Encantando na janela: centenas de músicos do Neojiba levam alegria à vizinhança

Projeto Neojiba na Janela comemorou um ano da sede do grupo, o Parque do Queimado

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 10 de julho de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva

Vizinhos de quase dois mil artistas vivenciaram uma experiência diferente às 12h30 desta quinta-feira (9). O horário de almoço ganhou uma trilha sonora incomum para os baianos que residem em casas próximas às dos músicos dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia - Neojiba, em Salvador, Simões Filho, Jequié, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Teixeira de Freitas.

A ação, que fez Asa Branca, música eternizada por Luiz Gonzaga, ser tocada pelos jovens de 7 a 27 anos, marcou um ano da inauguração do Parque do Queimado, a primeira sede do projeto, localizada na Liberdade.

Um palco diferente, mas uma emoção parecida. Foi assim que Suanne Miranda, 12 anos, definiu a experiência de se apresentar no Neojiba na Janela. “Eu nunca tinha me apresentado apenas para familiares e vizinhos. E isso me deixou nervosa. Pode ser a minha casa, mas é um local incomum para apresentação, e deu aquele friozinho na barriga”, explica a menina, que faz parte do Neojiba há quatro anos.  

Fabiana Ferreira, 41, vizinha da família, comemorou a oportunidade. “Só tinha visto ela tocando na TV. Então, foi muito bom poder ver de perto uma coisa tão bonita. Fiquei até animada pra ir nas apresentações dela nos palcos”, contou. O momento também alegrou Pedro Vitor, 24, primo de Suanne, que incentiva  a evolução da menina. “Ela está tocando muito bem, mesmo estando nervosa. Fico muito feliz por vê-la crescendo”, disse.  Suanne Miranda, 12 anos, contou que ficou nervosa em tocar para família e amigos  (Foto: Marina Silva/CORREIO) A experiência também provocou nervosismo em Talita Freitas, 20, que ingressou no projeto há nove anos e já se apresentou em palcos nacionais e internacionais. “Estranhei um pouco, porque sempre toco no meu quarto e me apresentar da minha varanda para todo mundo que tá na rua foi algo muito novo. Mas foi uma experiência maravilhosa”, afirmou  a contrabaixista, que reside no Nordeste de Amaralina. 

O maestro Ricardo Castro, diretor e fundador do projeto, explicou o porquê da iniciativa. “O Neojiba na Janela surgiu como uma forma de comemorar e dar ênfase a importância da nossa sede, que demorou 12 anos para ser conquistada e que é um dos melhores equipamentos para formação musical do Brasil”, disse Ricardo, se referindo ao Parque do Queimado, que foi inaugurado em 9 de julho de 2019.

Monitor de iniciação musical no núcleo da Neojiba na Federação, Adermar Azevedo, 22,  falou de maneira similar à do diretor sobre a sede do projeto. “O Parque do Queimado se faz de suma importância para nós integrantes por comportar nossas necessidades, isto é, um ambiente climatizado, com uma boa acústica, que comporte todo um coro, bem como toda orquestra. É um local que nos proporciona um ambiente de excelência”, comentou Adermar, que está no projeto há quatro anos. 

Emoção no interior Alunos que integram os núcleos do projeto no interior ou viajaram para lá durante a pandemia também participaram da apresentação. Aléssia de Carvalho, 20, que é violoncelista e reside em Serrinha,  falou sobre como a apresentação serviu para matar a saudade dos palcos. “Reviver a experiência de me apresentar foi muito legal. A última vez que eu me apresentei foi em dezembro”, contou. 

Marcelle Ramaccotte, 24, contrabaixista e coordenadora do Núcleo de Prática Musical na Cidade Sol, em Jequié,  contou como foi a experiência por lá. “Fiquei muito ansiosa também por conta da preocupação dos integrantes daqui, que queriam tocar bem, independentemente do fato de estar em casa ou não, e manifestaram essa aflição”.  

O Neojiba na Janela também agradou aos vizinhos dos artistas do interior. Sandy Ribeiro, 18, vizinha de Marcelle, não conhecia o projeto e afirmou que a apresentação foi uma grata surpresa. “A experiência de assisti-la da minha varanda foi ótima. Eu até gravei a apresentação e postei no meu Instagram. Agora, quero procurar saber mais sobre o projeto, porque foi algo muito bonito e que fez bem à minha saúde mental em um momento como esse”. “Fiquei emocionada com a música. Achei lindo! Queria ouvir mais, porque foi perfeito”, completou Maria Conceição, 59, também vizinha de Marcelle. 

As comemorações não se encerraram com o fim das apresentações na janela. No início da noite, às 18h, aconteceu uma live comemorativa, com a presença de Ricardo castro e convidados, transmitida pelo Facebook do Neojiba, que ficará disponível após o seu fim. Alunos do Neojiba, de Salvador e outras cinco cidades, participaram da ação (Foto: Marina Silva)  O projeto O Neojiba foi fundado pelo pianista e maestro baiano Ricardo Castro em 2007. Antes de ter o Parque do Queimado como casa, o projeto, que gera integração social e o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade por meio da prática e do ensino musicais, teve o Teatro Castro Alves (TCA) como espaço para os ensaios das formações principais. Hoje, o TCA recebe apenas as apresentações principais do programa.

O projeto é mantido pelo Governo do Estado da Bahia e vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social. A gerência fica a cargo do Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música. Em 12 anos de atuação, o projeto atendeu, direta e indiretamente, mais de 10 mil crianças e jovens entre 6 e 29 anos. 

A instituição já recebeu o Prêmio Nelson Mandela, entregue pela União de Sociedades Espiritualistas, Filosóficas, Científicas e Religiosas (UNISOES) na categoria Projetos Socioculturais. Além disso, também revelou artistas premiados e reconhecido internacionalmente. Jonadabe Batista, 19, flautista que integra a Neojiba desde 2012, foi premiado na 5ª Competição Internacional de Flauta na cidade de Jastrzebie-Zdrój, na Polônia, em novembro de 2019. 

Ele foi o primeiro brasileiro a participar e ficar entre os primeiros colocados na competição. O baiano conseguiu o segundo lugar, numa disputa com mais 12 flautistas, todos europeus.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.