Espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas estreia na Ufba em março

Com diretora e elenco 100% negro, montagem põe dedo na ferida e não poupa ninguém quando o assunto é racismo

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  • Da Redação

Publicado em 16 de março de 2019 às 06:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Adeloya Magnoni/ Divulgação)

Dois anos depois de estrear Gusmão - O Anjo Negro e Sua Legião, a Companhia de Teatro da Ufba volta a botar o dedo na ferida e monta um espetáculo no qual discute o racismo estrutural e as implicações nas subjetividades negras. Baseado em obra homônima do psiquiatra negro Frantz Fanon (1925-1961), Pele Negra, Máscaras Brancas estreia nessa segunda-feira (18), no Teatro Martim Gonçalves, abrindo a programação do Fórum Negro de Artes e Cultura - FNAC, que este ano chega à sua terceira edição.  Com elenco 100% negro, a montagem também é a primeira da companhia a ser dirigida por uma mulher negra, Onisajé (Fernanda Júlia).“Essa foi uma porta aberta com Gusmão e que Pele Negra chega para manter aberta. A ideia é que a representatividade negra se mantenha, e não apareça esporadicamente, dando retornos rápidos e fugazes. Estamos e continuamos”, enfatiza a diretora, que ao lado de estudantes e de professores têm “empretecido o pensamento cênico-teatral” dentro da Escola de Teatro da Ufba.   Montagem explora conceitos de lugar de fala, colorismo e interseccionalidade (Foto: Adeloya Magnoni/ Divulgação) Se Gusmão expôs o racismo estrutural ao homenagear aquele que foi o primeiro ator negro a concluir o curso de graduação dentro da instituição, Peles Negras, Máscaras Brancas segue o mesmo propósito, pondo foco nas implicações nas subjetividades negras.

Teatro negro “Fanon reivindica a humanida das pessoas negras. É muito importante falar do quanto o racismo adoece e enloquece, como atravessa nossas subjetividades. Ele é o mais categórico autor a dizer isso, e a partir da obra dele diversos pensadores passam a reforçar esse coro“, destaca Onisajé, que além da temática, destaca a centralidade das epistemologias e das metodologias negro-referenciadas na montagem .  Interpretado por dois atores, um deles uma mulher trans, o próprio Frantz Fanon aparece como personagem na trama para, novamente, defender a tese de doutorado rejeitada pela banca examinadora no ano de 1952:  Pele Negra, Máscaras Brancas, obra que se tornou referência mundial sobre o tema. Fanon reivindica a humanidade das pessoas negras, e não alivia para ninguém, bate em todo mundo. É um processo devastador-  Onisajé; diretora é primeira mulher negra a montar espetáculo da Companhia de Teatro da UfbaO texto é de Aldri Anunciação, que em sua nona dramaturgia, volta a investir em um futuro distópico. Além dos anos de 1952 e 2019, parte do enredo se desenrola em 2888, mil anos após a Abolição da Escravatura no Brasil. Os atravessamentos com o país são muitos, mas a narrativa não é territorialmente situada.   (Foto: Ricardo Simões/ Divulgação) Para ele, essas são estratégias que tornam a sua escrita mais confortável e lhe permitem explorar o conceito de tempo espiralar desenvolvido pela pesquisadora Leda Maria Martins (UFMG), no qual passado e futuro recorrem no presente.  Aldri ainda utilizou outras duas obras como condutoras da dramaturgia: Os Condenados da Terra, também de Fanon, e Necropolítica, de Achille Mbembe. “Eu tento articular diálogos da nossa contemporaneidade com uma previsibilidade de futuro. Algumas pessoas denominam isso de distopia: você imaginar um futuro perverso ou intensificado nos seus conflitos a ponto de parecer impossível aquilo acontecer, só que se você olhar com mais atenção são coisas que podem acontecer”, explica. Fanon nos expõe a nós mesmos, não coloca o racismo somente como uma dicotomia entre brancos e pretos, coloca o negro diante de si próprio -  Aldri Anunciação; dramaturgo conheceu obra do psiquiatra nos anos 2000, ainda na graduaçãoServiço:Teatro Martim Gonçalves. Dias 18, 23, 24, 29, 30 e 31 de março; 05, 06, 07, 12, 13 e 14 de abril, sempre às 19h. Gratuito.

Vale ver outros espetáculos no FNAC (programação completa aqui):

Espetáculo de dança Ziriguidum: dia 19, às 19h, no Martim Gonçalves  Afronte e – Akulobee: dias 21 e 22 de março, às 19h, na Casa Rosada (Barris) Travessias: apresentação única dia 21, às 19h, no Martim Gonçalves