Empresa baiana produz minérios do futuro com sustentabilidade

Mineradora desenvolveu tecnologia para extrai terras raras do rejeito de quartzo

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  • Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2022 às 05:00

. Crédito: Reprodução

A tecnologia desenvolvida por uma mineradora baiana vai permitir o uso do material de rejeito da mineração de quartzo para a produção de terras raras, que servem de matérias-primas para produtos de tecnologia. Além de colocar a Bahia em um seleto grupo de regiões do mundo em que as substâncias são encontradas, o trabalho da Mineradora Tabuleiro permite a produção de maneira sustentável e com reduzido impacto ambiental. 

“Na realidade, estamos dando uma destinação para substâncias que ficaram acumuladas e sem nenhum outro uso após a sua extração da natureza”, explicou o diretor da Mineradora Tabuleiro, Sandro Santos, ao jornalista Donaldson Gomes, durante o programa Política & Economia veiculado ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas). Focada na busca por produtos especiais e/ou críticos, a empresa se posiciona como uma “mineradora do futuro”. 

Segundo ele, além da busca pelos novos minerais, cresce nas empresas a busca por um processo de desenvolvimento da transformação mineral, como forma de valorizar as substâncias encontradas no subsolo do estado. “Muitas vezes o minério é extraído no Brasil, é levado para o exterior, onde ele passa por uma usinagem para determinada aplicação e retorna por um valor multiplicado em muitas vezes”, explica. 

Santos acredita que muita coisa que hoje é feita fora pode ser desenvolvida internamente e cita como exemplo o projeto que a Tabuleiro desenvolve para a separação de terras raras. Em escala laboratorial, a empresa já conseguiu realizar essa separação de maneira limpa, com impacto ambiental reduzido. “Os resultados que nós temos já demonstram a viabilidade comercial para fazermos isso aqui na Bahia”, diz. 

Alguns produtos que podem ser produzidos na Bahia são alvos de acirradas disputas comerciais entre as grandes potências mundiais, explica o empresário. “Hoje, nesta guerra comercial entre China e Estados Unidos, muitas substâncias são bloqueadas, não se transferem nem os produtos nem as tecnologias”, diz. Hoje, calcula, a China possui 95% da produção mundial de terras raras. “Muitos países precisam adquirir independência na produção destes materiais”. 

Outro produto que é alvo da atuação da empresa é o potássio, que se tornou escasso após o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, lembra. “É um produto que está passando pelo mesmo problema de redução de ofertas, mas o Brasil também tem a possibilidade de produzir este potássio e se tornar independente”, acredita. 

O projeto terras raras faz parte de uma busca por uma atuação menos impactante ambientalmente, explica o empresário. “Nós encontramos as terras raras em rejeitos, que é extraído e normalmente está cobrindo áreas secas, vai passar a ter um aproveitamento e deixará de agredir a natureza”, diz. 

Segundo ele, além da possibilidade de extração em áreas da Mineradora Tabuleiro, a tecnologia pode ser utilizada por outras mineradoras que produzem minérios como ouro quartzo e cobre, entre outras. “É o mesmo tipo de rejeito”, diz. “Nós não pretendemos trancar o nosso processo e manter apenas para o nosso uso. Queremos oferecer algo que possa ter um uso geral e traga um retorno positivo ambientalmente falando para qualquer empresa que tenha esse rejeito amontoado em suas áreas. 

Ele diz que uma outra inovação de grande impacto ambiental que está sendo estudada pela empresa é a prospecção mineral por nanogeoquímica. Este processo, aponta, reduz a necessidade de sondagem do subsolo. “Essa tecnologia vai nos permitir reduzir em até 50% o volume de perfurações”, estima. 

Sandro Santos conta que a empresa passou a buscar o desenvolvimento de inovação no setor após enfrentar uma série de dificuldades para minerar. “As licenças, registros e títulos minerários são coisas que exigem muito tempo, bastante trabalho e investimentos, durante alguns anos. Existem projetos que levam até 10 anos para se tornarem realidade até o momento da extração”, afirma. Segundo ele, neste meio tempo, a empresa acabou conhecendo os institutos de inovação e desenvolvimento de tecnologia, como o Mackgraphe e o Senai Cimatec, e firmou parcerias. 

Apesar de ter servido para o desenvolvimento da empresa, o tempo de espera pelas autorizações necessárias para a mineração é avaliado como excessivamente longo pelo empreendedor. “Não se pode dizer que esperar de oito a dez ano para gestar um projeto do início até a produção é normal”, pondera. “Mas atualmente, quando se consegue iniciar a produção em oito anos, é um milagre, porque ocorre muita burocracia e por vezes os órgãos não estão adequados ou preparados para o tamanho e a quantidade de demandas existentes pelos mais diversos motivos”, aponta. 

Santos destaca a convicção de que a produção mineral da Bahia hoje, apesar do crescimento registrado nos últimos anos, ainda está bastante distante do potencial que a atividade pode atingir. “Ainda estamos muito aquém do que se pode produzir”, aponta.