Empreendedores baianos conseguem incrementar vendas mesmo com crise

Pesquisa do Sebrae aponta crescimento ligado ao uso de atendimento remoto

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 4 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

O momento de crise causado pela necessidade das medidas de isolamento social impactou a realidade de diversos empreendedores. Apesar da redução significativa de faturamento da maioria dos negócios, houve aqueles para quem a quarentena representou um incremento nas vendas. Segundo pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), estima-se que 400 mil empresas registraram aumento médio de 47% na receita.

O aumento, no entanto, acontece para uma minoria dos empresários, já que 88% dos entrevistados experimentaram redução nos números. Na Bahia, o cenário não é diferente. A maioria dos empreendedores (85%) perdeu com a crise. Os que experimentaram um crescimento nas vendas, porém, percebem uma melhora de 31,2%.

A maior responsável pelos casos de sucesso - ou pelo menos de manutenção dos negócios em funcionamento - é a adaptação do atendimento para a modalidade online, ou de delivery. A mesma pesquisa aponta que 49% tem seu negócio funcionando de forma remota - sendo que 20% destes começaram a atender a distância após o início do isolamento social. Entre os setores que melhor se adaptaram está o de alimentação: marmitas, refeições congeladas e até frutas e verduras. 

Uma dessas empresas é a Temperos da Cinha (@temperosdacinha). Negócio familiar, gerido por mãe e filha, a empresa costumava participar de feiras gastronômicas pela cidade. Por mês, a presença em duas ou três feiras garantia a fonte de sustento das duas. “Como as feiras foram suspensas ficamos nos perguntando como íamos fazer para manter a nossa única fonte de renda, E veio a ideia de fazer as marmitas e estar presentes nas redes sociais”, conta Paula Bandeira, que ajuda a mãe no estabelecimento. 

A mudança precisou ser grande - inclusive no cardápio - mas foi um sucesso. Hoje vendendo marmitas e refeições congeladas chegam a faturar dez vezes mais do que rendiam as feiras. “Já deu para começar a investir na infraestrutura da nossa cozinha, com novos equipamentos. Estamos pensando em futuramente entrar nos aplicativos de entrega”, planeja Paula.  Mãe e filha adaptaram negócio de quentinhas e passaram a faturar 10 vezes mais com quarentena (Foto: Divulgação) A modificação nos negócios - que são operados principalmente através de troca de mensagens e das redes sociais - deve permanecer depois que o isolamento acabar. “A gente acredita que depois que tudo isso passar possa diminuir um pouco a demanda de delivery, até porque as pessoas vão voltar para a rotina normal. Então devemos voltar para as feiras, mas com certeza mantendo a opção do delivery, que a gente percebe que gera menos custos, precisa de menos funcionários”.

Pra ficar

A manutenção das mudanças depois que a crise passar é uma realidade que deve acontecer para vários dos empreendedores e também para quem consome. “Alguns desses novos  hábitos de compra serão mantidos, pela comodidade, confiança e conforto que tem se experimentado agora. Naturalmente, serão hábitos incorporados ao dia a dia das pessoas. São mudanças que vinham acontecendo, nessa forma de consumir, mas que a pandemia e o isolamento forçaram uma aceleração”, explica Isabel Ribeiro, gerente da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia

Segundo ela, as mudanças persistem porque os próprios empreendedores acabaram em contato com uma nova possibilidade de negócio. “Quem se adaptou começou a incorporar uma nova atividade que não era a sua tradicional. Esses empreendedores perceberam nisso uma oportunidade de agregar um novo modelo de negócio ao seu modelo antigo”, completa Isabel. Como Paula,71% dos entrevistados baianos pretendem manter as formas de atendimento online no negócio mesmo depois da reabertura do comércio.       Para a empreendedora Carol Athayde, a mudança será temporária. É que no caso da Dona Flor Acessórios (@acessoriosdonaflor), foi preciso modificar o produto. No lugar de tiaras, laços e enfeites de cabelo entraram as máscaras de pano tão necessárias ao momento. “Continuo com os acessórios mas a procura caiu muito. Mesmo na páscoa que é um período que geralmente a procura é grande esse ano foi quase nula, Muito material que eu comprei já vai ficar guardado para o ano que vem”, conta ela.

Depois da mudança o crescimento foi enorme. Hoje, o faturamento de um dia de produção das máscaras chega a R$ 1 mil. Com os acessórios um mês inteiro de vendas boas rendia R$ 5 mil. “Hoje mudei até a forma de divulgar para focar nas máscaras. Tem dias que chegam mais de 300 pedidos”, conta ela, que tem nos produtos antigos menos de 5% dos atuais pedidos.  

Dificuldades 

Apesar dos pontos positivos, a adaptação para a venda remota gerou também algumas dificuldades para quem tem que gerir seu próprio negócio. O levantamento do Sebrae elencou entre as principais questões de dificuldade a falta de estrutura e logística, de aparato tecnológico adequado além da adequação dos produtos a entrega.  

“Existe uma diferença entre você ter um e-commerce, uma loja virtual, que realmente funcione pela internet, e você ter um estabelecimento físico que, forçado pela crise, precisa se adaptar, então algumas dificuldades são naturais”, acredita Isabel. “A gente teve uma dificuldade, se bateu um pouco no início. Se organizar para implementar um delivery, e não é fácil e é preciso pensar em todos os detalhes para adaptar”, concorda a empresária Renata Magalhães, da Cave Queijos (@cavequeijos) Queijos viraram opção de presemte em kits montados na quarentena (Foto: Divulgação)  A adaptação para o delivery veio com a determinação de fechamento do comércio. Hoje, as novas formas de venda conseguem representar uma manutenção de 60% da receita original. “A gente tinha um movimento grande de quem ia ao estabelecimento para usar o wine bar, e a gente queria que as pessoas soubessem que a gente vende também o queijo. Com o delivery as pessoas passaram a conhecer também essa venda dos queijos”, detalha ela. 

Apesar da queda no faturamento, as novas modalidades são bem vistas pela empresária e devem seguir depois da retomada presencial. Além das entregas, a loja criou uma nova forma de vender e montaram kits com os produtos para virarem opções de presente.  “Os kits a gente criou como uma oportunidade de presente, que diminuiu com os shoppings fechados e acabou sendo um sucesso como essa opção. Com certeza tudo isso mudou o negócio da gente e mudou de vez, a gente com certeza vai continuar com essas novas modalidades. Claro que queremos ver nossa casa cheia de novo mas isso vai existir junto com essas novas formas ”, finaliza. 

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco