'Emagreci 10 kg e tenho sossego': histórias de quem trocou Salvador pelo Litoral Norte

Região se torna opção de vida com qualidade mesmo durante uma pandemia

Publicado em 24 de julho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Menos de uma hora de viagem separava  a família da vida dos sonhos. Desde março do ano passado, o apartamento na cidade grande ficou pequeno, por mais conforto que oferecesse. O elevador tornou-se motivo de preocupação. Essa descoberta gerou uma busca por sol, pé na areia e vida ao ar livre para algumas centenas de milhares de pessoas. E é bem possível que poucas histórias resumam tão bem esse processo quanto a de Mariana Colombini, 40 anos, professora de yoga e confeiteira.

“Estamos morando na Praia do Forte desde setembro de 2020 e trabalho aqui na região desde que cheguei”, responde, pelo aplicativo de mensagens, o contato inicial. Há três anos, o marido, arquiteto, fazia diariamente o trajeto entre Villas do Atlântico e Itacimirim. Mesmo antes da pandemia do coronavírus, as ofertas de trabalho que surgiam para ele eram cada vez mais em direção ao Norte.

Confira também o episódio especial do podcast O Que a Bahia Quer Saber sobre o 'boom' do Litoral Norte! Por que tantas famílias estão migrando para a região?

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Clique aqui e leia mais sobre o Boom do Litoral Norte   Mariana tinha um café em Villas, aberto em outubro de 2019. Em março de 2020, teve que fechar. “Eu fiquei bem mal, tinha uma série de despesas que estava pagando ainda relacionadas à abertura do negócio, aí uns amigos que já moravam na Praia do Forte chamaram a gente para passar uns dias”, lembra. Os benditos amigos fizeram uma campanha para convencê-la a permanecer, mostrando que tinha boas oportunidades para ela lá e escola de qualidade para a filhinha de 5 anos. “Resolvemos criar coragem e vir, posso dizer que foi a melhor decisão que a gente tomou. Meu marido trabalha a 5 quilômetros de casa, vai e volta tranquilamente, sem o risco da estrada. Minha filha de 5 anos estava presa dentro de um apartamento, que é um espaço pequeno. Hoje ela é solta, vai para a praia, tem os amiguinhos e eu dou aulas e trabalho com confeitaria. Graças a Deus, não falta trabalho”, comemora. Com a pequena estudando, ela explica que está com mais tempo disponível para desenvolver o seu trabalho, “agarrando todas as oportunidades”, ressalta. Muitas delas são relacionadas a pessoas que tiveram a mesma ideia da família de Mariana. Uma parte significativa da clientela que ela conquistou nos últimos 10 meses é composta por pessoas que deixaram Salvador, ou mesmo outras regiões do Brasil, para viver em locais que antes eram vistos como boas opções para feriadões, ou, no máximo, temporadas. “Meus alunos e clientes se dividem entre moradores novos e antigos da região. Atendo, também, hóspedes de hotéis bem como pessoas que têm casas por aqui e passam apenas finais de semana”, explica.  Ela e a família, com certeza,  irão permanecer. Já compraram um terreno na localidade de Aruá, do outro lado da Linha Verde, em frente à Praia do Forte, e começam a construir em janeiro próximo. “Vamos ficar por aqui. Meu marido não tem previsão de trabalho para os lados de Villas, ou mesmo de Salvador, porque todos os projetos de construção em que ele trabalha estão por aqui. São anos e anos de obras”, projeta. 

Além do ambiente e estrutura favorável, Mariana destaca um aspecto social que faz toda a diferença para ela. “Nós nos sentimentos muito seguros aqui, então a qualidade de vida melhorou 100%”, diz. 

Pausa na vida urbana  A analista de sistemas Roseli Luccas de Oliveira, 51 anos, conta que essa coisa de ficar muito tempo em contato com a natureza, longe do ambiente urbano, nunca foi a “praia” dela. A casa que possui já há  mais ou menos dez anos em Itacimirim sempre foi utilizada apenas no verão e em um ou outro final de semana. Paulistana de nascimento, sempre gostou mesmo da cidade. Em Salvador, seu habitat era o Rio Vermelho. Isso até a pandemia chegar. 

Em 2016, mesmo com a aposentadoria, a brisa do mar, o som das águas, os pés na areia e o viver num ritmo diferente continuava longe de ser uma opção, lembra. “Me aposentei, mas mesmo assim tinha uma série de compromissos em Salvador. Até a pandemia, o máximo que eu tinha passado aqui foram 10 dias direto”, conta.  “Fim de ano, o pessoal vinha para cá, então era mais nesta época que usava esta casa”. 

Veio da pandemia e Roseli se manteve fiel aos prédios e avenidas. Fez planos de pegar a Linha Verde, ir a Itacimirim, passar o fim de semana e retornar. “Eu sou muito urbana, adoro o mar, mas sou paulistana, nasci em São Paulo, minha vida sempre foi cidade. Eu não me via morando em outro lugar que não fosse uma cidade grande”, diz.  A partir do fim de semana surgiu a comparação entre ficar trancada em um apartamento ou na beira do mar. Resultado: “Vim no dia 30 de abril e só voltei para Salvador em dezembro. Mesmo assim porque precisei de um atendimento de saúde”. 

Segundo ela, o conceito de segunda moradia acabou se modificando. “Até o final da pandemia, pelo menos, vou viver aqui. Depois vou verificar o que vou fazer. Salvador hoje fica como um apoio para médico ou algo do tipo. A minha casa agora é aqui”, explica. Roseli diz  que a mudança foi sustentada por uma transformação na oferta de diversos serviços essenciais. O principal deles foi a internet, mas não apenas ela. Hoje, consegue ter conectividade digital com uma velocidade maior do que a dispunha na cidade grande. “Decidi ter aqui o mesmo conforto que eu tenho em Salvador”.  A paulistana  Roseli em sua casa em Itacimirim: "Salvador hoje fica como um apoio" (Foto: Arisson Marinho) Ela lembra que a ausência de grandes supermercados já foi um problema no passado, mas hoje não. A atividade física, que ela ama fazer, também não foi impedimento. O calçadão, ao lado de carros apressados, deu lugar à areia da praia.  São 9 quilômetros de areia deserta durante a semana.“Emagreci dez quilos aqui. Me exercitava no Rio Vermelho, mas é diferente agora. Quando eu cheguei, me encantei porque nunca tinha a água tão límpida”, diz alguém que se reconhecia como “pouco acostumada à natureza” ‘A gente queria voltar a pisar no chão, superar o medo’ A família da advogada Flávia Ucknonn, 40 anos, entendeu que precisava ter uma alternativa ao apartamento. Ela, o marido e os dois filhos perceberam que perderam qualidade de vida confinados no espaço. “É interessante porque o apartamento sempre nos serviu muito bem até a pandemia. Foi quando notamos que é um espaço maravilhoso para dormir, mas não para viver”, explica. “Minha filha tem 16 anos e o pequeno, oito. A gente sentiu a necessidade de um espaço de lazer para eles”, lembra. “O apartamento não incomodava antes. Não tinha essa sensação de confinamento, mas tendo que ficar lá o tempo inteiro e com criança é muito difícil. A gente não quer que fique limitada aos eletrônicos, mas dentro daquele espaço pequeno, vai fazer o quê?”, questiona. Desde então, a família iniciou uma busca por um lugar ao sol. “Fomos descendo o Litoral Norte, até que paramos em Imbassaí. Já conhecíamos Guarajuba e Praia do Forte, mas foi lá onde encontramos o que a gente buscava”, explica. “Encontramos um village em um condomínio relativamente novo, que era aquilo que a gente queria”, diz. 

“Foi um respiro, uma sensação de alívio. De voltar a viver um pouquinho porque a gente queria voltar a pisar no chão, superar o medo de pegar o elevador para subir no prédio”, ressalta. “Meu filho fica solto dentro do condomínio”. 

 Atualmente, a família se divide entre Salvador o Litoral Norte e quando está na cidade oferece  o imóvel para aluguel através de um aplicativo. Segundo Flávia, a demanda pela hospedagem está bastante aquecida e ajuda, inclusive, no pagamento do imóvel. 

De acordo com  ela, ainda não aconteceu uma mudança definitiva para Imbassaí  única e exclusivamente por conta da educação dos filhos. “O lado de lá já está totalmente estruturado. Minha vida profissional é quase toda em Camaçari. Meu marido trabalha na Petrobras, o ônibus faz o deslocamento sem problema nenhum”, destaca. Quando precisou atuar em home office, a internet local respondeu bem.

O Boom do Litoral Norte é uma realização do jornal Correio com o patrocínio do Iberostar e da Prima Empreendimentos.