Entenda o que é adenocarcinoma, câncer que acomete a apresentadora Ana Maria Braga

Apresentadora anunciou, na manhã desta segunda-feira (27), que está com câncer pela terceira vez

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 06:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Globo

O câncer de pulmão, que atinge a apresentadora Ana Maria Braga, é o segundo mais comum entre homens e mulheres no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Apenas em 2018, foram 31.270 novos casos da doença, que é a primeira no mundo, desde 1985, tanto em incidência, quanto em mortalidade. Nesta segunda-feira (27), Ana Maria anunciou, durante o programa Mais Você, que enfrenta um adenocarcinoma, um tipo de câncer de pulmão. 

Segundo a apresentadora, ela foi diagnosticada com adenocarcinoma, "que é mais agressivo e não é passível de cirurgia ou radioterapia". Após enfrentar dois outros cânceres, ela lançou, em 2009, o livro "A Força da Fé", no qual relata como lidou com a doença.

A principal causa deste tipo de câncer é o tabagismo e fatores ambientais. “Se a pessoa mora em uma cidade muito poluída ou trabalha em fábrica, inala produtos tóxicos, tudo isso aumenta o risco para câncer de pulmão. Óbvio que quando a pessoa fuma e ainda mora em uma cidade como São Paulo, por exemplo, que é uma cidade que tem muitos poluentes no ar, onde se inala muita poluição, um fator potencializa a ação do outro”, explica Cristiana Tavares, médica oncologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) do Recife. Ana Maria Braga já havia revelado em outras oportunidades que durante muito tempo foi fumante. 

Ainda segundo Cristiana, o adenocarcinoma e o carcinoma epidermoide são os dois tipos de cânceres que representam cerca de 75% de todos os tumores de pulmão. “É comum no Brasil e no mundo”, destacou. 

Quais os sintomas do adenocarcinoma? 

O surgimento de sintomas causados pela presença desses tumores pode acontecer apenas quando ele atinge uma fase mais tardia ou quando está localizado mais perto dos brônquios. “Quando o tumor é inicial, normalmente não dá sintomas. Quando está perto dos brônquios, em uma fase mais tardia ou localizado mais central, pode causar sangramentos pela boca, hemorragia ou tosse com sangramento. O paciente pode ter dor, falta de ar, dificuldade para respirar, tosse frequente e essa tosse pode vir com sangue. É aquela de ideia de como se fosse uma pneumonia, uma bronquite que não melhora, que não passa. Quando se tem isso, não significa que a pessoa tem um câncer de pulmão, mas é um sinal de alerta para que se procure um clínico ou um pneumologista e que isso seja investigado.Quando (o tumor) está localizado em uma área mais periférica dos pulmões, demora mais a dar sintomas”, explicou Cristiana.

Como é feito o diagnóstico do câncer de pulmão? 

A descoberta da doença pode ser feita por meios diferentes, também relacionados com o tamanho do tumor. A partir de raio-x do tórax, por exemplo, é possível identificar o tumor apenas se já apresentar um tamanho maior. Em tamanho menor, é necessário submeter o paciente a uma tomografia. “O diagnóstico normalmente é feito através de exames de imagem, tomografia, raio-x do tórax ou broncoscopia - que é como uma endoscopia só que põe a sonda pelo nariz para chegar no brônquio e, de repente, visualizar melhor e fazer uma biópsia desse tumor”, pontuou Tavares. 

Qual o tratamento para o adenocarcinoma?

A oncologista Cristiana Tavares afirma que o tratamento do câncer de pulmão passou por uma “mudança absurda”. “Um estudo dos Estados Unidos mostra que houve uma redução em 29% na mortalidade por câncer e isso deve-se a melhora e avanço no tratamento do câncer de pulmão e do tratamento do melanoma, aquele tumor de pele. Já se nota uma redução da mortalidade”, citou. 

“Hoje é um tratamento em que a gente pode fazer de tudo. Tem o paciente que pode fazer a quimioterapia, tem o paciente que pode fazer drogas alvo moleculares, o que pode associar a quimioterapia com a imunoterapia. Quando se diagnostica um tumor de pulmão, principalmente um adenocarcinoma, que é o caso de Ana Maria Braga, normalmente é feito um exame molecular, um exame genético para ver se existem mutações específicas nestas células, e para cada mutação específica dessas, a gente pode ter um tratamento diferente”, acrescentou. 

Apenas um quinto dos tumores podem ser tratados com quimioterapia isolada. Os demais são tratados com imunoterapia, com drogas alvo moleculares, com combinação de imunoterapia e quimioterapia ou combinação de quimioterapia com antiangiogênico. “Há uma gama de tratamentos e opções que, mesmo um tumor mais avançado, tem-se a possibilidade de aumentar e muito o controle da doença e chance dele reduzir de tamanho, ser controlado e manter esse tumor de forma controlada durante muitos anos”, afirmou.

Ao anunciar durante o Mais Você que está doente, Ana Maria também afirmou que no dia 24 de janeiro recebeu o primeiro ciclo de tratamento, em uma combinação de quimioterapia e imunoterapia, em um hospital de São Paulo. 

Qual o tratamento menos agressivo? 

“São tratamentos diferentes e cada um tem seus efeitos colaterais específicos”, pontuou a oncologista. “A quimioterapia tem aqueles efeitos colaterais mais conhecidos, como a queda de cabelo, náusea, vômitos, diarreia… a imunoterapia já tem um outro tipo de reação, que a gente pode ver na pele do paciente, por exemplo. O paciente pode apresentar rash, que são manchinhas na pele, ou uma reação tipo acne. O paciente também pode ter inflamação no intestino, na pele. As drogas alvo moleculares, que atuam em mutações específicas na célula, também geram reações diferentes, mas extremamente mais suportáveis. Esses comprimidos não causam queda de cabelo, náuseas, não causam vômitos. Podem causar uma reação como acne, tudo muito leve e que a gente tem condição de fazer tratamento com essas drogas (alvo moleculares) durante anos”, explicou. 

Apresentadora fez anúncio durante Mais Você

O anúncio de que está com câncer de pulmão foi feito por Ana Maria Braga na manhã desta segunda. Ela também pediu orações ao público e disse ter muita fé de que irá superar a doença. Já ao final do programa, a global explicou que pediu um tempo à produção para conversar com os telespectadores. "Não consigo fazer diferente", disse Ana, se referindo à relação íntima que possui com o público.

Veja o que Ana Maria disse durante revelação

"Antes de eu encerrar o programa eu pedi um tempinho para conversar com você de casa. Como sempre faço, todas as coisas que fazem parte do meu dia-a-dia e que podem modificar nossa relação -  a minha, desse lado, e a sua, do outro lado - você que me acompanha há bastante tempo, sabe bem disso, eu não consigo fazer diferente do que isso que vou fazer agora. Quero muito agradecer a oportunidade que a Globo e os dirigentes estão me dando de me permitirem ser a Ana Maria que sou, a amiga que sou, e por serem tão meus amigos me permitirem também ser da forma que sempre fui. Há 20 anos na Globo, sempre recebi o maior apoio de todo mundo e é uma notícia importante, que faz parte da minha vida e é importante para mim. E eu quero dividir com aquelas pessoas que me fazem estar aqui, que são vocês aí do outro lado, que me dão oportunidade de estar aqui todos os dias. Porque se você não estiver comigo aí do outro lado, não tem porque a Globo me manter aqui, ou qualquer empresa, na verdade.

Só recordando um pouquinho, eu tive dois pequenos cânceres de pulmão no passado, e vocês me deram força. Um foi operado, e outro foi tratado com radiocirurgia. Agora, infelizmente, fui diagnosticada com outro câncer de pulmão, é um adenocarcinoma, o nome científico dele. É semelhante aos outros, mas é mais agressivo e não é passível de cirurgia ou de radioterapia. Então, eu descobri esse novo câncer no começo do ano, eu já estava sabendo disso há algum tempo, antes de vir aqui já com o encaminhamento que vou ter no meu tratamento. Já no dia 24 de janeiro, no dia do casamento da minha filha, eu recebi o primeiro ciclo de tratamento, que constitui em uma combinação de quimioterapia com imunoterapia no Hospital BP Mirante, lá em São Paulo. Eu não sabia, na verdade, se eu iria conseguir chegar aqui hoje, porque quando se faz uma quimioterapia e uma imunoterapia, como é meu tratamento agora, tem efeitos colaterais - não vai cair o cabelo, porque a quimioterapia é diferente, evoluiu - mas tem sintomas que quem faz quimioterapia ou já conviveu com alguém que fez sabe, e é por isso que eu queria falar com vocês, aí de casa, [porque] tem dias que você fica mais sensível, e a imunoterapia pode ocasionar isso.

Quem está me tratando é meu médico de sempre, doutor [Antonio Carlos] Buzaid. Ele disse que entrou nessa briga comigo da mesma forma que entrou nas outras: entrou para ganhar. E eu não tenho dúvida nenhuma que vou ganhar mais essa briga, mas eu queria muito contar com vocês aí do outro lado porque em alguns dias, eventualmente, eu não sei o que me reserva. Eu vou fazer mais alguns ciclos de imunoterapia e quimioterapia, minha aplicação é de 21 em 21 dias, eu fiz a última agora na sexta e vou fazer a próxima dia 14, e o remédio age nesse período. E temos férias também - só para não ficarem dizendo - nós tínhamos férias marcadas para o dia 7 agora de fevereiro, numa sexta-feira, nós tiramos três semanas de férias merecidas, do ano todo, e a gente volta depois do carnaval. Eu espero poder estar aqui com vocês até o dia 7, todos os dias, e vou estar, se já estou tão bem já na primeira [sessão de tratamento] e quero contar com sua força aí do outro lado, seu carinho, como sempre, e as suas orações, principalmente que sempre me ajudaram muito. E a vida continua normal, eu tenho muita fé e uma força que vem de Deus, e acredito que vou sair dessa com certeza, e vou estar dividindo com vocês esses momentos aqui, tá bom? Claro que se eu tiver estraçalhada não vou vir aqui, mas você vai ficar sabendo, enfim. Obrigada por todo o carinho sempre que vocês tiveram comigo e por todo respeito".

*Matéria originalmente publicada no Jornal do Commércio, parceiro do CORREIO na Rede Nordeste