Entenda por que 15% das crianças com 5 anos ou mais fazem xixi na cama

Elas apresentam enurese noturna, que é a incapacidade de conter a urina enquanto dorme

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  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de maio de 2022 às 06:00

. Crédito: Shutterstock

Se você já se pegou falando para o seu filho que ele "já está grandinho" para fazer xixi na cama, saiba que esse está longe de ser um bom caminho para que ele pare de fazer isso. Ao contrário: dizer coisas assim pode até ter um efeito contrário e provocar traumas e insegurança na criança. E mais: não é por preguiça, mimo ou desleixo que meninos e meninas deixam a cama molhada durante a noite.

A última terça-feira do mês de maio marca o Dia Mundial da Enurese, que é o vazamento involuntário de urina. De acordo com estudos registrados em revistas científicas, ela alcança de 10% a 15% das crianças até os 6 anos. Aos 10 anos, o índice cai para 5% e, entre adolescentes e adultos, varia de 0,5% a 2%. 

"Fisiologicamente, é normal a criança urinar na cama até uma certa idade, porque o sistema nervoso da parte miccional ainda não amadureceu e isso pode acontecer só aos sete anos de idade", informa Alfredo Querino, urologista e uropediatra.

Mas, afinal, qual é a hora adequada para buscar um tratamento? Segundo Querino, é necessário ter atenção ao comportamento da criança e, se ela apresentar constrangimento por ainda fazer xixi na cama, deve-se recorrer ao pediatra e, se necessário, encaminhá-la a um especialista. A baixa autoestima também pode ser sinal de que é hora de procurar o acompanhamento de um médico.

No consultório, Querino faz algumas recomendações: "Costumo dizer aos pais que nunca digam aos filhos que eles já estão grandes para fazer xixi na cama. A criança não perde a urina porque quer nem por preguiça. Ela não pode ser responsabilizada por algo que não controla e chega a ser cruel pressioná-la". O médico acrescenta que muitas vezes a origem do problema é fisiológica e um dos passos mais importantes para a criança ficar "seca" é ter o apoio da família.

Conversar com a criança sem reprimi-la também é importante. Querino costuma dizer aos pequenos que o tratamento da enurese é como um videogame: "Brinco com elas, dizendo que é como um jogo, em que ela vai passar por diversas fases", revela o médico.

Há algumas providências que os pais podem tomar em casa para diminuir a incidência do xixi na cama à noite. Ubirajara Barroso, livre docente da disciplina urologia na Ufba, ressalta algumas medidas que ajudam no controle e podem ser iniciadas de maneira imediata, como oferecer bastante líquido durante o dia: "As crianças ficam brincando e 'esquecem' de se hidratar. À noite, quando vai chegando a hora de dormir, ela quer compensar. E o líquido vai ser excretado enquanto ela dorme". 

Ele sugere também que a criança vá dormir ainda antes que o sono chegue ao ponto de ser incontrolável. Dessa forma, ela não terá um sono muito "pesado" e aumentará a chance de ela sentir necessidade de acordar quando sentir vontade de fazer xixi. 

Outra dica importante: a ingestão de sódio perto da hora do sono também deve ser evitada, porque essa substância "puxa" o líquido para o sangue e esse líquido precisa ser expelido na madrugada. Alguns alimentos ricos em sódio são os industrializados congelados, queijos - especialmente processados - e pão.

Ubirajara ressalta também para evitar alimentos e bebidas que contenham cafeína à noite. A substância está presente, por exemplo, no café, chocolate e chá. Todas essas recomendações devem ser seguidas, ao menos, duas horas antes de ir para a cama.

O médico faz um importante alerta: "A enurese não é uma doença, mas um sintoma, assim como é a dor de cabeça", compara Ubirajara. "No caso da dor de cabeça, não é necessário saber especificamente a causa, mas é necessário curar a dor. Com o xixi na cama, é o mesmo: é preciso cuidar do sintoma", acrescenta.

Mas, mesmo com todas essas medidas, cerca de 20% das crianças não conseguem se livrar da enurese. Por isso, há outros recursos para solucionar o problema, como o uso de um alarme específico, sugerido por Querino. "É um dispositivo que se coloca na roupa e, quando entra em contato com a urina, emite um som. Esse som vai despertar a criança ou a família", sugere o médico. O preço médio desse equipamento na internet é de R$ 100.

Há ainda a possibilidade de usar um medicamento, a desmopressina, que, claro, precisa ser indicado pelo pediatra. "Em algumas pessoas, a produção do hormônio antidiurético é reduzida. Metade das crianças que faz xixi na cama produz esse hormônio em quantidade menor que a população em geral. Por isso, o medicamento pode ser usado em alguns casos", afirma Ubirajara.

Em associação a um colega dos EUA, Ubirajara está desenvolvendo um novo alarme. "Estamos criando uma vestimenta que vem com um sensor que, quando ativado, emite um estímulo à musculatura da criança para contrair o esfíncter, Com a contração, o fluxo de urina é interrompido. E um alarme toca para que a criança acorde e vá ao banheiro".

O equipamento está na fase de estudos na Escola Bahiana de Medicina, e pais interessados podem levar filhos para participar da experiência. Para isso, é preciso entrar em contato com o Centro de Disfunção Miccional da faculdade, na Avenida Dom João VI, nº 275, em Brotas. O telefone é o (71) 3276 8200.