Escolas de educação infantil fecham as portas em Salvador e Lauro de Freitas

Ao menos 10 pré-escolas e creches encerraram as operações

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Enfrentando inadimplência nas mensalidades, cancelamento de matrículas e impasses na aplicação de ensino à distância, as escolinhas particulares de educação infantil, que atendem crianças de 0 a 6 anos, vêm enfrentando sérias dificuldades. Ao menos 10 pré-escolas e creches de Salvador e Lauro de Freitas fecharam durante a pandemia desde que as aulas foram suspensas em março, conforme contabiliza o Grupo de Valorização da Educação, que reúne 80 instituições de ensino da capital e Região Metropolitana. 

O dado não inclui os recentes anúncios de fechamento de unidades de ensino fundamental e médio como o Isba, em Ondina, e a do Sartre, que fecha a unidade do  bairro da Graça e agora segue para Amaralina. Entre as pré-escolas que divulgaram encerramento de atividades estão a Escola Pirilampo, no Imbuí, com 39 anos de história, a Cantinho da Cinderela, que é ligada à Escola Villa Laura, com 45 anos de existência.

O encerramento das atividades da Cantinho da Cinderela foi anunciado no último dia 30 de outubro. Já o anúncio da Pirilampo aconteceu na última quarta-feira (4). Em carta respeitosa aos pais, Nana Diniz, dona da instituição, conta que o cenário de 2020 foi inimaginável e que, apesar do sofrimento e dificuldades, a comunidade escolar pode refletir sobre as próprias vidas. 

"Tive a alegria de alfabetizar, além de milhares de crianças maravilhosas, a minha própria filha e posteriormente meus netos", lembrou. "Apesar de lembrar com tanta gratidão e alegria, percebi que é hora de parar. Uma decisão difícil, mas a mais certa a se fazer”, escreveu.

Demissões Preocupado com o encerramento de atividades de estabelecimentos, o GVE diz que as limitações impostas pelo poder público em virtude da covid-19 têm gerado “uma crise sem precedentes e irrecuperável no setor educacional”. Porta-voz do GVE Wilson Abdon  prevê que o fenômeno irá desestruturar todo o sistema de ensino, tanto público como privado. 

Com as escolas fechadas, as principais apreensões do grupo são as constantes demissões de profissionais, a quantidade de pais e crianças desassistidas e que, lá adiante, creches e pré-escolas públicas não tenham condições de atender a demanda desses alunos egressos da rede particular. 

“O fechamento de escolas significa uma perda social e emocional muito grande para toda uma comunidade, de vínculos, de relações, história. Como ficará o acolhimento dessas crianças ano que vem? A rede pública não dispõe de vagas nem de estrutura para receber essa nova demanda”, alerta Abdon.

Com as restrições de aulas determinadas pelas autoridades, a pedagoga Juliane Maranhão precisou desativar neste ano a Escola Bacuri Jatobá, em Itapuã, da qual é diretora, e optou por se reinventar trabalhando com homeschooling (educação domiciliar). Para ela, apesar de ter fechado temporariamente a escolinha, a reinvenção deu muito certo, mas, de fato, reconhece que o cenário tem sido difícil para muitas instituições. 

“Achei por bem não abrir mais esse ano porque sei que crianças ficam muito próximas, mas tem muitas questões financeiras, muitos espaços de convivência e escolinhas fecharam, principalmente escolas pequenas e talvez elas não reabram mais. Tem muitas escolas que poderiam voltar, os pais querem, não é todo mundo que pode arcar com o homeschooling”, aponta Juliane .

Na avaliação do Grupo de Valorização da Educação, é urgente que tanto a prefeitura quanto o governo do estado construam um plano de segurança para a retomada. Wilson Abdon diz que o que as escolas querem não é exatamente uma data definitiva de retorno, mas que sejam delineadas estratégias para que, em algum momento, possibilitem a volta às aulas para os pequenos. 

 Enquanto nada é decidido, pais de alunos não têm buscado matrículas para 2021 por falta de definições. O porta-voz do GVE diz que muitos responsáveis têm chegado com dúvidas sobre quando a volta será possível, se será gradual, qual o limite de alunos por sala, entre outras. “Falta organização do governo, falta um projeto sério para as escolas. Mais uma vez, a educação está sendo relegada à última opção”, avalia Wilson Abdon.

Ele observa que o isolamento entre as crianças já vem sendo muito flexibilizado porque a meninada tem ficado ansiosa, o que fez com que muitos pais, para amenizar, passassem a levá-los para shoppings, parques, piscinas, visitas a primos e vizinhos. O porta-voz defende que as escolas de educação infantil podem abrir de forma gradual, com salas mais limitadas. 

A média de crianças por turma em creches privadas no Brasil é de 11,7 alunos, enquanto na pré-escola são cerca de 14,2, conforme dados do último Censo da Educação Básica do Inep/2019.

Para Abdon, o serviço pode continuar sendo opcional para as famílias, que devem escolher retornar quando se sentirem seguras. “Entendemos os motivos que justificaram o fechamento das escolas, mas já passa da hora de dialogarmos abertamente com o poder público, para que cheguemos a uma conclusão que impeça o desmonte da escola particular na Bahia”, encerra Abdon.