Entenda a diferença entre AVC Isquêmico e Hemorrágico, que matou Tom Veiga

Especialista explica diferença entre os dois tipos da doença, que é uma das três principais causas de mortes de brasileiros

  • Foto do(a) author(a) Rede Nordeste, O Povo
  • Rede Nordeste, O Povo

Publicado em 4 de novembro de 2020 às 14:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

O Ministério da Saúde conceitua um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou um derrame cerebral como uma doença que acontece quando há um entupimento ou o rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada. No entanto, há dois tipos principais de AVC, uma das três principais doenças que leva brasileiros à morte todos os anos: o Isquêmico e o Hemorrágico. Este último, menos comum, foi o que causou a morte no último domingo, 1°, do ator e intérprete do Louro José, Tom Veiga. As informações são do O Povo.

Em tese, a principal diferença entre os dois tipos de AVC se dá na forma como a doença se manifesta. No AVC Isquêmico há entupimento dos vasos que levam sangue ao cérebro. Segundo o neurologista Espártaco Moraes, que atua em Sobral, esse é o tipo mais comum de AVC. "Ele é responsável por 75% de todas as doenças vasculares", acrescenta Moraes. É mais comum porque é causado por complicações relacionadas à nível de colesterol no corpo, problema comum em brasileiros.

Já o Hemorrágico ocorre quando há rompimento do vaso provocando sangramento no cérebro - o que não é tão comum, conforme o neurologista. Ainda conforme Espártaco, a doença tem alta incidência no Ceará e é bastante grave, podendo levar à morte.

Conforme o MS, o tratamento e a reabilitação da pessoa vitimada por um AVC dependerá sempre das particularidades que envolvem cada caso. Há recursos terapêuticos que podem auxiliar na restauração das funções afetadas. Para que o paciente possa ter uma melhor recuperação e qualidade de vida, é fundamental que ele seja analisado e tratado por uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, fisioterapeutas, médicos, psicólogos e demais profissionais. Seja qual for o tipo do acidente, as consequências são bastante danosas. Além de estar entre as principais causas de morte mundiais, o AVC é uma das patologias que mais incapacitam para a realização das atividades cotidianas.

O neurologista Espártaco Moraes ainda chama atenção para outra coisa: o tempo de atendimento entre o momento que o AVC acontece até a chegada do paciente ao hospital. Quanto mais cedo, melhor. Se a pessoa chegar em até quatro horas e meia na unidade hospitalar, pode ser feito um tratamento venoso. Se o paciente chegar após esse período, o tratamento é feito por medicação, visando a prevenção de outro acidente vascular.

Intensidade do AVC Conforme a região cerebral atingida, bem como de acordo com a extensão das lesões, o AVC pode oscilar entre dois opostos, segundo Ministério da Saúde. Os casos de menor intensidade praticamente não deixam sequelas, enquanto os mais graves podem levar as pessoas à morte ou a um estado de absoluta dependência, sem condições, por vezes, de nem mesmo sair da cama.

A pessoa pode sofrer diversas complicações, como alterações comportamentais e cognitivas, dificuldades na fala, dificuldade para se alimentar, constipação intestinal, epilepsia vascular, depressão e outras implicações decorrentes da imobilidade e pelo acometimento muscular. Um dos fatores determinantes para os tipos de consequências provocadas é o tempo decorrido entre o início do AVC e o recebimento do tratamento necessário. Para que o risco de sequelas seja significativamente reduzido, o correto é que a vítima seja levada imediatamente ao hospital. Os danos são consideravelmente maiores quando o atendimento demora mais de 3 horas para ser iniciado.

Muitos fatores de risco contribuem para o aparecimento dessa doença. Alguns desses fatores não podem ser modificados, como a idade e constituição genética. Outros fatores, entretanto, podem ser diagnosticados e tratados, tais como a hipertensão arterial (pressão alta), a diabetes mellitus, as doenças cardíacas, a enxaqueca, o uso de anticoncepcionais hormonais, a ingestão de bebidas alcoólicas, o fumo, o sedentarismo (falta de atividades físicas) e a obesidade. A adequação dos hábitos de vida diária é primordial para a prevenção do AVC. É o que receita Espártaco: evitar o tabagismo, manter peso na faixa adequada para idade e altura, praticar exercícios e manter alimentação saudável e equilibrada.

Ainda segundo o neurologista, o diagnóstico de coronavírus pode aumentar as chances de um AVC. "O vírus, além de infectar o corpo, desencadeia inflamação que pode aumentar risco de fatores no sangue que levam à entupimento (das veias)", explica o médico.

A doença atinge mais facilmente pessoas com mais de 65 anos de idade, o que não significa que jovens não possam sofrer um AVC. Por isso o cuidado com a saúde é essencial. Após os 65, a chance de ter um derrame duplica a cada dez anos, conclui o neurologista.

Sintomas e sinais de alerta: Muitos sintomas são comuns aos acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos, como:

- dor de cabeça muito forte, de início súbito, sobretudo se acompanhada de vômitos; - fraqueza ou dormência na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetando um dos lados do corpo; - paralisia (dificuldade ou incapacidade de se movimentar); - perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar e compreender o que se diz; - perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos.

Outros sintomas do AVC Isquêmico são: tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação. Os ataques isquêmicos podem manifestar-se também com alterações na memória e na capacidade de planejar as atividades diárias, bem como a negligência. Neste caso, o paciente ignora objetos colocados no lado afetado, tendendo a desviar a atenção visual e auditiva para o lado normal, em detrimento do afetado.

Aos sintomas do acidente vascular hemorrágico intracerebral podem-se acrescer náuseas, vômito, confusão mental e, até mesmo, perda de consciência. O AVC Hemorrágico, por sua vez, comumente é acompanhado por sonolência, alterações nos batimentos cardíacos e na frequência respiratória e, eventualmente, convulsões.

AVC e população negra  Um dado importante é que a hipertensão, uma das causas de AVC, afeta mais a população negra que a branca no Brasil. Uma pesquisa desenvolvida pelo cardiologista Wilson Nadruz Júnior, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, junto com pesquisadores da Harvard Medical School em 2017 mostrou que o fator de risco (hipertensão) tem reduzido na população branca, o que não acontece com pessoas negras.

Segundo Nadruz, a Medicina ainda não tem uma resposta definitiva para a questão, mas dispõe de alguns dados que fornecem pistas sobre a diferença de performance entre as etnias. “A literatura médica tem registrado há um bom tempo que os negros apresentam níveis de pressão arterial mais altos e têm maior dificuldade para controlá-los. Isso ocorre inclusive entre as pessoas que são submetidas a tratamentos contínuos com medicações anti-hipertensivas. Uma explicação para essa situação pode estar no fator genético. Entretanto, não podemos deixar de considerar outras possíveis variáveis, como as condições socioeconômicas dos afrodescendentes, que tendem a ser inferiores às da população branca”, pondera o professor da FCM-Unicamp.

De toda forma, continua o cardiologista, o resultado do estudo fornece dados úteis à formulação de políticas públicas para a ampliação do controle da pressão arterial, especialmente entre a população negra. “Ainda que a pesquisa tenha sido desenvolvida com base em dados extraídos de uma parcela da população dos Estados Unidos, nós estimamos que a situação aqui no Brasil seja parecida ou até mesmo um pouco pior. Sendo assim, é importante que tenhamos programas voltados ao combate da hipertensão, de modo a evitar mortes ou sequelas graves em pacientes atingidos pelo AVC”, reforça. As informações são da Unicamp. Você pode ler o estudo completo aqui (em inglês).