'Entrou para apartar os conflitos', diz líder da PM sobre atuação na pipoca de Kannário

Entidades representativas da PM também vão abrir ações contra o cantor

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 25 de fevereiro de 2020 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Secom

Tão certo quanto a Quarta-feira de Cinzas, não faltam no Carnaval polêmicas envolvendo o cantor e deputado federal Igor Kannario. Na última segunda-feira (24), durante a passagem do cantor pelo Circuito Osmar, no Campo Grande, ele ofendeu uma tropa que fazia o policiamento ostensivo dos foliões pipoca. Por muito pouco, as declarações do cantor não incitaram a multidão contra os policiais e, como resultado, o Governo do Estado da Bahia acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para adotar as medidas legais contra o artista. O anúncio foi feito pelo governador Rui Costa, no perfil oficial no Twitter.  

Para Rui Costa, é inaceitável o ato público de desrespeito e agressão contra a Polícia Militar da Bahia registrado ontem, no Campo Grande. “Acionei a Procuradoria Geral para que o Estado formalize uma representação junto ao Ministério Público da Bahia a respeito deste fato. Medidas cabíveis que estiverem no âmbito do MP precisam ser tomadas em respeito à PM e em defesa da honra de pais e mães de família que fazem parte da corporação”, disse o governador na rede social. 

A Procuradoria Geral do Estado considerou o fato gravíssimo, por atentar contra a ordem pública, no uso de um trio elétrico patrocinado pela gestão municipal. O órgão estadual também estuda a adoção de outras medidas em relação ao caso.

Em nota, o cantor, que também é deputado federal, disse que seu comportamento se justificou na cobrança de uma abordagem adequada dos profissionais. O deputado ressaltou que tem respeito e admiração pela instituição Polícia Militar. “Não irei me calar quando excessos forem cometidos, como ocorreu nesta segunda”, disse. 

O parlamentar fez questão de reforçar que esse foi um caso pontual. A nota diz ainda que, no início do desfile, o cantor pediu aplausos para a PM e para os policiais que estão trabalhando arduamente neste Carnaval. "Mantenho meu imenso respeito pela Polícia Militar, valorosa instituição que tanto orgulha a Bahia. Mas ressalto que não vou me calar diante dos excessos, ainda mais contra a minha pipoca, que saiu das favelas para fazer uma festa linda na Avenida. Sou um político que tenho lado, e meu lado é o povo", ressaltou. (Foto: Secom) Postura distinta Para o Comandante Geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Anselmo Brandão, o comportamento do cantor é recorrente e pede da PM a adoção de posturas distintas das outras atrações do Carnaval em Salvador. “Temos adotado a estratégia de observar e só intervir quando houver necessidade. No entanto, a pipoca dele é conhecida por brigas constantes e a PM precisa ficar mais próxima do trio, a patrulha entrou para apartar os conflitos”, disse.

O coronel fez questão de salientar que, em anos anteriores, a passagem de Kannário terminou por prejudicar o comércio local e vários ambulantes tiveram seus isopores danificados. A presença da polícia, afirma, garante que haja o mínimo de danos. 

No que diz respeito a possíveis ameaças contra o cantor, o representante da PM afirmou que se trata de uma tentativa de se desculpar, transferindo a responsabilidade. “Ele nos xingou e nos agrediu e, na tentativa, de justificar o erro de ter começado essa situação, quer se proteger”, completa Anselmo Brandão, salientando que a PM voltará a acioná-lo na justiça.  

Decoro O Presidente da Associação de Praças da Polícia e Bombeiro Militar da Bahia (APPMBA), o sargento Roque Santos classificou o comportamento do artista como inaceitável e irresponsável. “Faltou pouco para que a tropa não fosse agredida pela massa. Todo os anos, nos deparamos com esse comportamento inadequado, desqualificando o trabalho dos policiais”, disse, salientando que a Associação tomará as medidas cabíveis para que haja uma punição para o deputado.

“Inclusive, assim que a Câmara (dos Deputados) retornar do recesso, procuraremos o presidente Rodrigo Maia numa queixa contra a quebra de decoro parlamentar”, complementou o representante da APPMBA, ressaltando que envolverá a Associação Nacional das Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares, para que o caso ganhe repercussão no Brasil.

O presidente da Força Invicta, o Major Copérnico Mota, afirma não conseguir entender a gratuidade do comportamento agressivo do cantor em relação à PM. “Essa animosidade é unilateral. Não temos nada contra o cantor e deputado, mas é preciso que essas atitudes irresponsáveis parem de se repetir no Carnaval, num momento em que a PM está focada em manter a ordem pública”, pontuou. 

Colecionando ações anteriores, o presidente da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares e seus Familiares, o também deputado Marco Prisco Machado diz que novamente será movida uma ação contra Kannário. “Poderia ter acontecido uma tragédia, inclusive, três de nossos associados estavam envolvidos nessa situação. Essa não é a postura de um parlamentar”, finalizou.

Partido Apesar de condenar as declarações dadas por Igor Kanário em relação ao trabalho da Polícia Militar, o prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto, rechaçou a possibilidade de uma punição partidária ao cantor. Para Neto, as declarações não teriam nenhuma relação com a atuação partidária ou política de Kanário. 

“Acho que uma declaração de ataque à polícia, ou de questionamento, é completamente inapropriada para este momento. Nós temos que ressaltar que a polícia é fundamental para que o Carnaval aconteça e eu considero que a declaração foi totalmente inadequada e eu não concordo com ela de maneira alguma”, respondeu o prefeito durante entrevista coletiva no centro de imprensa da Prefeitura no Carnaval, instalado no Campo Grande. 

O prefeito avaliou que este tipo de declaração não contribui em nada para o Carnaval. Segundo Neto, a Prefeitura não pode fazer o papel de censurar os artistas. Ele lembrou que durante o mandato de Michel Temer na Presidência muitos artistas pediam a saída dele do cargo e que agora muitos pedem a saída do presidente Jair Bolsonaro. “A gente não pode fazer censura prévia de ninguém. Não cabe à Prefeitura, nem a mim como prefeito”, disse. 

O prefeito disse que pretende conversar com Kanário após o Carnaval a respeito das declarações. “Eu acho que as opiniões dele não contribuem, então espero que ele possa refletir e evitar esse tipo de declarações de provocação no futuro”, disse. “Sou do time do diálogo, vou conversar com ele e pedir que preferencialmente não repita aquilo. E aí, eu não estava presente, mas qualquer coisa que se fale numa festa deste tamanho contra uma instituição que é fundamental para o Carnaval não é legal”, destacou.

Príncipe do gueto e das polêmicas 1.    Em 2012, o artista – cujo nome civil é Anderson Machado de Jesus -  foi acusado de destruir um quarto do Hotel River Side, em Aracaju, além de agredir um funcionário com dois socos no rosto. Na ocasião, a polícia foi chamada para conter Kannario. 2.    Três anos depois, ele 2015 foi autuado por tráfico de drogas e chegou a ser encaminhado para a penitenciária na Mata Escura. 3.    Kannario e o músico João Pedro Laurentino passaram uma noite detidos na Delegacia da Lapinha por posse de drogas. 4.    O cantor também teve o carro apreendido por dirigir com a habilitação vencida. Na ficha dele, constam ainda três outras infrações relacionadas a documentação irregular.  5.    Em 2014, um tiroteio num show do cantor deixou o saldo de dez feridos e uma morte, em São Francisco do Conde 6.    "Discuto com ele quase todo dia, meu filho. Sou evangélica e ele é do demônio [sic]. Ele já me desacatou várias vezes. Quando ele passa de fora pra dentro de casa, se transforma". A fala da mãe do cantor, Dejanira Machado reflete as relações familiares difíceis. 

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