Empresários relatam prejuízo de até R$ 5 mil com queda de redes sociais

Teve gente que deixou de vender 70% do que normalmente era vendido com o WhatsApp funcionando

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 6 de outubro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Imagina só você trabalhar vendendo marmitas pelo WhatsApp e, em pleno horário do almoço, o aplicativo de mensagens para de funcionar. Foi exatamente isso o que aconteceu na empresa de Lilian Lacerda, sócia da Marmitaria Salvador. “E logo na primeira segunda-feira do mês, quando a gente vende mais, normalmente, pois as pessoas estão com dinheiro na mão”, disse. Por causa da pane que atingiu Facebook, WhatsApp e Instagram na segunda-feira (4) durante cerca de sete horas, ela relata ter deixado de faturar, no mínimo, mais de R$ 5 mil.  

“Eu não tenho como lhe dizer com precisão, pois não vou considerar os clientes que não entraram em contato por já saberem do problema. Mas hoje (terça, 5) de manhã tinha 30 mensagens sem responder. Se todos esses tivessem pedido apenas o kit de 10 pratos, que custa R$ 169, nosso prejuízo saiu em mais de R$ 5 mil”, contou Lilian. É que, sem o WhatsApp, a empresa não conseguia receber novos pedidos e teve que encerrar o expediente. “Só com quem a gente estava conversando que ligamos para finalizar a compra e fizemos a entrega, mas não teve como receber pedidos novos. Apesar de termos o site, os pedidos sempre são enviados por mensagem de WhatsApp para ser confirmado. Tivemos que parar de vender”, lamenta.  A empresária Silvia Fernandes, dona da California Stuffed Pizza, também teve impactos significativos. Ela estima que deixou de faturar R$ 3,1 mil com a queda das redes sociais. “Eu trabalho com o serviço presencial, mas o foco é o delivery. Normalmente, eu não vendo menos que 30 pizzas numa segunda-feira, que para mim funciona quase como um domingo. Mas ontem só vendi oito unidades”, lamenta.  

Com a demora na normalização do serviço, Silvia chegou a pensar em fechar a pizzaria. “Alguns ainda ligavam para o fixo, mas era aquele caos. Tinha cliente que não tinha paciência de fazer todo o pedido por telefone, pois o cadastro já estava na rede social. Foi muito complicado mesmo”, diz. A situação de Silvia é pior, já que ela não abre a pizzaria às terças-feiras. “Ou seja, são dois dias praticamente sem faturamento”, conta.  

Mas houve também empresas que não funcionam nas segundas-feiras que foram impactadas. A Melt Burguer, por exemplo, já não ia fazer nenhuma venda ontem, mas deixou de fazer a propaganda voltada para terça-feira. “Sempre que a divulgação é menor, a venda é menor. Preparamos todo um projeto de divulgação para as promoções de hoje que não conseguimos tirar do papel. Eu estimo que as vendas sejam até 40% a menos por causa disso”, explica Michele Duran, dona da hamburgueria.  

Pequenos empresários também foram impactados  Não foram só as empresas de alimentos que tiveram prejuízos com a queda das redes sociais. A vendedora Denise Andrade, 38 anos, é Microempreendedora Individual (MEI) e atua no ramo dos cosméticos, bolsas, acessórios e joias. Para esta segunda-feira, a previsão era fechar pelo menos R$ 1,2 mil de negócios. Sem o WhatsApp, não foi possível.  

“Sem a rede social, eu fiquei doidinha. Corri para o Telegram, mas nem todo mundo tem. Ainda liguei para alguns clientes, mas que preferiram negociar apenas quando o WhatsApp voltasse. Então, meu trabalho literalmente parou”, diz a empreendedora, que reconhece a importância das redes sociais no seu trabalho. “Se elas não voltassem, teria que buscar uma alternativa, um outro aplicativo ou agendar horário presencial, como era antigamente”, projeta.  

Já Bárbara Luciana, 51, empreende dentro de sua própria casa para os vizinhos do condomínio Reserva das Plantas, localizado no Horto Bela Vista. De tarde, ela vende bolos. De noite, vende cuscuz. Como o WhatsApp ficou sem funcionar durante toda a tarde e início da noite, ela não conseguiu vender nenhum bolo e quase não vendeu cuscuz. Seu faturamento foi 70% menor do que é normalmente.  “Eu falei até que ia processar o WhatsApp, pois foi um dia inteiro sem produzir. Minhas vendas já sofrem impactos externos, pois hoje as pessoas não ficam mais só em casa e acabam também comprando na rua. E agora tem esse problema. Eu só consegui fazer uma venda às 20h, quando eu nem mais entrego, normalmente, pois as pessoas não costumam pedir esse horário”, lembra.  O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio) foram procurados, mas ambos não possuem dados do quanto foi o impacto na economia das empresas com a queda nas vendas.  “Não tem um número geral, pois depende muito do tipo de negócio e volume de vendas pelas redes sociais que cada empresa tem. É difícil calcular uma estimativa”, explica Marília Gonçalves, analista de Atendimento a Pequenos Negócios do Sebrae.  

“As empresas mais impactadas, geralmente, foram as pequenas, que utilizam as redes sociais para fazer seus negócios, pois não têm outros tipos de ferramentas. São empresas que usam a plataforma para fazer orçamentos, vendas, facilitar a comunicação com o cliente e a divulgação dos produtos”, relata. Para a analista, é preciso que o episódio sirva de lição para os empresários diversificarem sua presença no mundo digital.  

"Não pode ficar dependente de plataformas controladas por uma mesma empresa. Tem que buscar outros canais de comunicação, como o Telegram, Twitter e Tik Tok. Além disso, ter um site, um canal próprio, também é importante. Muitas informações dos clientes são concentradas nas redes sociais e não há um sistema de controle. Tem que ter uma forma de armazenar os dados que não dependa de uma empresa de fora para poder entrar em contato com eles”, defende.   

Sete em cada dez micro e pequenas empresas usam a internet para sobreviver à pandemia  Segundo uma pesquisa do Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), sete em cada dez micro e pequenos negócios atuavam nas redes sociais no início de 2021. Essas empresas utilizavam aplicativos ou outras plataformas para impulsionar as vendas. 84% dos empreendedores disseram usar o WhatsApp. Já o Instagram e Facebook são utilizados por cerca de 50% dos entrevistados. 

Embora não haja um levantamento atual que meça o impacto da queda das redes sociais, essa pesquisa demonstra o quanto as empresas são dependentes dessas ferramentas, o que foi potencializado durante a pandemia. Em todo o Brasil, há o relato de empreendedores que chegaram a perder até R$ 15 mil.  

“Com essa parada das ferramentas a gente estima que deixou de faturar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. Nós não sabemos o que fazer se continuar assim dessa forma, o quanto de prejuízo que pode acarretar ainda mais para a nossa empresa”, destacou o empresário mineiro Michell José Oliveira ao g1, ainda quando as redes sociais não tinham sido reestabelecidas. Ele tem uma fábrica de capas de bancos automotivos e trabalha com e-commerce em atacado e varejo. É através das redes sociais que é feita a divulgação do trabalho e atendimento dos clientes.