'Estava ansioso pela volta', lamenta Geninho

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, técnico fala sobre demissão do Vitória

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  • Daniela Leone

Publicado em 19 de junho de 2020 às 18:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/ CORREIO

Geninho está com saudades de voltar a ficar à beira dos gramados. “Estou como todo mundo, ansioso para voltar a trabalhar. Temeroso, claro, pelo momento. Acho que ainda não passamos pela pior fase. Acho que, com essas aberturas, os números tendem a crescer. Temeroso, mas ansioso pela volta. Todo mundo sente vontade de trabalhar. Você se cansa e se sente mal de ficar em casa. Estava ansioso pela volta”, lamentou. Nesta sexta-feira (19), um telefonema do presidente do Vitória, Paulo Carneiro, o pegou de surpresa. Demitido, o técnico não comanda mais o Vitória.   

“Eu fui comunicado pelo Paulo em virtude de uns problemas financeiros que o Vitória tem. Por isso que eu não estou retornando. Não é porque eu não quero retornar. Ele acha que, para esse momento, eu seria um profissional muito caro e me informou que o clube estaria abrindo mão de mim, que ele teria que fazer algumas opções. Entendi o momento do clube. Eu venho convivendo com isso desde o ano passado e, segundo ele me disse, a situação que já não era boa se agravou”, afirmou Geninho em entrevista exclusiva ao CORREIO.

Em comunicado oficial, o Vitória informou sobre a demissão de Geninho e a efetivação do auxiliar técnico Bruno Pivetti no cargo. "A decisão do afastamento de Geninho do comando técnico foi tomada em função da busca incessante da direção atual do clube pelo equilíbrio financeiro diante da grave situação herdada de gestões anteriores, agravada com a considerável perda de receitas ocasionada pela pandemia do coronavírus", diz um trecho da nota divulgada pelo clube.

No começo da pandemia, Geninho voluntariamente reduziu o próprio salário. Ele conta que a decisão do clube lhe foi comunicada sem que houvesse nenhum diálogo sobre questões financeiras. “Eu abri mão de praticamente 95% do meu salário e até agora eu não tinha retomado. Talvez achando que na retomada teria que voltar a me pagar o que ganhava ele tenha tomado essa decisão, mas nem se conversou sobre isso”, afirmou o técnico, que ainda tem valores a receber do Leão. 

“O Vitória ainda me deve. Antes de eu abrir mão do salário, eu já tinha coisa para receber, mas isso a gente deve fazer um acerto e solucionar da melhor maneira. Tenho certeza que, pelo relacionamento que tenho com o presidente, dentro das possibilidades do Vitória, tudo vai se encaminhar bem para eu receber o que é devido. Mesmo que seja parcelado, tenho certeza que o Vitória vai honrar”, disse, sem mencionar valores.

Com 71 anos, Geninho faz parte do grupo de risco da Covid-19 e ficou em isolamento na casa que mantém em Santos, no litoral de São Paulo, durante todo o período em que as atividades na Toca do Leão estiveram suspensas por causa da pandemia, de 17 de março a 15 de junho, data em que a Prefeitura de Salvador autorizou a reabertura dos clubes de futebol profissional.

Na terça-feira (16), quando jogadores e funcionários se apresentaram para a realização de exames, o rubro-negro informou que o técnico só retornaria a Salvador quando houvesse uma definição sobre o recomeço das competições. Geninho garante que a decisão do clube não teve relação com isso. “Não tem nada a ver. Sempre fui muito saudável. No começo do ano, fiz um check-up. A não ser a idade, não tenho nenhuma comorbidade. Não tenho problema de coração ou diabetes, nada”.

A quinta passagem de Geninho pelo Vitória começou em setembro do ano passado, quando foi contratado para evitar que o clube fosse rebaixado à Série C do Campeonato Brasileiro. Sereno e conciliador, ele acalmou o ambiente na Toca do Leão, mostrou eficiência dentro das quatro linhas, cumpriu a missão e renovou o contrato por mais um ano.

Nesta temporada, o desafio era conduzir o rubro-negro de volta à elite do futebol brasileiro, mas o planejamento foi interrompido por causa da pandemia do novo coronavírus. Antes da paralisação dos campeonatos, ele havia comandado o time principal em 10 jogos disputados na Copa do Nordeste e Copa do Brasil. Foram quatro triunfos, cinco empates e apenas uma derrota. O aproveitamento foi de 56,7%.

"O trabalho estava indo bem, acho que o grupo é bom, de qualidade. Tivemos alguns desfalques por lesões no início do ano, mas o grupo vinha muito bem. É só manter o trabalho. É uma coisa que às vezes acontece no futebol, você ajuda a plantar e não colhe", afirmou o agora ex-treinador do Vitória.