‘Estou ferido, mas a dor é outra’, diz ator baleado em abordagem policial

Leno Sacramento, 42 anos, prestou depoimento nesta sexta (15)

  • D
  • Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2018 às 08:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/ARQUIVO CORREIO

O ator do Bando de Teatro Olodum Leno Sacramento, baleado na quarta-feira (13) em uma ação policial no centro de Salvador, após ter sido confundido com um assaltante, prestou depoimento na sexta-feira (15) e, pela primeira vez, falou com a imprensa sobre o caso. Disse ter sido vítima de preconceito durante a abordagem da polícia por ser negro.

“Eu saí de casa, vim para o teatro trabalhar, como eu faço e, no meio do caminho, eu ouvi pessoas mandando eu parar. Olhei para trás e, quando eu parei, antes de colocar o pé no chão, eu vi um disparo e caí no chão”, contou à TV Bahia.“Eu estou ferido, mas estou com outra dor aqui: a dor da bala que, antes de mim, pegou em vários negros que não podem falar”, afirmou Leno.O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, que solicitou imagens de câmeras de segurança. Leno passava de bicicleta com um amigo pela Avenida Sete de Setembro, perto do Forte de São Pedro, por volta das 16h, quando foi abordado pelos policiais civis.

O titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Maurício Barbosa, reuniu-se com o ator, no dia seguinte ao caso, e afirmou que o fato será apurado e acompanhado com afinco, "não somente pela Polícia Civil, mas pela Secretaria da Segurança Pública. Caso seja comprovada, dentro dos ritos, uma ação ilegal dos agentes, os mesmos serão devidamente punidos", garantiu Barbosa, em nota divulgada pela SSP.

Conduta inadequada Para a corregedora-chefe da Polícia Civil, delegada Kátia Brasil, a conduta policial não foi correta. "Não é a orientação que a gente tem na academia. O tiro é sempre a última opção", declarou Kátia.

Os quatro policiais, que estavam sem fardas no momento da ação, já foram ouvidos na Corregedoria e arma usada pelo agente que atirou, uma pistola ponto 40, foi apreendida e encaminhada para perícia.  Um inquérito já foi instaurado para apurar a conduta. “Os policiais deverão responder criminalmente e administrativamente por esse fato”, explicou a delegada. Os policiais continuam trabalhando em suas funções. 

A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA) também está acompanhando o caso. A presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial, Dandara Pinho, contou que um grupo de advogados esteve na delegacia onde foi registrada a queixa para colher informações sobre a ocorrência.

Ela vai solicitar uma reunião com o governo do estado para discutir o assunto e sugerir que os policiais passem por um curso de reciclagem. Em 2017, a comissão recebeu 189 denúncias de racismo na Bahia.