Estelionatários aplicam golpes em idosos que chegam a R$ 1 mi em Salvador

Dupla mineira foi presa em hotéis de Itapuã; vítimas moram em bairros nobres

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 12:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Os estelionatários Rondinelli Batista Antônio, 30 anos, e André Luís da Silva, 24, vão ser encaminhados nesta segunda-feira (17) ao Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. A dupla, que é de Minas Gerais, foi presa preventivamente na última sexta-feira (14), acusada de se passar por funcionários de bancos e aplicar golpes com cartões de idosos. 

De acordo com a delegada da 16ª Delegacia (Pituba), Maria Selma Lima, até o momento foram identificadas 31 vítimas e as fraudes já ultrapassam R$ 1 milhão, variando de golpes individuais de R$ 6 mil a R$ 80 mil.“A quadrilha é grande e nós vamos continuar as investigações para pegar todos os membros”, disse.O início da ação dos golpistas acontecia por telefone. Maria Selma explicou que um homem entrava em contato com a vítima, informando que o cartão dela havia sido clonado.

“Eles eram espertos. Avisavam sobre o risco do cartão clonado e pediam para a vítima entrar em contato com o número do banco que consta no verso do cartão. No entanto, eles não desligavam o telefone, prendendo a linha. Nesse momento, quando a vítima digitava o número, rapidamente, uma mulher atendia e se passava por funcionária do banco”, contou a delegada. Com os criminosos foram apreendidos máquinas de cartão, celulares, carregadores notebook (Foto: Yasmin Garrido/CORREIO) Neste momento, quando a mulher, que ainda não foi identificada, atendia o telefone, pedia os dados do cartão da pessoa, que passava todas as informações. Após isso, segundo a delegada, a mulher informava à vítima que um motoboy do banco iria até a residência dela buscar o cartão clonado.

Com o cartão já em mãos, a quadrilha iniciava os saques, transferências e pedidos de empréstimos em nome da vítima.

“A primeira pessoa registrou ocorrência contra a quadrilha em 1º de outubro. Foi quando as investigações começaram. A última vítima, que teve o dinheiro furtado na última quinta-feira, chegou a perder mais de R$ 80 mil”, disse Maria Selma.

Rondinelli e André estavam hospedados em dois hotéis de Itapuã, onde tiveram o mandado de prisão preventiva cumprido na última sexta-feira. Com eles foram apreendidos sete máquinas de cartão, dois celulares e duas carteiras, além de carregadores de celular e de notebook.

A delegada afirmou que, a partir de agora, o setor de inteligência da Polícia Civil vai trabalhar com a quebra do sigilo telefônico e bancário da quadrilha, além de rastrear as transações financeiras feitas com as máquinas apreendidas.“Ainda não se sabe como eles conseguiram os dados das vítimas, mas deve ter alguém de Salvador envolvido”, comentou.O perfil majoritário das vítimas era idosos de classe média e alta dos bairros de Caminho das Árvores, Pituba, Itaigara e um da Boca do Rio. “Mas, certamente, eles fizeram outras vítimas em Salvador”, acredita Maria Selma. “Se trata de uma quadrilha que age nos dois estados [Bahia e Minas Gerais]. Nós continuaremos apurando para chegar a todos os integrantes”, completa.A delegada ainda pediu que ninguém forneça dados pessoais por telefone, para evitar cair em golpes como este. Maria Selma ressaltou que, caso outra vítima queira registrar ocorrência, basta procurar a polícia ou se dirigir à 16ª Delegacia (Pituba), na Avenida Professor Magalhães Neto.

A pedagoga aposentada Dona Maria Nilza Santos Ribeiro, 62, há quase dois anos foi vítima de um golpe semelhante. Ela estava em uma agência bancária de shopping tentando pagar o IPVA. No entanto, a máquina não conseguia fazer a leitura do código de barra.

Por ser antes das 10 horas, a agência estava fechada, apenas com os terminais de autoatendimento em funcionamento.

“Eu não conseguia pagar, mas um rapaz jovem e usando um crachá se aproximou e me ofereceu ajuda. Eu aceitei, mesmo com certa desconfiança. Ele me disse que iria digitar o código de barra manualmente, ao invés de fazer a leitura na máquina. Logo depois, ele me pediu que digitasse a senha”, contou.

Após digitar a senha e efetuar o pagamento o IPVA, o rapaz comunicou que Dona Nilza estava sendo taxada de maneira equivocada pelo banco e, em razão da idade dela, essa cobrança poderia ser cancelada. Ele ofereceu ajuda para fazer o cancelamento e ela aceitou. Neste momento, ela digitou CPF e senha e o golpe já havia sido dado: um saque no valor de R$ 2 mil.

“Eu não consegui ver o momento em que ele sacou a quantia. Denunciei tanto ao banco quanto na delegacia da Pituba, fiz boletim de ocorrência e consegui, depois de 72 horas, reaver o dinheiro. O banco me ressarciu. No entanto, fui informada de que esses crimes são cada vez mais comuns, com pessoas de qualquer idade. Agora eu estou mais esperta do que nunca e não caio mais nessa”, disse a aposentada.

A alteração no artigo 171 (Estelionato) do Código Penal, na Lei nº 13.228, de 28 de dezembro de 2015, proporcionou pena em dobro para casos que envolvam vítimas idosas. A pena para crime de estelionato é reclusão, de um a cinco anos, e multa. Se for cometido contra idosos, o acusado pode pegar até dez anos de reclusão.

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), "muitos golpes que envolvem serviços bancários usam de engenharia social, que são estratégias utilizadas pelos criminosos para ter acesso a dados dos clientes, como senhas e números dos cartões".

Ainda segundo o órgão, "por ingenuidade, as pessoas acabam caindo nessas armadilhas e fornecendo informações com as quais as quadrilhas conseguem aplicar os golpes".

Confira abaixos algumas dicas da Febraban para não cair nos golpes financeiros: Nunca fornecer sua senha a terceiros (pessoalmente, por telefone ou por comunicadores instantâneos); Antes de guardar seu cartão, sempre conferir se é o seu; Ao escolher a senha, não utilizar números previsíveis (data de nascimento, número de telefone residencial, placa do automóvel, etc); Comunicar imediatamente à central de atendimento do banco a perda, roubo ou extravio de cartão, pedindo o seu cancelamento; Tenha sempre anotado com você o telefone de seu banco que está gravado em seu cartão em um local independente Nunca aceitar ou solicitar ajuda de estranhos, principalmente nas salas de autoatendimento; Jamais utilizar celular de terceiros para se comunicar com o banco, pois a senha fica registrada na memória do aparelho; Nenhum funcionário está orientado a pedir para o cliente falar ou digitar sua senha ao telefone; Os bancos não enviam funcionários em sua casa ou escritório para retirar seu cartão vencido, bloqueado ou com suspeita de fraude, ou mesmo solicitar informações pessoais como senhas, ou ainda pedindo para digitar a senha em algum equipamento eletrônico. Não o faça e comunique imediatamente o banco. *com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.