Empresa demite mais de 200 terceirizados de limpeza da Ufba

Funcionários fizeram protesto na Reitoria, nesta segunda-feira (13)

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  • Thais Borges

Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 05:12

- Atualizado há um ano

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Depois de sete anos trabalhando na Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a auxiliar de serviços gerais Cleonice Bomfim, 46 anos, teve uma surpresa: foi demitida na semana passada. Funcionária da empresa terceirizada Liderança, responsável pela limpeza da universidade, Cleonice foi uma das centenas de dispensadas após o novo contrato firmado com a Ufba.

De acordo com os próprios funcionários, ao menos 240 pessoas foram desligadas entre segunda (6) e sexta-feira (10) da semana passada. “Recebi essa demissão como uma bomba em minha vida”, desabafou Cleonice. Ela participou de um protesto contra as demissões na manhã desta segunda-feira (13), na Reitoria da instituição, no Canela.

Em dezembro do ano passado, a empresa Liderança chegou a dar aviso prévio a todos os funcionários que trabalham na Ufba. Isso porque o contrato de prestação de serviços entre a empresa e a universidade chegaria ao fim. No entanto, uma nova licitação foi feita e vencida pela mesma empresa Liderança. Esse contrato, de acordo com a Ufba, entrou em vigor na sexta-feira."A gente vai entregar uma nota à Reitoria questionando as demissões e a nova metragem. Queremos entender qual foi o critério para as demissões, porque, em determinadas unidades, vão ficar apenas três funcionários. Acreditamos que eles tenham calculado a metragem pelo piso, mas os trabalhadores também limpam paredes, móveis. Queremos ver a possibilidade de reverter as demissões", explicou a professora Sandra Marinho, integrante do comitê de apoio aos terceirizados da Ufba, durante o protesto. Desde o ano passado, a Ufba tem enfrentado dificuldades com terceirizados. Em 2019, a universidade enfrentou pelo menos duas paralisações de vigilantes devido à falta de pagamento, além de ter reduzido o contrato de limpeza e encerrado o funcionamento de três bibliotecas aos fins de semana.

Durante o ano, o Ministério da Educação (MEC) contingenciou parte do orçamento das instituições federais de ensino. Esse valor chegou a ser liberado em outubro, porém, na ocasião, a Ufba foi uma das instituições que informaram que continuaria com medidas de economia de gastos.“As medidas continuam porque a situação que identificamos desde o início do ano é de defasagem orçamentária, ou seja, a Ufba tem uma necessidade a mais”, explicou o reitor da instituição, João Carlos Salles, em entrevista, na época.Mais da metade Cleonice soube que seria desligada na segunda-feira da semana passada.  Trabalhando na Escola de Nutrição há sete anos, ela era funcionária também da empresa anterior à Liderança. Quando a Liderança assumiu o contrato pela primeira vez, em 2014, os funcionários foram mantidos.“Sou a única pessoa na minha casa que tem renda. Sou separada e tenho um filho de 17 anos que ainda estuda. Quem paga todas as despesas sou eu, que sou diabética e estou quase ficando cega de um olho. Não sei se vou conseguir outro emprego”, contou, emocionada. Na Escola de Nutrição, trabalham oito auxiliares de serviços gerais terceirizados. Com o corte, cinco teriam sido demitidos e outras duas novas pessoas teriam sido contratadas.

Mãe de dois meninos – um de 10 e outro de 8 –, a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Santos, 34, foi demitida na quarta-feira (8). Ela trabalhava na Escola de Administração há quatro anos. Dos sete terceirizados lotados lá, quatro foram dispensados. Os ex-funcionários entregaram uma nota à Reitoria questionando as demissões (Foto: Tiago Caldas) “Foram quatro anos sem atestado, sem falta nenhuma, sem reclamação dos chefes. Eles não deram explicação. Só disseram que a Ufba estava reduzindo os custos. Ano passado, já tinham demitido alguns. Agora, vão ficar só três pessoas para quatro andares em um prédio que funciona de domingo a domingo, nos três turnos”, explicou.

Moradora do Lobato, além de ser responsável pelas contas básicas da família, Ana Paula ainda paga o financiamento de sua casa. “Ainda faltam 11 parcelas de R$ 500”.

Na Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, dos 14 terceirizados, restaram apenas três, segundo duas das auxiliares que foram demitidas.“A empresa (Liderança) ainda disse que a gente tinha que devolver o fardamento até sexta ou descontariam R$ 200 da rescisão. Fomos demitidos na base da ameaça”, disse a auxiliar de serviços gerais Rita Ribeiro, 40, que trabalhava na unidade há cinco anos.O auxiliar de serviços gerais Manoel de Jesus, 47, trabalhou na Ufba por 10 anos – desses, pouco mais de cinco anos no Pavilhão de Aulas da Federação (PAF) 6. Ele e outros sete colegas cuidavam do prédio com quatro andares. No entanto, na semana passada, cinco foram demitidos. “Ninguém esperava essa demissão depois que a empresa ganhou o contrato. Eu tenho mulher e um filho para criar”, desabafou.

No Museu de Arte Sacra, dos nove terceirizados, apenas três foram mantidos. Uma das dispensadas, a auxiliar de serviços gerais Maria de Fátima dos Santos, 58, estava prestes a se aposentar. “Faltavam apenas dois anos. A gente só recebeu a notícia da demissão na quinta-feira (9), então foi um baque. Eu já estava aqui na Ufba há oito anos”.

A quantidade de demitidos foi a mesma da Faculdade de Direito: de nove funcionários, ficaram três trabalhadores. “A gente não se preparou para isso. Não estou nem dormindo pensando nas contas. Tenho quatro filhos”, contou a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Lima, 36, que trabalhou quatro anos na Ufba.

Nenhum representante da empresa Liderança foi localizado pelo CORREIO. 

Em nota divulgada em seu site, a Ufba explicou que o contrato é regido por novos parâmetros de prestação do serviço, atendendo a alterações das normas de contratação previstas por uma Instrução Normativa (IN) de 2017. "Além da metragem das áreas a serem limpas, que já norteava a normativa do contrato anterior, a nova IN prevê, adicionalmente, diferenciação entre os tipos de uso e de piso de cada área atendida como critério para definição do cronograma de trabalho e dos quantitativos de mão-de-obra, equipamentos e insumos que a empresa contratada deverá fornecer", diz a instituição.

A Ufba afirma, ainda, que "a Administração Central continuará envidando todos os esforços possíveis para assegurar condições dignas de trabalho aos profissionais terceirizados da limpeza. A execução contratual será fiscalizada, a fim de que não haja redução do quadro de trabalhadores desproporcional ao serviço contratado, sobrecarga de atividades ou injustiças de qualquer natureza". A universidade não se pronunciou sobre as demissões.