Especialistas defendem preservação dos sítios de naufrágio na BTS

Processos erosivos e correntezas aumentam a degradação nas áreas submersas desprotegidas; Há, ainda, a depredação para retirada de suvenires

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  • Murilo Gitel

Publicado em 3 de dezembro de 2017 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Manu Dias / Gov. da Bahia)

Promover a identificação, localização e proteção dos sítios arqueológicos de naufrágios na Baía de Todos os Santos (BTS) é o principal objetivo do Observatório de Riscos e Vulnerabilidade Socioambientais da Baía de Todos os Santos (ObservaBaía), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O ObservaBaía mapeou um total de 18 naufrágios ocorridos na BTS – divididos em 14 sítios - entre 1627 e 1980. Estes sítios são visitados regularmente por mergulhadores do Brasil e do exterior, que acabam atraídos pelas boas condições da água e acessibilidade.

De acordo com o grupo de pesquisadores, que conta com antropólogos, geólogos e arqueólogos, “os sítios arqueológicos de embarcações naufragadas possuem um incomensurável potencial científico, visto que guardam informações e artefatos de importantes momentos da história da Bahia e do Brasil, mas que nunca foram corretamente estudadas e divulgadas. Infelizmente, esses sítios arqueológicos encontram-se ameaçados por fatores de ordem natural e humana, e precisam ser preservados”.

Ameaças

Processos erosivos e correntezas aumentam a degradação nas áreas submersas desprotegidas, além disso, há a depredação para retirada de suvenires das embarcações, o lançamento de âncoras e a poluição marinha.

O professor do Departamento de Antropologia da UFBA, Carlos Caroso, que coordena o grupo de pesquisa, defende a importância desse tipo de trabalho e reivindica apoio das agências de pesquisa e dos governos em todos os níveis de administração. “Os dados registrados pelo engenheiro naval/historiador José Góes de Araújo [autor de Naufrágios e Afundamentos – costa do Brasil 1503-1995 (IGHB 2000)] não receberam qualquer intervenção de arqueologia stricto sensu e, devido aos saques e crescente depredação, muitos destes estão prestes a desaparecer como fonte documental”, alerta.

Conhecimento

No estudo preliminar “Patrimônio Cultural Subaquático da Baía de Todos os Santos”, desenvolvido entre 2015 e 2016, os pesquisadores do ObservaBaía defendem a produção sistemática de conhecimento acerca desses sítios, bem como a elaboração de uma política regional de estudo, proteção e usufruto destes recursos culturais compatível com sua representatividade.

Caroso afirma que costuma reagir criticamente a ideia de “potencial turístico” e que é preciso pensar de maneira diferente em relação ao sentido predatório em que agem alguns operadores de turismo e de mergulhos exploratórios. “É

importante promover a educação patrimonial para que as pessoas possam tratar os tesouros de conhecimento, e não de bens a serem saqueados e pirateados, de maneira respeitosa e como bens comuns à toda a humanidade”, ressalta o professor da UFBA.

Desafios

O especialista listou três tipos de dificuldade para o estudo dos naufrágios na BTS. A inexistência de pessoal especializado em arqueologia marítima/náutica/subaquática; a falta de recursos que permitam a realização dos estudos; a ausência de instituições de pesquisa que desenvolvam políticas voltadas para a valorização deste patrimônio. “É importante lembrar que lamentavelmente todo este patrimônio de valor inestimável corre o risco de desaparecer definitivamente sem que seja conhecido.”

Segundo Caroso, apenas um salvamento arqueológico em sítio subaquático foi realizado até hoje na Bahia, em 1975, próximo à costa oceânica de Salvador, à altura do Rio Vermelho, no banco de areia denominado Santo Antônio. “No trabalho pioneiro da Marinha Brasileira, atuou como arqueólogo o pesquisador Ulisses Pernambucano de Mello, do IPHAN de Pernambuco. A equipe de mergulhadores resgatou um número expressivo de peças que permitiu conhecer as características dos passageiros e tripulação a bordo dessa embarcação, o Galeão Sacramento, cujo destino era Salvador ao naufragar em 1668”, lembra.

Na mesma linha, o doutor em arqueologia Rodrigo Torres, um dos maiores especialistas em sítios de naufrágios na BTS, defende maior fiscalização e parcerias. Hoje o turismo em sítios de naufrágio na BTS não possui qualquer regulação ou protocolo de boas práticas, de modo que a cada ano é visível o desgaste nos locais mais visitados. Seria necessário, como medida urgente, estabelecer pontos de fundeio fixos neste locais e sinaliza-los, aumentar a fiscalização e as ações educativas. Para atingirmos um ponto de turismo sustentável, cujo potencial é imenso na BTS, será necessário o trabalho conjunto de pesquisadores, do Iphan, da Marinha do Brasil e das operadoras de mergulho.