávio Mangabeira, mas hoje é insuficiente

Em 1979, um estudo de tráfego encomendado a uma consultoria inglesa mostrou a necessidade de mais pistas

Publicado em 31 de março de 2014 às 09:25

- Atualizado há um ano

Conta-se que nos idos de 1970, o então governador Luiz Viana Filho ficou preso num enorme engarrafamento na orla de Salvador. Provavelmente nada que se comparasse ao atual trânsito da Avenida ACM, às 18h de um dia de semana, mas foi o suficiente para ele telefonar irritadíssimo para direção do Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), exigindo uma via alternativa para desafogar o trânsito da Octávio Mangabeira. Ou melhor, uma via paralela à orla.  

E assim a Avenida Paralela, que leva o nome do antigo governador, foi concebida. Essa é a versão que circulava nos corredores das repartições públicas da época, se recorda o urbanista Armando Branco, hoje professor de Planejamento Urbano da Unifacs. Na época, ele trabalhava como chefe da Engenharia de Tráfego do Detran e participou de toda a execução da obra. “No início era uma pista só, de mão dupla. No final de semana, quando tinha um fluxo maior de pessoas indo à praia, virava sentido único: os carros seguiam pela orla no sentido Itapuã, e a volta para casa era pela Paralela”, lembra Branco. Segundo ele, a via ficou operando desta forma entre 1972 e 1975 (quando o governador já era Antônio Carlos Magalhães), até que se tornou insuficiente para o fluxo. 

“Nos finais de semana a ida para a praia começou a ficar congestionada de novo, então decidimos ampliar. Foram feitas mais duas faixas, aí ficaram duas indo e duas vindo”. E ela continuou crescendo. Em 1979, um estudo de tráfego encomendado a uma consultoria inglesa mostrou a necessidade de mais pistas: quatro de cada lado. Naquela época, a mesma  consultoria já havia previsto que o modelo não suportaria o fluxo de carros a longo prazo, e que, até o ano 2000 seria preciso implantar um metrô. “Hoje a Paralela foi redimensionada para cinco faixas mais estreitas, mas isso ainda é insuficiente”, conclui o urbanista. Máquinas dão início às obras da avenida Paralela, na década de 70. Pensada para resolver os engarrafamentos na Orla, nos finais de semana, foram construídas só duas pistas (Foto: Arquivo Correio)Avenidas de valeNa mesma época da construção da Paralela, na gestão anterior, foram implantadas as avenidas de vale. “São as avenidas que estão situadas ao longo dos rios, elas acompanham o curso dos rios”, explica o professor Armando Branco. A primeira a ser construída foi a Mário Leal Ferreira, mais conhecida como Bonocô. Depois veio a ACM, a Garibaldi e a Vasco da Gama. “Essa (a Vasco) era conhecida como Rio Vermelho de Baixo. Por lá passava uma linha de trem, em um sentido só”, se recorda. A última das avenidas de vale foi a Juracy Magalhães Júnior, construída já no governo de Roberto Santos (1975/1979). 

E pronto. De lá para cá, Salvador não passou por mais nenhuma grande obra de mobilidade urbana. Mas o número de carros não parou de aumentar. Segundo o IBGE, a frota mais que dobrou entre 2001 e 2012: passou de 344.010 para 718.752, um crescimento de 108,9%. A Paralela, que praticamente só via carros no final de semana, passou a receber 240 mil veículos por dia, ou 28% da frota, segundo estimativas da Conder. O resultado desta conta é o que se vê nas ruas todos os dias, no caminho para a escola e para o trabalho.