Entrevista: Prefeito eleito diz que a retomada das aulas com segurança é uma das prioridades

Bruno Reis projeta minirreforma administrativa e espera até final do mês para definir Carnaval

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 17 de novembro de 2020 às 06:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/Divulgação

Vinte e quatro horas se passaram desde que o atual vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), tinha sido confirmado como o novo prefeito do município a partir de primeiro de janeiro de 2021 e onde ele estava? Na Prefeitura trabalhando. Desde a proclamação dos resultados, foram três horas de sono, algumas outras de comemoração, entrevistas, porém a maior parte do tempo foi gasta em trabalho. A vitória em primeiro turno deu ao novo prefeito 15 dias a mais para preparar a transição. Para Bruno a retomada segura e cuidadosa da educação será a prioridade neste primeiro momento.  

Os oito anos participando da administração municipal, quatro deles como vice do prefeito ACM Neto, deram a ele um profundo conhecimento sobre a gestão municipal. “Eu preciso me inteirar mesmo sobre os últimos quarenta e cinco dias, porque estava em campanha e precisei me afastar da rotina administrativa, mas modéstia a parte conheço bem o desafio que tenho adiante”, afirma.

O prefeito eleito de Salvador se define como alguém extremamente dedicado ao que faz. “Quem me conhece sabe que quando eu pego qualquer coisa para fazer me dedico extremamente. Eu sou um cara muito focado, tenho pegada, tenho coragem. Aprendi os caminhos para levar as soluções e desenvolvi muitas habilidades políticas no decorrer da minha atividade. Coloco tudo isso à disposição de Salvador”, promete. 

Quem é Bruno Reis é advogado formado pela Ucsal, o atual vice-prefeito de Salvador, disputou o primeiro cargo eletivo em 2010, quando conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa, como deputado estadual. Foi reeleito, depois entrou na administração municipal como secretário da Promoção Social, em 2015. Em 2016, foi eleito vice-prefeito e no ano passado assumiu a Secretaria de Infraestrutura de Salvador. Mas está há mais tempo que isso na política. O prefeito eleito é casado com Rebeca Reis e é pai de Bia, Bruninho e Breno.

[[galeria]]

Como é a sensação de ser chamado de prefeito? Nesses últimos anos, as pessoas às vezes se referiam a mim como prefeito. Até porque havia aquela expectativa do prefeito ACM Neto sair como candidato a governador. Até então era uma expectativa. Aí veio a pré-campanha, depois a campanha e sempre falavam se referindo a uma expectativa neste sentido. Mas agora é diferente porque estou sendo chamado assim legitimado pelas urnas. Consciente da nossa responsabilidade, sem sombra de dúvidas é motivo de muito orgulho. É a realização de um sonho que nasceu à medida em que eu fui crescendo de forma estruturada, subindo cada degrau, cada etapa.Eu comecei lá atrás, como estagiário na Câmara, fui duas vezes secretário municipal, duas vezes deputado, vice-prefeito, então de forma alicerçada, eu recebo este título com muito pé no chão. As coisas aconteceram pra mim um passo de cada vez, os desafios são enormes, mas eu me preparei e vou dar o meu melhor, vou fazer o trabalho da minha vida.O que você fez nas primeiras 24 horas desde que foi confirmado como novo prefeito da cidade? Primeiro, só consegui dormir por três horas. O restante foi um mix de trabalho e um pouco de comemoração. Desde as 6h da manhã eu estou em pé, dando entrevistas para canais de televisão, rádios e jornais. Acabei de concluir a primeira reunião de transição (por volta das 19h15) com o prefeito e o chefe da Casa Civil Luiz Carreira

Quais os planos para esta primeira semana? Terça-feira de manhã (hoje) já estarei na inauguração da terceira etapa da Estrada Velha do Aeroporto. 

Tava com saudade desta rotina? Muita saudade, estava sonhando em voltar a trabalhar pela cidade porque nos últimos quarenta e cinco dias eu tive que me dedicar à campanha. Estou muito ansioso para retornar à rotina da administração da cidade. Tem projetos que vão acontecer até o final deste ano, então preciso colocar minhas energias nele. O principal é avançar para concluir as obras da primeira etapa do BRT e discutir a formação do novo governo. Por conta da legislação, tem limitações para fazer uma reforma administrativa, mas a minha ideia é fazer uma minirreforma, com alguns ajustes. Tem ações em nosso plano de governo que dependem de uma reestruturação da máquina. Eu vou seguir trabalhando e quando houver condições, descanso. 

Só você e outros seis candidatos conseguiram vencer no primeiro turno em capitais. Como vai aproveitar esses quinze dias a mais?  A verdade é que quarenta e cinco dias é muito pouco tempo para uma transição de governo. Trinta, menos ainda. Imagine, formar uma equipe em tão pouco tempo. Isso é algo que só se consegue pensar após a eleição. Não dá pra pensar antes nessas soluções. A minha vantagem em relação a muitos lugares e em relação aos outros candidatos é que eu estou atualizado a respeito dos problemas da cidade. Como eu venho ajudando o prefeito a governar nos últimos anos, se torna mais fácil.Nós temos algumas situações muito complexas, como a questão do transporte público, a retomada da educação, que é um outro assunto. Temos que ajustar este calendário de 2020, que está totalmente comprometido. Precisamos ver como isso vai ser ajustado. A nossa prioridade total será para as questões relacionadas à educação. A sua vitória foi a mais expressiva entre os novos prefeitos de capitais em primeiro turno. Qual é a importância desses 64,20%? Isso aumenta a minha responsabilidade, diante de uma expectativa que se criou em torno dessa nova gestão. Nós temos hoje a melhor gestão do Brasil e as urnas confirmaram isso. É com tranquilidade, consciente das ações que teremos que adotar, que vamos tentar imprimir um ritmo e deixar uma marca nossa. 

Você acredita que pode conseguir uma votação mais expressiva daqui a quatro anos?  É cedo pra falar sobre quatro anos adiante. Não sabemos o que o destino nos reserva, mas tenha certeza de que vamos tentar melhorar e fazer a cidade avançar cada vez mais, com novos programas e novos projetos. Vamos investir muito em inovação e em tecnologia para fazer Salvador dar um salto de qualidade na prestação dos serviços públicos. E é óbvio que todo gestor espera ser reconhecido pelo seu trabalho, como está ocorrendo agora com o prefeito ACM Neto, que conclui o segundo mandato com uma avaliação melhor do que a do primeiro. E isso foi muito importante para ajudar a decidir a eleição. 

Você é vice-prefeito, participou da gestão. Ainda assim vai precisar de um processo de transição formal? Na verdade, comigo a transição será muito mais fácil que com outro candidato. Eu preciso me atualizar a respeito dos últimos quarenta e cinco dias. Nesse encontro (ontem), discutimos alguns ajustes, em um processo de minirreforma, passei a me aprofundar de alguns problemas específicos, que eu preciso conhecer com profundidade. Vou me reunir com os dirigentes de todas as pastas, para saber como estão as questões administrativas.As ações, os programas e os projetos eu conheço bem, ajudei muitos a acontecerem e me aprofundei muito durante esse período de campanha. Agora é mais o funcionamento interno para ampliar ainda mais o nosso conhecimento da máquina. Nós iremos fazer uma transição desta forma, sem  ter uma equipe formal. Essa minirreforma vai ser anunciada quando? Temos uma legislação federal em vigor que proíbe a criação de qualquer cargo que aumente as despesas até dezembro de 2021. Vamos ver o que é possível e o que é preciso fazer. O que nós precisamos fazer neste momento são pequenos ajustes para adequar a prefeitura a essa nova realidade que queremos implementar. Sendo possível, queremos mandar antes para a Câmara e chegar em 1º de janeiro com a máquina administrativa reestruturada e azeitada. 

Tem alguma área específica? Vamos dar uma atenção especial à área de inovação e tecnologia. A pandemia antecipou muito processos que iriam acontecer naturalmente no futuro e precisamos nos ajustar a essa nova realidade. 

Você pretende contar com a ajuda do prefeito ACM Neto de alguma maneira em sua gestão? Não hesitarei em ouvir a sua opinião, sempre que for necessário. ACM Neto tem 20 anos de vida pública, é o prefeito mais bem avaliado do Brasil, nesses últimos oito anos se destacou. Quem vai abrir mão de ouvir conselhos do melhor prefeito do Brasil? Tem diversos prefeitos neste momento ligando para ele e querendo vir aqui ouvir opiniões, na Bahia e em outros estados. Então, sempre que for necessário irei consultá-lo. 

Um amplo número de partidos apoiou a sua eleição. Eles terão espaço na sua administração? A melhor maneira de fazer política é com uma boa gestão, entregando resultados e transformando de verdade a vida das pessoas. Os partidos que vieram me apoiar chegaram pelo desejo de contribuir com os avanços da cidade.Eu não tenho dificuldades no sentido de escolher alguém em um função da filiação a um partido ou a outro da nossa base. O importante é que o conceito que criamos – de mesclar renovação e experiência, montando um time coeso – é uma espinha dorsal que estará preservada.Quero lembrar que a quatro anos atrás, nós nos elegemos com um amplo apoio partidário e governamos com essa filosofia. Os resultados estão aí. 

Não existe um compromisso que vemos em muitas administrações no sentido de garantir espaços partidários?  Não existe espaço carimbado, nada fechado em relação a esta ou aquela pasta. O nosso compromisso é com a cidade, no sentido de escolhermos os melhores para governar. Um dos principais diferenciais desta gestão foi o time que ela conseguiu montar. Eu e Ana Paula (vice-prefeita eleita) fazemos parte desta gestão e vamos montar nossa equipe respeitando estes princípios. Fatalmente poderei identificar quadros neste ou naquele partido.

Como a Prefeitura vai lidar com o calendário das festas populares, tão importantes para a economia da cidade, neste cenário de pandemia? Quem vai definir a realização dos eventos são as condições sanitárias. Especificamente sobre o Carnaval, que coroa o final do Verão, vamos nos reunir esta semana com os segmentos envolvidos para tomar uma decisão conjunta. Caso seja necessário o adiamento, vamos articular numa data no ano que vem, em conjunto com as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Os outros eventos já tem até protocolos definidos.Precisávamos acionar a retomada da educação, que já começou com as faculdades. Falta agora, em diálogo com o governo do estado, retornar o ensino médio e depois o ensino fundamental. A gente já realizou um evento teste no Centro de Convenções e vamos passar a permitir, com todos os protocolos, a realização de alguns eventos. 

Você ainda não descartou ainda a possibilidade de realizar o Carnaval no período tradicional? Chegando a vacina, imunizando a população e tendo tempo hábil para organizar... A Prefeitura, eu estou chegando 1º de janeiro, a gente tem condições de organizar um Carnaval em 40 dias porque temos uma experiência ao longos dos últimos oito anos. A questão é que todos os outros atores envolvidos precisam de um tempo para comercializar os seus produtos. Os blocos afros, os afoxés, blocos de índios, os que representam os movimentos de matrizes africanas e por aí vai. Tem os com cordas, sem cordas, camarotes... A data limite para uma definição que permita a eles organizarem a festa é até o final de novembro. Se não tivermos a certeza de condições sanitárias, a tendência será o adiamento. 

Como será a Lavagem do Bonfim e Iemanjá, que atraem muita gente e são festejos religiosos que ocorrem em datas específicas? Ainda é cedo para dizer que não, mas depende da imunização da população. Lavagem do Bonfim acontece na segunda quinta-feira de janeiro e Iemanjá em 02 de fevereiro. Pode ser que até lá já estejamos livres da pandemia. Se não, o caminho será o mesmo que ocorreu com uma data tradicional nossa, o Dois de Julho, que foi realizado com as restrições que o momento impõe. 

Pensando no cenário político, o DEM conseguiu resultados significativos no interior da Bahia e em algumas capitais, além de Salvador. É um renascimento do partido? Política é cíclica. O DEM foi muito forte no passado, com um amplo domínio na região Nordeste, e teve que ir para a oposição. É algo natural. Agora o partido conseguiu se reestruturar e estamos crescendo de maneira sustentada. Ganhamos muitas capitais e aqui na Bahia, principalmente, os resultados do dia 15 foram extremamente positivos, o que dá grandes perspectivas para 2022. Os nossos aliados também alcançaram grandes resultados eleitorais, ganhando cidades estratégicas. 

O seu grupo político está vivo nas duas cidades baianas que tem segundo turno, Feira de Santana e Conquista. Quais são as expectativas? São eleições disputadas, mas esperamos alcançar duas vitórias.

Como você vai lidar com as administrações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Rui Costa (PT)? No momento oportuno irei procurá-los. Terei a melhor relação institucional possível e colocarei sempre os interesses da cidade em primeiro lugar. Vou levar meus planos de programas e ações vamos buscar todo o apoio necessário porque isso é um direito da cidade. Temos problemas em comum que dependem da cooperação e vou manter o melhor diálogo com as outras duas esferas de poder. 

Tem alguém especial para quem você dedica essa vitória? Eu dedico aos meus pais. Perdi muito cedo, minha mão quando eu tinha 9 anos e meu pai quando estava com 15. Neste momento, eles estão lá no céu em festa vendo onde seu filho pôde chegar e a quantidade de gente que eu ajudei nesta caminhada. Sempre fui grato a Deus por tudo, tenho que agradecer a minha família, meus amigos, em especial ao prefeito ACM Neto pelas oportunidades e a confiança que sempre depositou no trabalho. Preciso agradecer o nosso time também e, especialmente, com o coração cheio de gratidão, à população de Salvador.Podem ter certeza que eu nunca vou decepcionar essa cidade que eu tanto amo.