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Gabriel Galo
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 05:14
- Atualizado há um ano
Enquanto a pandemia avançava a passos largos – e depois de encurtar sua ânsia, volta a ampliar o alcance – o Flamengo foi um dos principais líderes para a volta do futebol. Mesmo que, para isso, tivesse que dividir o Maracanã com um hospital de campanha que combatia a maior crise sanitária do último século no Brasil. Era gol de cá, morte logo ali depois da arquibancada, num vai e vem macabro, em que o gol, em vez de grito, espalhava o bafio da morte.
Para viabilizar o retorno, definiram-se protocolos tais. Mas o vírus é malandro, e varreu elencos com furor. Goiás, Confiança e CSA foram os que mais sofreram. As baixas foram às dezenas. Mais à frente, o histórico ativo de atletas felizmente não provocou consequências mais graves. Mas a mensagem estava ali: não tinha protocolo que desse conta de um vírus que se propaga serelepe em ambiente sem isolamento.
Só que Goiás, CSA e Confiança têm problema de origem. Não estão no centro do esporte nacional. E, sabe como é, a economia precisa andar.
Pois em vez de resolver o problema de uma vez, somos brasileiros e não desistimos jamais de uma boa gambiarra. Para quê solução, se é possível simplesmente testar o que o mundo fez e deu errado? Aqui é terra abençoada: basta ter fé e torcer a favor que até os mais impossíveis feitos se realizam. Como ouvi no Futebol S/A deste último sábado, o Brasil fez prova com consulta e tirou zero. Jenial.
Até que um time sem problema de origem foi massacrado pela Covid. O mesmo time que pressionou pelo retorno do futebol! E que, não satisfeito, desafia a lógica para pedir torcida no estádio (o dele, óbvio). Com isso, fez-se emergir um dos piores lados dos bestiais cheios de certeza. Afinal, se outros contraem a doença em números alarmantes, a culpa, claro, é deles mesmos, que certamente não seguiram o protocolo à risca; mas se é o alecrim dourado da pureza que contrai o vírus, baciada de mais de 40 casos!, não, a culpa não é dele, mas sim dessa tal doença, ó-tão-perigosa. Ao outro, o julgamento; a mim, a luta contra forças maiores e contra os infiltrados.
Com seu abuso de poder debaixo de braço, e com aquela esperada ajudinha dos chefes de gabinete no centro do Brasil, interveio nos tribunais, inclusive nos da justiça comum –TRT como marionete–, prática proibida nos regramentos da justiça esportiva. E quando o taco espanou, pondo a Conmebol na linha de frente, refugaram e foram a campo.
Mas o estrago deve durar ainda muito mais tempo. Vê-se um isolamento do rubro-negro carioca, dessa vez até sem respaldo da CBF. E a interferência da justiça comum ressuscita um hábito muy brasileiro: o tapetão. Esse imbróglio não há de acabar no campo de jogo. Nem deveria. Quem ameaça os estatutos das instituições, pretende derrubá-las e implantar sua própria autocracia.
Do outro lado, resta ao perplexo torcedor pagar caro e assistir de longe a um espetáculo de baixíssima qualidade. Cereja do bolo, o cúmulo do escárnio: minutos de silêncio em homenagem aos mortos da pandemia antes de partidas deste mesmo time que despreza a vida. É deboche escancarado.
Enquanto isso, Vitória venceu na Série B depois de 12 dias de preparação, com futebol ruim e dependendo exclusivamente das bolas paradas e de lampejos de um jogador inspirado, no caso, Ewandro, em excelente estreia. Já o Bahia perdeu a terceira com Mano Menezes, sem mostrar evolução. É lanterna da Série A. Em ambos os casos, é mais um sinal de que os problemas vão muito além das quatro linhas.
Volta-se, pois, ao ponto de origem. Então era para isso que voltou o futebol? Melhor seria ter continuado sem.
Gabriel Galo é escritor.