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Nilson Marinho
Publicado em 20 de agosto de 2018 às 21:33
- Atualizado há 2 anos
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O resfriado chegou acompanhado de uma tosse e uma dor no peito. A dona de casa Juceli Cordeiro, 56 anos, já não tem disposição para mais nada – só lhe resta forças para levar a toalhinha à boca, todas as vezes que solta um espirro. Na emergência da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris, em Salvador, onde procurou a ajuda de um médico nesta segunda-feira (20), ela diz ter identificado pelo menos uma dúvida de pessoas na mesma situação: a virada do tempo, acredita, foi a responsável por trazer os sintomas.>
Apesar da impressão, a mudança no padrão de temperatura não tem sido muito grande, de acordo com a meteorologista Diva Cordeiro, do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia (Inema-BA). “Ultimamente não temos tido esse padrão de frio como esperávamos. (...) Claro, tem um dia ou outro que a temperatura ficou abaixo disso, como, por exemplo, em 5 de agosto, quando foi possível sentir 20,7°C", explicou ela.>
Neste mês, os termômetros costumam baixar até 21,3ºC, em média, mas as mínimas têm ficado inclusive um pouco acima: sempre entre 22ºC e 23ºC.>
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Ainda assim, desde que uma frente fria chegou à cidade, sexta-feira, o tempo está um pouco mais instável (ver mais abaixo), e isso pode ajudar a espalhar as gripes e os resfriados, como explicou a médica alergista e imunologista Maria Cecília Freitas de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia da Regional Bahia (Asbai-BA). Em períodos mais frios, segundo ela, as pessoas tendem a se aglomerar em espaços fechados, sem circulação de ar, como ônibus e shoppings, o que favorece a contaminação. Além disso, o aumento da chuva provoca o crescimento de mofo na parede de casas que têm infiltração, deixando principalmente as pessoas alérgicas mais vulneráveis.>
Assim que chegou à triagem da UPA dos Barris, dona Juceli recebeu uma fita azul, o que indica, de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde, que o quadro clínico não é grave e poderia ter sido resolvido em qualquer posto de saúde do bairro. A dona de casa Juceli Cordeiro, que está tossindo bastante, na UPA dos Barris (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Mas os sintomas eram tão fortes que ela não viu outra opção. "Uma dor chata na garganta e uma tosse que não para. Eu senti de uns dias pra cá, quando o tempo começou a mudar", acredita. Da UPA, saiu com a receita de remédios indicados para problemas respiratórios.>
Também na UPA dos Barris, o estudante Rafael Vitor Ribeiro da Páscoa, 11, além de um expectorante, recebeu de uma médica o atestado que justificava a sua ausência na escola. O pequeno já havia faltado no dia anterior por não controlar a tosse. >
"Os colegas reclamaram porque eu estava tossindo demais, atrapalhando a prova", lembrou ele. A avó de Rafael, a aposentada Rosa Lúcia da Páscoa, 73, também apresenta os mesmos sintomas do neto. "Mas não procurei ajuda, não. A prioridade é ele", afirma dona Rosa. Rafael não foi pra aula por causa de tosse; a avó Rosa também sente sintomas (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Tempo bom, tempo ruim Segundo os meteorologistas, de sexta-feira (17) para cá, uma convergência de umidade tem vindo do oceano em direção à costa trazendo uma incidência maior de chuvas e, consequentemente, temperaturas mais amenas. O problema é que esse tempo não demonstrou ser constante ao longo do mês, causando as mudanças de tempo, o que pode também causar os resfriados e as gripes.>
Leia também: Entenda a diferença entre gripe e resfriado>
Na verdade, explica a meteorologista Diva Cordeiro, durante toda a primeira metade do mês de agosto, o tempo se manteve parcialmente nublado e com várias aberturas de sol e sem chuvas na maior parte do tempo, uma situação considerada atípica pelos especialistas.>
"Se comparado ao ano passado, que foi até um ano bem chuvoso, este ano, não tivemos tantas chuvas. Esperávamos uma maior inserção de chuvas, frentes frias e mais umidade vinda do oceano. Tivemos, no entanto, o contrário", explica. >
Na manhã desta segunda, enquanto a dona de casa recebia atendimento, uma chuva fraca caía na região dos Barris por volta das 10h. Às 12h, no bairro da Barra, já era possível ver o céu completamente limpo, sem nenhuma nuvem densa e o sol a pino. Duas horas depois, no entanto, na Federação, uma garoa caiu de forma constante até por volta das 14h30.>
O tempo, diz a meteorologista, deve continuar da mesma forma até o fim do Inverno, em 22 de setembro: sempre fina e em alguns pontos da cidade. Neste mês, afirma a também meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a quantidade de chuva foi bem abaixo do esperado.>
Chuva e umidade Enquanto as estações pluviométricas esperavam registrar uma média de 133,5 mm, tendo como base o histórico dos últimos 30 anos, até as 11h desta segunda a estação do instituto localizada em Ondina tinha coletado apenas 30,90 mm, ou seja: apenas 23% do esperado para o mês. >
Já a média das 23 estações do Inema, espalhadas em vários bairros da cidade, registraram 23,4 mm. >
A convergência vinda do oceano foi responsável por aumentar a umidade da costa, o que é uma boa notícia para os moradores da região central do estado e do Vale do São Francisco que estavam sofrendo, afirma a Cláudia Valéria, com a baixa umidade relativa do ar. >
Em Salvador, a umidade da cidade aumentou para 86%, o que podemos considerar um dia bem úmido. Desde o dia 1°, a umidade média era de 70%, o que é considerado uma porcentagem normal para uma cidade litorânea como Salvador.>
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.>