'Encontrar foi mais doloroso que procurar', diz mãe de jovem afogado em Jardim de Alah

Mesmo sem saber nadar, Marcos Vinícius tentou salvar amiga e morreu

Publicado em 11 de fevereiro de 2020 às 16:53

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução Foram quase dois dias de angústia para a diarista Rosenilda dos Santos, 46 anos. Na manhã desta terça-feira (11), por volta das 8h30, o corpo do filho dela, Marcos Vinícius Guimarães Santos, 23, finalmente foi encontrado. O jovem sumiu após entrar no mar do Jardim de Alah para salvar uma amiga que estava se afogando, na tarde do último domingo (9).

O corpo de Marcos Vinícius foi encontrado na praia da Pituba, na altura da Arena Aquática Salvador, e resgatado pela Coordenadoria de Salvamento Marítimo de Salvador (Salvamar), a cerca de 2 km de onde se afogou. Com a notícia, a mãe ficou dividida entre o alívio de poder enterrar o filho e a dor da confirmação da morte.“Esse processo de encontrar o corpo foi mais doloroso do que procurar, devido ao estado em que foi encontrado. Ele estava muito inchado e vai precisar de um caixão maior. Foi chocante ver meu filho assim”, disse.A família optou por não realizar um velório, por não ser possível abrir o caixão devido ao estado do corpo. Já o enterro estava previsto para ocorrer nesta quarta (12). 

Marcos tinha quatro irmãos e morava com a avó na Via Regional, em São Marcos. Cursava o nono ano do ensino fundamental e trabalhava como repositor em um mercado.

O rapaz não tinha filhos e deixa uma namorada de 21 anos, com quem se relacionava há quatro anos. “Eles eram muito unidos”, relatou Rosenilda.

Trabalhador Amigo do rapaz, Antônio Júnior, 36, comenta que o jovem era muito trabalhador. “Ele trabalhou para o meu irmão e deixava de ter folga caso precisassem dele no trabalho”, disse.

Todos que conheciam a vítima, segundo o amigo, ficaram chocados ao saber da morte por afogamento de Marcos. A bondade e a felicidade do jovem eram suas principais características.

Apesar do sofrimento de perder o amigo, Júnior diz que é um alívio encontrar o corpo de Marcos. “É um pouco mais reconfortante saber que a mãe vai poder enterrar o filho agora que o corpo foi encontrado”, afirmou.

O amigo relata ainda que, além de ser muito querido e de sempre querer ajudar, Marcos achava que era invencível e conseguiria fazer tudo sem se machucar. “Com essa história, dá para ver a pessoa que ele era. Mesmo sem saber nadar, ele se arriscou para ajudar a amiga. Ele era assim”, contou Júnior ao ressaltar a bondade da vítima.

Rubro-negro Marcos tinha planos de ir para a Fonte Nova no sábado (8), para acompanhar o clássico Ba-Vi. Apesar de ser torcedor do Vitória, ele pretendia ir ao estádio e curtir a partida na torcida do Bahia, já que o jogo teve torcida única.

Os planos ficaram para trás. O jovem desistiu depois de ser convencido por um amigo, que alertou para o risco de acontecer alguma confusão. No dia seguinte, para comemorar a vitória do time do coração, decidiu ir à praia, de onde não voltou mais.

Marcos chegou ao Jardim de Alah por volta das 10h. Lá, se divertiu com um grupo de amigos até cerca de 13h30, quando decidiu entrar no mar para ajudar uma amiga que estava se afogando. Ela foi socorrida por outros banhistas, enquanto ele sumiu. 

Segundo a mãe do jovem, essa foi a primeira vez que Marcos foi à praia do Jardim de Alah.

A Salvamar iniciou a busca pelo banhista no próprio domingo, mas não encontrou o corpo. Nesta terça, quando voltou ao local para mais um dia de buscas, a equipe se deparou com um pescador, que estava levando o corpo de volta para a praia.

“O corpo demora, em média, 24 horas para começar a boiar. Em alguns casos, ele fica preso e só boia depois de ser solto”, comentou o coordenador da Salvamar, Yuri Carlton.

Ele ressaltou ainda que os banhistas devem sempre procurar uma praia com salva-vidas e buscar informações sobre a situação do mar antes de entrar na água. “Essa parte da orla que fica fora da Baía de Todos-os-Santos requer muito cuidado. É necessário prestar atenção nas sinalizações, evitar ao máximo a profundidade e não desafiar o mar, pois as correntes marítimas são imprevisíveis”, aponta o coordenador.

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier