Engenheiro acusado de contratar equipe para furtar cabos de cobre presta depoimento

Jovem passou mais de 3h na delegacia e alegou inocência

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 2 de outubro de 2020 às 14:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O engenheiro Thailan Macedo compareceu na manhã desta sexta-feira (2) à 1ª Delegacia de Polícia Civil para prestar esclarecimentos sobre o caso do furto de fios de cobre na Rua Direita do Santo Antônio. Os operários que trabalharam na remoção dos cabos garantem que não faziam ideia de que o serviço era irregular e acusam Thailan de ter encomendado o serviço sem informar que se tratava de um furto. 

Thailan chegou à delegacia por volta das 10h e permaneceu até 13h30. O depoimento dele, concedido à delegada civil Rogéria Araújo, foi feito por videoconferência. Ele chegou ao local acompanhado do seu advogado, Lucas Araújo, e de Domingo Arjones, advogado da Pejota. Na saída, Thailan não quis falar com a imprensa, mas Lucas explicou que o engenheiro respondeu todas as perguntas feita pela delegada.  

 “Ele não contratou, nem recrutou pessoas ou máquinas, não forneceu equipamentos de proteção, muito menos uniforme. E digo mais: ele não forneceu nenhuma informação privilegiada para que houvesse a retirada desse material”, disse o advogado do acusado.  Quanto às mensagens divulgadas que mostram o contato de Thailan com os operários envolvidos, o advogado disse que elas mostram que o engenheiro tinha conhecimento dos fatos, por ser “importunado” pelas pessoas que retiraram o material. “As pessoas que queriam esse tipo de material buscavam ele diversas vezes. Ele tentou interferir para que isso fosse feito de um modo que não prejudicasse na produtividade da obra. Ele interferiu para que as pessoas se retirassem do local para que não gerasse mais prejuízo”, disse.   Lucas Araújo é o advogado que representa Thailan no caso (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O advogado também disse que os funcionários que retiraram os cabos procuraram justamente o Thailan - e não qualquer outro funcionário - por o engenheiro ser o responsável pela obra. “Ele não imaginou que tudo ia acontecer da forma como ocorreu. A repercussão que o caso tomou gerou prejuízo de ordem emocional ao rapaz. Ele nunca cometeu atos ilícitos. Está afastado da empresa, recolhido em sua residência”, disse Lucas. O CORREIO perguntou à Pejota se Thailan é mesmo o responsável pela obra, mas ainda não obteve reposta. 

Ainda segundo o representante de Thailan no caso, o jovem não tinha feito um acordo para receber 50% do lucro da venda do material. “Ele começou como estagiário e está na função de auxiliar de engenharia. A empresa não tem nenhuma responsabilidade da retirada desse material”, concluiu.  Thailan não quis dar nenhuma declaração (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Empresa    Já o advogado da Pejota, Domingo Arjones, deixou a delegacia pouco antes das 12h, enquanto o rapaz ainda prestava depoimento. Ele reforçou o que a empresa já tinha dito em nota, que não tem responsabilidade do ocorrido. "Vim para estar à disposição, esclarecer os fatos, como representante legal da empresa. Em momento nenhum a empresa contratou esse serviço, que foi feito por terceiros. Nós não sabemos quem são esses terceiros, cabe à polícia investigar", disse.  

O engenheiro é funcionário da Construtora Pejota, que prestou queixa da retirada dos fios na tarde da última terça-feira (29). Essa empresa é a responsável pelas obras de requalificação do Santo Antônio Além do Carmos, feitas pelo Governo do Estado.  

No local, Arjones conversou com a imprensa e disse não saber explicar qual é o procedimento normal da empresa quando há necessidade de retirar sucatas de obras que ela realiza, já que se trata de uma questão técnica. "Quem trata disso é a engenharia. O que eu posso afirmar é que a empresa não está relacionada a questões vinculadas a cabeamento, quem trata disso é a Coelba", afirmou. O advogado disse ainda que Thailan é um engenheiro trainee, que trabalha há um ano na Pejota. "Foi aberta uma sindicância externa, ele foi afastado e tudo está sendo apurado para que sejam adotadas as medidas legais. Caso se entenda que ele é responsável, haverá o afastamento definitivo", disse. Até agora, outros funcionários não foram afastados pela empresa.  Domingo Arjones é advogado da Pejota Construções (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Um dia antes, na quinta-feira, seis operários também compareceram na mesma delegacia, de forma voluntária, para explicar suas versões dos fatos. Eles alegaram que não sabiam que se tratava de uma operação ilegal e também não desconfiaram, já que foram orientados a fazer o serviço numa manhã de domingo, como de costume. 

Relembre  No domingo, pessoas sem máscara, vestidas com uniformes azuis e com maquinários de grande porte, como retroescavadeiras, destruíram 60 metros de extensão de um lado da rua para levar fios de cobre que estavam enterrados no local. A ação se iniciou por volta das 8h30, durou cerca de quatro horas e danificou a rede de tubulação de água, que já foi consertada.  

A Coelba confirmou que os cabos furtados pertencem a uma linha de transmissão desativada, mas que permaneceram no local para uma eventual necessidade. Em nota, ela afirma que acompanha o inquérito policial em curso e seguirá tomando as medidas cabíveis para apuração dos fatos e responsabilização dos envolvidos.   Funcionários da Conder tiveram que consertar os estragos deixados (Foto: Marina Silva/CORREIO) A Conder não quis se pronunciar sobre o assunto. Já a Pejota Construções disse que não tem qualquer relação com os fatos noticiados. “A empresa disponibiliza vigilância para os materiais e equipamentos existentes no canteiro de obras. A construtora reforça que realiza os serviços no horário comercial, de segunda a sábado, e o tráfego de veículos e pedestres é livre e permanente durante toda a semana”, afirmaram.  

Foi a prórpria Pejota que prestou queixa na delegacia, após o pedido da Conder, o que teria sido feito numa reunião entre as duas partes realizada na tarde dessa terça. No entanto, em nota divulgada para a imprensa um dia antes, a Conder já tinha dito que fizera o pedido à Pejota para que registrasse queixa. 

“Internamente, não há nenhum registro de contrato que vincule a empresa a este serviço prestado no dia 27. O funcionário citado não possui nenhum tipo de autonomia para contratação de serviços em nome da empresa sem a prévia autorização, conforme o manual de procedimento interno.  A empresa foi surpreendida com o possível envolvimento do mesmo no ocorrido. Caso seja comprovada sua responsabilidade, este será o único a assumir as consequências de seus atos que diferem do código de conduta da empresa”, disseram.  

Confira a nota completa: 

A Pejota Construções, responsável pela execução das obras de pavimentação e requalificação das vias na região do Santo Antônio Além do Carmo, através de contrato firmado com a CONDER, esclarece que não tem qualquer relação com os fatos noticiados. A empresa disponibiliza vigilância para os materiais e equipamentos existentes no canteiro de obras.  A construtora reforça que realiza os serviços no horário comercial, de segunda a sábado, e o tráfego de veículos e pedestres é livre e permanente durante toda a semana. 

A empresa está colaborando com as investigações, em contato direto com a CONDER para apoiar na implantação de novas medidas a serem adotadas. A primeira medida foi o registro de boletim de ocorrência feito pela Pejota, na Delegacia dos Barris. A ação aconteceu após pedido da CONDER feito em reunião ocorrida no dia 29.  

As imagens amplamente divulgadas pela imprensa mostram que o fardamento usado pelos criminosos não possui nenhuma identificação da empresa. Além disso, os fios de cobre e o maquinário utilizado também não pertencem à empresa.  

A construtora reforça que a retirada dos fios de cobre de Santo Antônio Além do Carmo foi praticada por terceiros de forma alheia ao conhecimento da empresa. Após apurações preliminares relativas à denúncia feita à imprensa, a Pejota instaurou uma sindicância para tomar todas as providências legais cabíveis e afastou um funcionário da obra enquanto acontecem as investigações para apurar as responsabilidades.  

A Pejota reafirma que não contratou o serviço para nenhum fim, todos os contratos de empreitadas e serviços são feitos através de processos internos, passando por análises de serviço, cotações e autorização dos setores administrativos da empresa e da diretoria e, só após a formalização do contrato e da ordem de serviço é que o fornecedor executa o que foi contratados. Internamente, não há nenhum registro de contrato que vincule a empresa a este serviço prestado no dia 27. 

O funcionário citado não possui nenhum tipo de autonomia para contratação de serviços em nome da empresa sem a prévia autorização, conforme o manual de procedimento interno.  A empresa foi surpreendida com o possível envolvimento do mesmo no ocorrido, levantado pela mídia no dia 29/09. Caso seja comprovada sua responsabilidade, este será o único a assumir as consequências de seus atos que diferem do código de conduta da empresa. 

Ainda assim, todas as medidas foram tomadas para reparar os danos, evitando maiores prejuízos para os moradores, para a CONDER e para a Coelba – mesmo tendo sido a Pejota também prejudicada, assumindo todos os custos de requalificação e sua imagem atingida. 

Finalizamos reforçando, mais uma vez, que não houve a contratação dos “serviços” e que estamos colaborando com imagens, informações e documentos a fim de apoiar as autoridades competentes na resolução do caso. A partir desse momento, as informações sobre o caso serão dadas pelas autoridades competentes que conduzirão a investigação. 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.