Especialistas indicam saídas para pequenos e micro-empresários durante pandemia

Confira dicas para aumentar as vendas e reduzir os custos no momento de crise

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 23 de março de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo pessoal/reprodução

Desde que as administrações municipal e estadual determinaram o fechamento das atividades comerciais consideradas não essenciais, como farmácias e supermercados, uma questão tem tirado o sono de pequenos e micro empreendedores: como manter salários, fluxo de caixa, compromisso com fornecedores e abastecimento sem movimento comercial? Pensando em ajudar a encontrar soluções num momento tão delicado, o Correio reuniu dicas e serviços oferecidos gratuitamente para minimizar os impactos da quarentena na vida de quem não pode parar suas atividades.

Comerciante de geleias, molhos e antepastos, a empresária Luciana Moura, da Dona Domitilla, teve sua rotina completamente alterada por conta da quarentena, especialmente para quem, como ela, tem seu maior mercado consumidor nas feiras realizadas cidade. “Os clientes estão se retraindo por conta da insegurança e como medida de prevenção. Meu estoque está lotado de produtos, mas as feiras de rua são o meu principal meio de contato com o cliente final, com o cancelamento, o estou bastante prejudicada”, relata. 

Buscando uma alternativa para esse quadro, Luciana ampliou o contato nas redes sociais. “Fizemos um comunicado nas redes sociais e listas de transmissão,  tentando conscientizar os cliente da importância de não parar completamente de comprar do pequeno produtor”, diz, salientando que a Dona Domitilla, atualmente,  faz entrega através de um aplicativo de delivery.

“Estamos tentando ampliar para outros aplicativos para dar mais opções aos clientes, porém este processo demora um pouco. O cliente que retirar seu pedido no nosso ponto de entrega em Brotas terá desconto de 10%.”, esclarece Luciana, salientando que essa é uma forma do produto girar e sair do estoque com segurança para todos. “Os pedidos são feitos previamente pelo Whatsapp ou Instagram e retirados no local indicado com horário combinado, sem precisar descer do carro e ainda recebem um sachê de álcool 70°!”,completa. 

Informação e comunicação O sócio-diretor e consultor da Prosphera Educação Corporativa, consultoria multidisciplinar especializada em gestão de negócios, Haroldo Eiji Matsumoto salienta que, num período turbulento e de muitas incertezas,  a informação é o melhor caminho para os empreendedores. “Acompanhe as medidas do governo para apoio às micro e pequenas empresas como isenção de impostos, linhas de crédito e programas orientativos, como do Sebrae e outras entidades”, sugere.  O especialista Haroldo Matsumoto sugere que os pequenos empresários estejam sempre informados e que usem as redes sociais para estar mais perto dos clientes(foto: Divulgação)  Para ele, a busca de alternativas para atender as pessoas é fundamental. “Verifique plataformas on-line de pedidos pela internet e serviços de entregas. Se você já tem comércio eletrônico, intensifique a comunicação com seus clientes para utilizarem esse canal de vendas. Crie uma lista de transmissão no WhatsApp e comunique a disponibilidade de seus produtos e verifique como fazer a entrega”, reforça. 

O diretor técnico do Sebrae Franklin Santos aplaude a decisão da micro empresária Luciana Moura e lembra que as empresas precisam apostar, de forma emergencial, em modelos de operação que privilegiem a venda e o atendimento remoto.  “Consolidar a presença nos mecanismos de buscas e redes sociais e, quando possível, apostar no delivery”, ensina, ressaltando que, ao mesmo tempo, é preciso preparar as finanças para esse período de quarentena, antecipando a negociação com fornecedores e credores.“Cada empresa, em sua realidade, demandará medidas diferentes. Por isso, é importante que o empresário procure o apoio gratuito do Sebrae. Manteremos os nossos canais de atendimento através do 0800 570 0800 e do portal www.sebraeatende.com.br”, avisa. O representante do Sebrae destaca ainda a  informação que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apoiará os empreendedores que passem dificuldades por conta do COVID-19, destacando que instituições como o Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander informaram que vão prorrogar, por 60 dias, vencimentos de dívidas de micro e pequenas empresas e de pessoas físicas, para os contratos vigentes em dia e limitados aos valores já utilizados. “Sabemos que existem as linhas tradicionais de Capital de Giro e antecipação de recebíveis, mas novas ações dos governos podem trazer ainda condições mais adequadas para o momento”, pontua. 

Redução de danos O especialista em gestão Haroldo Matsumoto diz que uma vez que as medidas emergenciais tenham sido tomadas, vale a pena realizar uma análise de informações sobre a empresa,  respondendo a questões como: Quanto tenho de produtos em estoque, quantas pessoas trabalhando na empresa, qual a minha receita no mês anterior, quais são as minhas despesas fixas (aquelas que temos que pagar independente se vendemos ou não, como por exemplo, aluguel, internet, contas de água e luz, contabilidade, salários) e também todas as outras despesas com fornecedores, impostos e terceiros.

“Feito isso faça uma projeção semanal do quanto precisa para manter a empresa. Se as receitas forem caindo, é preciso  ir ajustando as despesas. Neste momento, evite estocar grande quantidade de produtos para evitar dívidas com fornecedores”, ensina. Matsumoto ressalta que se a demanda diminuir muito, vale verificar a estrutura que se tem e se o  conhecimento pode atender algo de imediato que as pessoas precisem durante essa crise. “Por exemplo, a própria Ambev está utilizando as embalagens de garrafa de água mineral para envazar álcool gel, que é produzido com as mesmas máquinas do processo de álcool das bebidas”, exemplifica.

O especialista em gestão faz questão de enfatizar que esse momento deve ser de  reflexão para as micro e pequenas empresas. “Não se desesperem e utilizem esse momento para rever sua empresa, o que pode ser melhorado, quais caminhos seguir depois dessa crise, o que pode já planejar e aprimorarem termos de produtos e serviços, ou seja, utilize esse momento para aprender fazendo cursos on-line ou pesquisando melhores práticas de gestão”, sugere.

A Dona Domitilla, por exemplo, lançará o cardápio novo durante o período de quarentena. “Não era o ideal, mas é necessário, também daremos desconto nos novos produtos. Os mesmo descontos estarão nos aplicativos de delivery”, diz. 

Sócio proprietário da Vidal Produtos Artesanais, o mestre charcuteiro Fábio Vidal também resolveu inovar nesse período como uma forma de driblar a redução no consumo.  “Nossas vendas são, em sua maioria, para restaurantes e muitos destes estão se arrumando, tentando se adequar com diminuição de mesas. Estamos vendo a possibilidade de aumentar o delivery e até produzir comidas prontas com nossos produtos. Atuar como restaurante delivery”, afirma, ressaltando que vem buscando trabalhar com otimismo realista. “Sou esperançoso, não admito pensar que tudo irá se acabar por conta disso, mas precisamos atuar de forma mais empática e colaborativa”, finaliza.  Mesmo tendo os restaurantes como principais cliente, a quarentena está obrigando Fábio Vidal a pensar em delivery dos produtos para consumidor final (Foto: Divulgação) Com uma postura similar, Matsumoto também defende uma postura otimista. “Use esse período para reestruturar a empresa e retornar fortalecido, pois tudo isso vai passar e a economia vai voltar a circular”, conclui.

.5 dicas do Sebrae para aumentar as vendas e reduzir os custos no momento de crise

1º Uso de Mídia Sociais No momento em que o cliente se retraiu e está praticamente recluso em casa, os donos de pequenos negócios precisam usar ferramentas digitais para chegar até o público. Uma solução rápida e de baixo custo é investir na criação de perfis da empesa nas principais mídias sociais (Instagram e Facebook).

2º Plataformas de vendas online Se a sua empresa ainda não conta com ferramentas de venda online, esse é o momento de tomar essa atitude. Avalie qual das diferentes plataformas disponíveis no mercado mais se adequa às suas necessidades.

3º Aplicativos de Delivery Prestadores de serviço e negócios de alimentação fora do lar começam a sofrer com a ausência de clientes. Neste caso, é melhor o empresário se adequar para pagar as taxas cobradas pelos aplicativos de delivery do que não vender nada. No segmento de alimentação, a adesão dos bares e restaurantes a esses aplicativos se tornou praticamente uma necessidade neste momento de crise provocada pelo Coronavírus. Se você ainda tinha alguma resistência a esse modelo, essa é a hora de repensar sua estratégia.

4º Avalie seus custos É fundamental que o empreendedor conheça profundamente os custos da sua empresa e seja capaz de avaliar quais são aqueles imprescindíveis para manter o negócio operando. Em um contexto de queda do faturamento, ele precisa priorizar aqueles que são realmente fundamentais e cortar ou reduzir os demais.

5º Negocie com seus fornecedores Com a queda do faturamento, você vai precisar negociar com seus fornecedores um melhor prazo para cumprir seus compromissos. Essa negociação pode trazer o fôlego necessário para manter em dia aqueles gastos e despesas que não podem ser adiados.