Engenho Velho de Brotas: dona de bar resiste à ação da prefeitura e caso termina em barraco

Fiscalização das medidas restritivas foi marcada por confusão nesse domingo (28)

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 1 de março de 2021 às 05:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

No bairro do Engenho Velho de Brotas, uma turma comia e bebia tranquilamente na Rua Padre Luiz Filgueiras, na manhã deste domingo (28). Quem não estava nas mesas armadas na calçada, estava em pé fazendo parte da resenha. A farra rolava solta até que, de repente, o feijão bateu mal. Isso porque uma equipe de fiscalização da Prefeitura surgiu para o desespero de todos, inclusive para a dona do bar. Ela reagiu à ação dos fiscais, que faziam cumprir as medidas restritivas para evitar o aumento de casos da covid-19.  Houve uma confusão e o trânsito ficou parado pouco mais de meia hora. O tumulto terminou com o estabelecimento fechado e por pouco a dona não foi levada à delegacia. Somente nesta manhã, uma equipe da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) fechou 15 estabelecimentos considerados não essenciais na região de Brotas. Já nas praias, da Paciência até Jardim de Alah, 100 pessoas foram convidadas a saírem da areia pela Guarda Municipal.  O decreto do Governo do Estado determina a suspensão das atividades não-essenciais das 17h de sexta-feira até às 5h de segunda-feira. Entre 20h e 5h, acontece o toque de recolher, por isso, quem estiver na rua precisa voltar para casa depois desse horário.

Confusão A confusão no Engelho Velho de Brotas aconteceu por volta das 11h, já quase no final de linha. Agentes da Sedur, acompanhados por policiais da Companhia Independente de Proteção Ambiental (COPPA) da Polícia Militar, chegaram de surpresa à Rua Padre Luiz Filgueiras – a Sedur tem a competência para fiscalizar o funcionamento dos estabelecimentos comerciais.  Depois de muita insistência, as cadeiras e mesas foram recolhidas e o bar fechado (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Na hora foi uma correria para guardar as cadeiras, mesas, recolher as bebidas e comidas, mas de nada adiantou. A fiscalização foi mais rápida. Na hora da abordagem, a dona do bar, que funciona na garagem de um prédio residencial de quatro andares, rebateu as duras críticas pelo fato de o estabelecimento estar em pleno funcionamento.  “Eu sei que vocês estão trabalhando todos os dias, mas eu também preciso trabalhar. Eu preciso pagar as minhas contas”, disse ela, de prenome Elisângela, ao fiscal da Sedur, Jorge Alexandre. De imediato, o funcionário da Sedur respondeu: “Estamos aqui trabalhando, nos arriscando, arriscado a nossa família, na luta contra um inimigo invisível e muito letal”, disparou ele.  Apesar das declarações de Alexandre, a comerciante insistia em manter o bar aberto. Ela só acatou a decisão quando policiais militares disseram que aguardavam a decisão do fiscal para conduzi-la à delegacia, o que não foi preciso, pois a mulher já estava mais calma. Praias Já nas praias, não houve confusão. O casal Carlos Cunhado de Freitas, 66, e Rita de Freitas, 64, caminhava solitariamente nas areias de Jardim Alah quando foi abordado pelos guardas municipais por volta das 09h30, nas imediações de um supermercado. O CORREIO acompanhou a ação de longe e foi possível perceber que o casal tentou argumentar alguma coisa, mas em vão. Ao contrário de dar continuidade ao passeio tranquilo sobre a areia fofo, o casal foi acompanhado pelos guardas até a escadaria, onde passariam a caminhar em solo rígido.   Antes de seguir pelo calçadão, Carlos conversou com a nossa equipe. “Sei que está proibido, só que eu e a minha esposa corremos mais risco de contaminação andando na orla. Veja quanta gente aglomerada estava passado por aqui? E algumas sem máscaras”, questiona ele, apontando para a quantidade de gente – que não era pouco – andando e correndo em grupos na orla.  “A lei é feita para ser cumprida, mas isso não significa que eu deva concordar”, declarou Carlos antes de ir embora.  Guardas municipais orientavam as pessoas a saírem das praias (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Ao lado de Carlos estava o supervisor de operações da Guarda Municipal, Jackson Santos, que comentou a reposta do idoso. “Essa é a mesma desculpa que ouvimos a manhã inteira, que as pessoas estão mais vulnerais andando na orla. Nós não estamos aqui para questionar isso. A Guardar está aqui é para fazer cumprir o decreto”, disse Santos. Desde às 07h que os guardas municipais estão divididos em grupos monitorando as praias de Salvador. “Calculamos que umas 100 pessoas foram retiradas das praias. Foi gente caminhando, tomando sol, reuniões de amigos e famílias, passeando com cachorros... teve de tudo”, completou o inspetor da GM.  Logo após, a GM parou atrás do Centro de Convenções Salvador, na Boca do Rio. A presença das viaturas intimidou muita gente, que pegou suas coisas e foi embora. No entanto, somente as sirenes não fizeram diferença para um grupo menor de pessoas, que precisou da conscientização tête-à-tête. “Viemos aqui só porque minha filha insistiu. Ela queria correr com o cachorro na areia. Sabia que estava proibido, mas ela insistiu, fazer o que? A gente só não contava com a Guarda Municipal (risos) ”, disse o marceneiro Luís Cláudio, 30, enquanto deixa o local com a filha e ao animal de estimação.