Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Publicado em 10 de março de 2020 às 11:00
- Atualizado há um ano
A mudança do atual modelo de transportes para um padrão com menos emissão de CO2 deve envolver um conceito mais amplo, o da economia circular, que inclui a sustentabilidade social – com geração de renda e empregos – e financeira, para funcionar como um negócio.
A indústria automotiva já investe alto para disponibilizar, inclusive no Brasil, várias tecnologias para fazer essa transição nos transportes, substituindo a fonte fóssil por alternativas renováveis e limpas que vão dos biocombustíveis à eletrificação. Como parte do problema – o setor de transportes é responsável por 14% das emissões de gases de efeito estufa –, estamos em busca de soluções. Este momento de transformação oferece grande oportunidade às fabricantes de caminhões, ônibus e veículos em geral. O maior desafio é trazer a transformação mais perto do nosso dia a dia, seguindo a vocação brasileira, rica em biocombustíveis. Além de gás natural veicular (GNV), etanol, biodiesel e HVO (óleo vegetal hidrogenado), temos uma riqueza que não está sendo explorada: o lixo e o esgoto gerados nas cidades e os resíduos do agronegócio, todos eles fontes do biometano, renovável e limpo. Essa é a “cereja do bolo” das novas tecnologias. Transformar um passivo ambiental em ativo energético é um bonde que o Brasil não pode perder. Temos bons exemplos de utilização dessa tecnologia, como em Estocolmo (Suécia), onde lixo e esgoto viram biometano para abastecer veículos e prover de gás de cozinha. O excedente é vendido para movimentar a frota de ônibus da cidade, com a vantagem de o preço não ser influenciado por variações externas, como a cotação do petróleo.
Estudo encomendado pela indústria automotiva apontou que a poluição causada pela frota envelhecida custa mais de R$ 60 bilhões/ano ao SUS, INSS, entre outros gastos. Seria mais inteligente o Estado incentivar uma fonte energética renovável e limpa, com potencial para resolver todos esses problemas e empregar esses recursos para motivar as empresas mistas ou privadas a explorar um combustível novo. Deve-se dispensar ainda o antigo conceito “do tanque à roda”, que mede as emissões apenas a partir do escapamento do veículo (ou da sua ausência, no caso da eletrificação) e passar a utilizar o conceito mais moderno de “poço ao caixão”, isto é, considerar a sustentabilidade para extração e produção do combustível até o seu devido descarte.
Sem apoio público, fica difícil para o setor automotivo liderar a mudança rumo ao transporte sustentável, disseminando o conceito da riqueza procedente do lixo e permitindo ao biometano ganhar escala. Ao Estado cabe criar um ambiente propício para o setor privado, garantindo marco regulatório e infraestrutura adequados para que as empresas percebam essa alternativa como um negócio e invistam. Isso faria clientes e consumidores aceitarem essa inovação. Sem demanda não há negócio.
Gustavo Bonini é Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Scania e Vice-Presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores