Escola suspende pagamento da prestação para os cursos de Educação Infantil

Mensalidade Zero: Diminuição temporária terá um impacto de R$ 60 mil na receita do Colégio Marizia Maior, em Stella Maris

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  • Priscila Natividade

Publicado em 3 de maio de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

“Para nós a aula virtual é só um paliativo”. Esse foi principal ponto que o diretor administrativo do Colégio Marizia Maior, Carlos Maior, colocou na mesa ao decidir suspender o pagamento do valor integral das mensalidades das turmas da Educação Infantil durante a pandemia. “Uma das coisas principais que a escola proporciona é a interatividade humana. Escola não é banco, não é comércio. Não íamos só colocar o professor em um vídeo para contar história”, diz.

A posição do diretor  da escola localizada no bairro de Stella Maris, em Salvador, bate de frente com o argumento que tem sido usado por boa parte dos colégios da capital que ainda não reduziram as mensalidades. Das 169 unidades filiadas ao Sindicato das Escolas Particulares da Bahia (Sinepe-BA), a maioria tem ofertado descontos de até 30% nas mensalidades. Em levantamento feito pelo CORREIO desde o início da pandemia, somente o Colégio Helyos, em Feira de Santana, seguiu uma estratégia parecida com a da  Marizia Maior até agora: suspendeu a cobrança das mensalidades para o Ensino Infantil. O Helyos, porém, não deu abatimento para as demais séries. 'Não posso cobrar por uma aula que eu não vou repor lá na frente', defende Carlos Maior (Foto: Acervo Pessoal)   “Nós não estamos fazendo favor nenhum. Isso é tratar o assunto com honestidade e transparência. Se nós não vamos conseguir repor as aulas da educação infantil quando essa situação passar, eu não tenho porque cobrar isso. Tem que ter bom senso”, defende Carlos Maior.

As turmas do Grupo 3 ao Grupo 5 somam 60 crianças. Levando em conta os matriculados nos cursos Fundamental I, Fundamental II e Médio, a escola tem, atualmente, 600 alunos. Só o valor pago por mês na Educação Infantil é de R$ 1 mil por aluno, sem os descontos aplicados antes mesmo da pandemia, a exemplo de quitação  em dia (10%), irmãos e indicações (5%).  A diminuição temporária com essas turmas representa um impacto contablizado de R$ 60 mil a menos na receita.

Recomendação No último mês, o Ministério Público do Estado divulgou um documento recomendando que as instituições de ensino com cursos de educação infantil suspendam a vigência dos contratos até o término do período de isolamento social, caso os pais não concordem com proposta de desconto ou de compensação futura.

A recomendação não é obrigatória, mas favorece quem decidir acionar a Justiça. “Estas escolas que trabalham com a margem alta devem flexibilizar, sim, um desconto. A que não possui uma margem de lucro grande não pode deixar de se sensibilizar com o prorrogamento de prazos e parcelamentos sem juros”, opina Carlos Maior.

 Acordos  Para segurar a suspensão das mensalidades da Educação Infantil, Maior conversou abertamente com os professores. A escola tem 85 funcionários entre professores e equipe administrativa. “Fiz uma planilha de custo real. Temos uma margem de lucro de 10%, algo bem honesto.  A folha de pagamento responde pela parcela mais pesada, assim como os impostos, que neste caso conseguiremos postergar. Parte do valor que irá complementar o orçamento virá da nossa reserva financeira”, explica Maior.

Como  o  Marizia  não está oferecendo nenhum tipo de atividade para as crianças da Educação Infantil, os professores concordaram em não receber o salário-base. A escola vai manter os empregos e  todos os encargos trabalhistas. “Ainda assim, se eu tiver condições , eu vou pagar  os salários”, garante Maior.

Nos cursos do Ensino Fundamental I e II e Médio, as mensalidades sem desconto variam de R$ 1,1 mil a R$ 1,9 mil. Para estas turmas, o Marizia Maior vai manter o plano de descontos da  matrícula, que é de até 25%, porém, não vai suspender as prestações.

O diretor explica que diferente da Educação infantil, as aulas serão repostas, ainda que isso signifique uma extensão do ano letivo sem nenhuma cobrança extra. “O Ensino Fundamental e o Médio têm uma carga curricular que deve ser cumprida”, justifica.

 Outras soluções  Atualmente, o índice de inadimplência do Marizia Maior é de 20%. Antes da pandemia, segundo Carlos Maior, esta estimativa não chegava nem a 3%. Mesmo sem a redução para o Fundamental e o Médio, o diretor diz que os pais que perderam emprego, tiveram contratos suspensos ou salários reduzidos podem procurar a escola para negociar. 

Ele  garante, ainda, que nenhum professor será demitido. “A escola vai estar sempre aberta ao diálogo, porém, com transparência do que ela pode ou não fazer. Eu prefiro me desfazer de tudo se tiver que demitir um professor por causa da pandemia. São 35 anos de trabalho. Deixei meu emprego na Petrobras para abrir a escola por amor à educação. Fazemos o que deve ser feito e o pagamento adequado por isso é uma consequência”.  

COMO A ESCOLA CONSEGUIU 

A planilha de custos da escola precisa ser real e a análise também. Veja até onde pode chegar esta redução.

Coloque a preservação dos empregos e do salário dos professores como prioridade. Ouça sua equipe e faça acordos.

Seja transparente ao trazer uma proposta para os pais: se o serviço não tem condições de ser prestado ou não está sendo entregue como deveria por conta da pandemia reconheça que não há o que cobrar. É uma questão de bom senso.

Caso a escola não tenha margem para fazer as reduções, abra espaço para negociar outras alternativas com os pais, sobretudo, os que perderam renda: prorrogue prazos ou parcele o valor da mensalidade sem cobrança de juros.

A relação entre escola e família precisa ser parceira. Isso só se conquista quando a escola estabelece uma relação de confiança desde quando um pai matricula seu filho na escola. É estar disposto a se abrir para o diálogo.