Especialistas explicam importância da escuta ativa para minimizar erros no trabalho

Quem ouve bem, produz melhor

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 21 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Saber ouvir sempre foi sinônimo de cortesia e atenção. No entanto, a escuta atenciosa, também chamada de escuta ativa, nunca foi tão valorizada como nos dispersos e turbulentos dias atuais. Nos ambientes de trabalho, a escuta ativa impacta diretamente nos resultados e na produtividade. A ausência dessa importante ferramenta de comunicação tem um custo alto, capaz de provocar ausência de colaboração, descontentamento, falta de motivação e engajamento.

O economista e mestre em filosofia Matheus Jacob destaca que 60 % dos erros que acontecem nos ambientes corporativos possuem os ruídos de comunicação como principais responsáveis. “Muitas vezes, não estamos ouvindo e acabamos fazendo algo errado, ou aprovando algo errado ou entendendo algo errado. É preciso investir em treinar os comunicadores, mas também treinar quem está ouvindo”, salienta. Matheus Jacob destaca que quando se trabalha numa empresa onde os líderes não ouvem, a empresa não ouve e o colaborador passa a falar menos e a ter menos engajamento (Foto: Divulgação) Matheus faz questão de destacar que quando falta escuta ativa, sobra ruído. “Quando falta escuta ativa, falta confiança, falta fala ativa. Se alguém trabalha numa empresa onde os líderes não ouvem, a empresa não ouve, o colaborador passa a falar menos e, com isso, vai deixando de ser uma empresa que tem uma cultura de manifestação”, completa. 

Trocas vitais

A doutora em linguística pela Unicamp e professora universitária Vivian Rio Stella destaca que escutar pressupõe considerar o outro, não apenas você mesmo. “É sair do próprio universo, de repertórios e práticas enraizadas no cotidiano, e olhar novas universos, pois só assim é possível haver diálogo, diversidade, inovação, colaboração, competências tão essenciais no mundo em que vivemos”, reforça. Vivian Rio Stella destaca que escutar pressupõe considerar o outro, possibilitando o diálogo, diversidade, inovação, colaboração (Foto:Divulgação) Para a diretora da Véli RH Margot Azevedo, qualquer que seja o segmento ou atividade, os ambientes de trabalho são lugares de trocas e desenvolvimento de relação e, justamente por isso, precisam ser espaços de   O ambiente de trabalho, independentemente do segmento de atuação, deve ser um lugar de trocas e colaboração. “Um diálogo eficiente é imprescindível para a construção de relações saudáveis e produtivas no trabalho e, para que seja realmente eficiente, precisamos entender que, mais importante que priorizar a sua fala, a expressão das suas ideias, é saber escutar as ideias dos outros”, esclarece.

A especialista em RH afirma que, onde houver mais de uma pessoa trabalhando, há necessidade de interação. “A escuta ativa é uma das práticas que mais colaboram no processo de comunicação corporativa e favorece a melhoria das relações pessoais, do clima organizacional e, consequentemente, impacta positivamente na produtividade”, defende.

A perspectiva de desenvolver a escuta ativa no ambiente organizacional se transformou numa necessidade e, para tanto, a sugestão de Margot Azevedo é que, nos diálogos, haja real interesse pelo que o outro está dizendo, sem julgamentos. “Para praticar uma escuta ativa é preciso se despir de preconceitos, abrir a cabeça e apreciar opiniões diferentes da sua, buscar entender, fazer perguntas pertinentes”, ensina, lembrando que essa ferramenta de comunicação não significa concordar com tudo, mas aceitar que há opiniões e visões diferentes acerca de tudo e que respeitar essa diversidade é muito enriquecedor.

Ouvido atento

Jacob acredita que para desenvolver a escuta ativa é fundamental que haja uma consciência. “Quando a gente fala da ativação de uma habilidade de comunicação, da escuta ativa, a gente está falando de ter consciência se efetivamente eu estou ouvindo, eu estou lendo, eu estou interpretando aquela pessoa de forma correta ou não”. Para tanto, a dica é desenvolver o que ele chama de mapa de empatia, onde são colocados os desejos do interlocutor, validação de conteúdo, que é a certificação de que houve compreensão do que foi dito.  Margot Azevedo defende que a escuta ativa deva começar pelas lideranças de uma organização para que o exemplo possa contagiar a todos (foto: Divulgação) As empresas também podem colaborar com o desenvolvimento dessa habilidade, construindo ambientes colaborativos, criando canais de comunicação simples e ágeis, praticando políticas de comunicação que favoreçam o diálogo e os retornos constantes. “Criar uma política de valorização da diversidade é também muito importante. As lideranças precisam dar o exemplo”, diz Margot.

Vivian Rio Stella defende a criação de canais de comunicação que garantam essa escuta, seja em redes sociais colaborativas, rodas de conversa ou mesmo o uso de ferramentas como jamboard e mentimeter para saber o que as pessoas têm a dizer, contribuir, colaborar. “Pensando em ações abrangentes, vale investir em programas de influenciadores internos, comitês temáticos, formas de dar mais autonomia e espaço para contribuições. Claro que há um trabalho a ser feito também com as lideranças, para que elas estimulem a participação, que escutem ativamente”, finaliza. 

Dicas para trabalhar e exercitar a escuta ativa: 

* Tente desenvolver a empatia, se coloque  no lugar do outro, a partir da perspectiva dele, antes de emitir uma opinião. Busque entender quais as motivações daquela pessoa, os seus valores, suas necessidades e expectativas.

* Durante uma conversa, evite qualquer coisa que cause distração, como checar o celular, verificar e-mails, usar aplicativos, digitar nas redes sociais, dentre outras coisas. O mesmo vale para conversas paralelas com outras pessoas e telefonemas.

* Cuide da sua saúde mental, não se estresse muito, procure equilibrar sua rotina. Fazer um esporte, meditar e até dar aquela “fugidinha para um sorvete ou similar”, em alguma brecha da rotina de trabalho ajude a manter o seu equilíbrio emocional.