Especialistas dão dicas de cuidados para evitar acidentes com kit gás

Explosão de kit em posto do Stiep na manhã desta quarta (11) deixou motoristas e moradores dos arredores assustados

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  • Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Joana Costa/Leitora CORREIO

Coordenador do curso de engenharia da Unijorge e morador do Stiep, o engenheiro mecânico e de Petróleo e Gás Raul Santos esteve pela manhã no local do acidente causado após explosão de um kit gás veicular num posto de gasolina no Stiep. O caso chamou atenção e chegou a gerar prejuízos em prédios nos arredores, assustando motoristas e moradores. Ficou a pergunta: como evitar tudo isso? Perguntado sobre o que teria provocado a explosão, ele preferiu não arriscar, destacando que só uma perícia para apontar a causa, porém listou quatro pontos importantes sobre cuidados com instalação de kit gás. “A maioria dos acidentes do gênero está relacionada à falta do cumprimento de uma dessas regras”, disse Raul. 

Segundo o especialista, a primeira recomendação é não fazer a instalação de forma clandestina."Alguns tanques que existem no mercado são piratas e não têm a mesma qualidade, nem o padrão. Os tanques têm que ter o padrão e tem que ter a certificação Inmetro. Tem umas instalações clandestinas aí que o pessoal compra, faz sem o selo do Inmetro”, explicou.A segunda orientação é fazer a manutenção. “Você tem que requalificar, recadastrar o kit. A cada cinco anos você tem que fazer a manutenção e essa manutenção também deve ser com pessoas com mecânicos autorizados. É o que digo brincando: ‘todo brasileiro é técnico de futebol e engenheiro mecânico’,  porque todo mundo tem essa mania de mexer com o carro, achar que pode consertar, mas o carro é algo sério. Então qualquer manutenção deve ser feita por pessoas credenciadas, qualificadas pelo Inmetro, a fim de evitar sérios problemas”, disse.

Não modificar o kit gás é o terceiro ponto destacado pelo especialista. “Você não pode modificar em nada. Dentro da manutenção inclusive tem gente que usa peça reaproveitada, peça de segunda mão. Existem outras peças do carro que são possíveis, mas na parte de gás não se pode usar material que já está danificado, não se pode usar peça reaproveitada”, alertou. 

Deixar o carro sempre com uma certa quantidade de combustível é o quarto ponto. “É saber que  um carro foi criado para trabalhar com combustível. Então você não pode deixar de manter o tanque com uma certa quantidade de combustíveis, senão as partes internas secam. Então a recomendação normal é de você trabalhar com pelo menos 1/4 do tanque sempre com combustível, para não secar. Porque se seca uma peça, uma bomba de combustível por exemplo, ela trava provoca o aquecimento e curto daí começa o incêndio”, explicou.

Ainda em relação ao abastecimento, o engenheiro químico com carreira industrial no Polo Petroquímico de Camaçari e professor da Unifacs Murilo Amorim afirma que colocar o kit gás no carro é algo delicado e que precisa ser um processo muito cuidadoso desde a pesquisa para definir a oficina que fará o serviço.

Além disso, o professor orienta que, no abastecimento, é preciso estar com o motor e equipamentos elétricos desligados, evitar o uso de celular próximo ao carro, não fumar de jeito nenhum e também aconselha deixar portas e porta-malas abertos. Aconselha-se que as pessoas que estão no carro fiquem um pouco afastadas do veículo em abastecimento.

"Trata-se de um gás comprimido dentro do cilindro. Chega a pressões muito altas, 200kgf/cm², quem tem precisa saber disso e ficar atento porque essa medição precisa ficar visível a quem está abastecendo", informa.

Essa pressão tão grande é o que causa os riscos de explosões e incêndios. De acordo com o especialista, um problema com kit gás, causado, por exemplo, por uma ruptura do cilindro, gera uma expansão muito veloz no gás que está comprimido. Isso gera um deslocamento de ar violento, que é o que quebra vidros, instalações e, a depender da distância, derruba até concreto. Isso sem mencionar os incêndios.

Regulamentação O CORREIO buscou as secretarias de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) e de Ordem Pública (Semop) para saber se existe algum tipo de regulamentação municipal que defina, por exemplo, qual a distância que um posto de abastecimento pode ter de uma outra unidade e se há definições sobre a distâncias desses estabelecimentos para zonas de moradia, mas não obteve respostas.

Segundo Murilo Amorim, existem recomendações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) falando sobre a distância aconselhada entre postos de abastecimento e algumas construções como habitacionais, hospitais e semelhantes. Mas são apenas recomendações, sem qualquer força de lei.

A recomendação estipula que haja a distancia mínima de 500m entre dois postos, 500m para as construções críticas do ponto de vista de proteção à vida como asilos, hospitais, creches, depósitos de explosivos e munição. Além disso, recomenda-se que os estabelecimentos sejam montados a 200m de túneis e pontes. Tudo isso por serem locais que lidam com materiais altamente inflamáveis.