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Kátia Borges
Publicado em 10 de janeiro de 2021 às 18:55
- Atualizado há um ano
Janeiro é sinônimo de veraneio no Hemisfério Sul. Mesmo com o sol no signo de Capricórnio, confesso que planejava escrever sobre o Verão essa semana. Acabou saindo uma crônica de aniversário. Para mim, e em minha vida, as duas coisas se misturam. Há quem considere chato nascer nesse mês. Eu adoro.
Nascer na estação mais quente do ano, e em Salvador, é ter a praia como salão de festas permanente. Perdi as contas de quantas celebrações já fiz em restaurantes e em bares à beira-mar, quando não passei a data em casas alugadas, em algum balneário próximo, ou em barracas de camping, nos lugares mais desertos.
Aniversários perfeitos, os pés enfiados na areia, as roupas cheirando a maresia da manhã até a noite, galões de vinho barato e a sensação de que estava tudo muito certo, tudo muito certo. Mesmo quando, meio gótica, eu me juntava a adolescentes furiosamente felizes, e em férias, e os mais chegados faziam churrasco de peixe.
Mesmo se havia uma rodinha de violão improvisada, em esteira de palha, tocando todo o repertório da Legião Urbana umas quatro vezes. Vá lá, o clima também ajuda um bocado. Após o Réveillon, a humanidade ainda experimenta por alguns dias a sensação ilusória de recomeço, e é a esperança que dá o tom de todos os encontros.
A felicidade deve ser bem isso, quando a esperança nos faz rir feito tolos. A sensação de que algo incrível pode surgir de repente a partir do tédio. Olhar bestamente mar e céu, ensaiando o azul infinito, porque há tempo de sobra, há tempo de sobra para mudar de rumo. Varar as noites quentes de verão acordada de alegria.
Insônia de alegria, artigo raro. Ensaiar o azul infinito. Mesmo hoje, quando alguns amigos queridos e os pais morreram. E o verão é uma incógnita macabra — essas aglomerações furiosamente felizes nas praias causam em mim um misto de pânico, repulsa e desespero. Ainda assim, sinto que devo cumprimentar a estação luminosa.
Muito prazer, então, estranho Verão de 2021! Penso comigo, olhando para o sol do novo ano que começa agora. A luminosidade direta em meus olhos forja sombras, projeta fantasmas de veraneios perfeitos nas paredes do apartamento. Fujo para a varanda e vejo que o céu está azul lá fora. Eu o saúdo com todas as minhas forças.