ENTREVISTA: 'Teremos testagem em larga escala nos próximos dias'

Herzem Gusmão, prefeito de Vitória da Conquista fala das ações no combate à pandemia do coronavírus

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Publicado em 30 de abril de 2020 às 04:40

- Atualizado há um ano

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Segunda maior cidade do interior da Bahia, Vitória da Conquista implantará nos próximos dias a testagem em larga escala para o coronavírus na população. O município, que está com 31 casos confirmados e três mortes, pode ser o primeiro da Bahia a introduzir o sistema. Para o prefeito Herzem Gusmão (MDB), os testes servirão para obter um quadro real do contágio e ainda viabilizar a reabertura do comércio na cidade.

O prefeito se orgulha por “ter tomado decisões pioneiras” na corrida contra o coronavírus. De acordo com Gusmão, Vitória da Conquista foi a primeira cidade a fechar o comércio totalmente, suspender o funcionamento das escolas e a anunciar que o São João não seria realizado neste ano. Com relação ao retorno do funcionamento normal da cidade, Herzem Gusmão afirmou que ainda não há previsão para isso. A gestão, no entanto, já prepara um projeto pedagógico com retomada das aulas para junho ou julho, dependendo do desenvolvimento da pandemia. O prefeito diz ainda que “a providência mais importante é continuar pedindo orações”.

A entrevista com Herzem Gusmão é a terceira de uma série do site Alô Alô Bahia em parceria com o Jornal CORREIO com os prefeitos das maiores cidades do interior. Nas últimas semanas, entrevistas foram realizadas com Colbert Martins, prefeito de Feira de Santana, e com Elinaldo Araújo, prefeito de Camaçari. O objetivo é informar a sociedade baiana sobre as ações nos principais municípios do estado.

O primeiro caso de Vitória da Conquista somente foi divulgado no último dia 31. De lá pra cá, o número foi para 31, sendo 24 já curados e 3 mortes. O senhor considera a situação controlada?

Ninguém pode assegurar que a situação está controlada. Nós estamos ouvindo, inclusive, diversos debates técnicos sobre a curva do coronavírus no Brasil, alguns especialistas falam que a curva do nosso país ultrapassa a da Espanha, Itália e a da própria China em número de mortes. Outros já dizem que não. O que nós sabemos de fato é a nossa realidade e nós começamos a tomar decisões pioneiras aqui na cidade. Fomos a primeira cidade a fechar o comércio totalmente, depois fomos também a primeira a flexibilizar, permitindo o funcionamento da cadeia produtiva da construção civil, casas de materiais de construção, depósitos de cimento, serrarias, marmorarias, vidraçarias, serralherias. Nós viabilizamos também o funcionamento do setor de autopeças, atendendo ao apelo do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que falou que os caminhoneiros que viajam pelo Brasil estavam encontrando dificuldades na manutenção de seus veículos e a falta de peças. Então nós abrimos também todo esse setor, mantendo os serviços essenciais. Conquista foi a primeira cidade do interior do estado que, mesmo com a recomendação naquele momento do Secretário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, de não precisaria encerrar as atividades das escolas, suspendeu as aulas. Tanto na rede municipal, quanto nas escolas e faculdades privadas. Logo na sequência tivemos a adesão da Ufba e do Ifba. Então foram medidas importantes que nós tomamos.

A prefeitura também anunciou com antecedência o cancelamento dos festejos juninos, certo?

Nós também fomos a primeira cidade da Bahia a anunciar que não iríamos realizar o São João. Também suspendemos, em comum acordo com a Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense (Coopmac), a exposição agropecuária que estava marcada para a primeira semana de junho. Suspendemos também atividades em teatros, cinemas, eventos acima de 50 pessoas, então Conquista foi pioneira. Em função desse isolamento, nós estamos colhendo hoje bons resultados, inclusive deste quadro que se apresenta até esta data. Como já falei, gostaria de enfatizar, que Conquista foi a primeira cidade a flexibilizar alguns setores do comércio. Hoje nós ainda mantemos o comércio de rua fechado. A testagem que vamos ter em larga escala será iniciada nos próximos dias.

Como será essa testagem em larga escala?

Já enviamos uma equipe para Salvador para o treinamento adequado, já temos uma máquina avançada e o nosso Lacen Municipal realizará testes em larga escala para que tenhamos um quadro real da cidade. São essas as providências aqui elencadas que tomamos e ainda tivemos outras, como a contratação de leitos de hospitais, a criação do Centro de Atenção Municipal – Coronavírus, entre outras.

O senhor avalia a necessidade da implantação de hospitais de campanha? 

Nós já estamos tomamos todas providências necessárias para garantir o atendimento aos nossos conquistenses. Já contratamos leitos no Hospital Filantrópico São Vicente, que é da Irmandade da Santa Casa, colocamos em funcionamento um Centro de Atenção Municipal ao Coronavírus, que conta com equipe composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, recepcionista e higienização. O serviço oferece leitos de atendimento a pacientes que apresentem quadro leves e moderados de suspeita ou confirmação de infecção por Covid-19, além de uma sala vermelha que poderá ser usada caso surja algum paciente em estado grave. É o único do interior da Bahia. Em relação a Hospital de Campanha, nós não pensamos, porque tem um hospital desativado aqui em Conquista, a Casa de Saúde São Geraldo. Nós já estamos em tratativas com o hospital para que, a depender do quadro, possamos utilizar o espaço que já conta com toda a estrutura hospitalar. Também temos a expectativa do Hospital das Clínicas de Conquista (HCC) que o governo do estado já disse que está contratado para os casos de alta complexidade.

Quais foram as principais ações para conter a propagação do coronavírus?

Todas as ações foram importantes, como eu disse, isolamento social, quase que horizontal, a suspensão das aulas nas escolas e faculdades, a obrigatoriedade do uso de máscaras através de decreto municipal, nenhum estabelecimento e nem mesmo os bancos podem aceitar clientes sem máscara. Nós também fomos pioneiros neste decreto da obrigatoriedade do uso de máscaras e depois o Governador acertadamente também fez um decreto estadual. Para garantir o cumprimento dos decretos, nós estamos fiscalizando com nossas equipes da Prefeitura e contando com apoio da Polícia Militar e dos atiradores do Tiro de Guerra.  A comunidade está nos apoiando, as pessoas aderiram e estão nos ajudando utilizando as máscaras. Nós também realizamos a higienização em parceria com empresas privadas nas feiras livres, terminais de ônibus, em áreas hospitalares, prédios públicos, avenidas de grande circulação e a manutenção apenas dos serviços essenciais.  Outro ponto importante foi a suspensão das atividades em teatros, cinemas, eventos acima de 50 pessoas, então Conquista foi pioneira nessas medidas preventivas. E nós também já iniciamos as barreiras sanitárias nas entradas da cidades. Enfim, em função desse isolamento e de tantas outras medidas nós estamos colhendo hoje bons resultados.  

Há uma previsão para a retomada das atividades?

É uma previsão que ninguém sabe. Ninguém pode afirmar nada neste momento, mas algumas medidas já estão sendo estudadas e outras elaboradas. Essa semana já conversei com o Secretário de Educação, Coronel Esmeraldino Correia, e em relação às escolas eu já solicitei que ele fizesse um planejamento, um projeto pedagógico para a retomada das aulas com duas datas, uma para 1º de junho e outra com previsão de 1º de julho. Mas nós não temos ainda a mínima ideia do que vai acontecer.

Já há números em relação ao impacto na arrecadação? Como está o diálogo com o setor do comércio e da indústria?

Todo o Brasil sabe da queda drástica de arrecadação e, já pensando nisso, nós temos algumas medidas como redução de gratificações, salários do prefeito, vice e secretários, publicação do decreto que propõe redução de no mínimo 50% nos contratos de aluguéis, revisão de todos os contratos da Prefeitura. Estamos também tomando medidas jurídicas com pleitos para que possamos suspender pagamentos de algumas obrigações com a previdência, INSS, entre outros. Estamos detalhando as finanças para saber exatamente o que nós perdemos, o que contingenciamos, o que renegociamos e assim ter o cenário real do impacto. Nós estamos tomando todas as medidas para minimizar o impacto da queda de arrecadação.

Algumas cidades já começaram a flexibilizar o funcionamento do comércio, como Feira de Santana. O que está previsto neste sentido?

Nós já flexibilizamos, como já falei. Nós fomos a primeira cidade a flexibilizar permitindo o funcionamento da cadeia produtiva da construção civil, casas de materiais de construção depósitos de cimento, serrarias, marmorarias, vidraçarias, serralherias, dentre outros. A Indústria está liberada. Nós viabilizamos também o setor de autopeças, ampliamos e colocamos as lavanderias, os postos de lavagem de carros, óticas. Nós estamos mantendo os serviços essenciais. Agora, em relação ao comércio de rua no centro da cidade, nós estamos trabalhando para depois das testagens. Isso também vai depender do que determinar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério Público Federal. Nós inclusive fizemos uma experiência de colocar o comércio para funcionar em dois turnos, em sistema de revezamento, pela manhã um tipo de segmento e pela tarde outro. Nós iniciamos mas tivemos que recuar por conta da recepção da população, que não foi boa. Eu ouvi a população e a população estava certa. E agora para tomar a medida de abrir geral, incluindo o comércio e as escolas, nós estaremos prudentemente aguardando o momento certo. E, para finalizar, nós tomamos diversas medidas, mas a providência mais importante é continuar pedindo orações. E peço que continuem orando pelo Brasil, pelo nosso estado e por nossa querida Vitória da Conquista. E que Deus nos abençoe.