Estudantes soteropolitanos faturam ouro na Olimpíada Nacional de História

A Bahia foi o terceiro estado com mais medalhas; Nordeste liderou entre as regiões

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  • Wendel de Novais

Publicado em 5 de outubro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil

"Foi grito em cima de grito! Meus pais chegaram depois que anunciaram e pedi pra eles me beliscarem, queria saber se era sonho. Fiquei feliz de um jeito difícil de descrever", lembra a estudante Beatriz Costa, 17 anos, que formou, junto com outros dois jovens, a Equipe Cogitare, do Colégio Antônio Vieira, que levou ouro para casa na Olimpíada Nacional de História Brasileira (ONHB).

Um feito inédito para a escola e histórico para a equipe premiada, ganhadora de uma das 20 medalhas de ouro concedidas pela competição. Este ano, que teve o tema Independência do Brasil,  9,3 mil equipes de todo o Brasil partticiparam da disputa e 90 delas sairam premiadas:  20 com o ouro, 30 com a prata e 40 com o bronze. 

Segundo Luca Nappo, 17, que também integrou a equipe, o grupo produziu com a intenção de desconstruir a imagem de processo "centralizado no Sudeste" e que invisibiliza personagens marcantes. "Falamos da independência como um movimento plural que aconteceu também no Norte e Nordeste, que têm a participação, muitas vezes, apagada por quem conta a história. Não foi só grito do Ipiranga, não veio só de Dom Pedro. Houve uma participação de vários personagens históricos que não têm sua história contada e optamos por falar disso", afirma.

A missão de desconstruir a imagem que se tinha da Independência foi incentivada pela organização e o Nordeste tirou isso de letra. De acordo com a ONHB, a região foi a que mais somou equipes medalhas com 57. Entre os estados, a Bahia ficou em terceiro com 14, atrás apenas de Pernambuco com 17 e São Paulo com 15. Das medalhas que vieram parar em território baiano, três foram de ouro, quatro de prata e sete de bronze. Entre 414 equipes que participaram da final, 54 eram da Bahia.

Competição e crescimento 

Ao todo, foram seis fases antes da final onde os estudantes respondiam questões e resolviam tarefas que poderiam ser  perguntas ou a análise de algum documento histórico, como foi na final, quando eles tiveram que analisar e construir um texto dissertativo sobre o depoimento dos presidentes de Brasil e Portugal no centenário da Independência, há quase um século. Na decisão, não faltou crítica ao tom centralizado que os chefes de estado adotaram nas suas falas, o que os rendeu a medalha. Giovanna afirma que ONHB contribuiu para a melhora do seu senso crítico (Foto: Acervo Pessoal) É esse senso crítico que Giovanna Andrade, 17, outra integrante da equipe, destaca ao falar de como a experiência de participar da ONHB a fez crescer de duas formas."A olimpíada é única e, em todo processo, tanto no ano passado como neste ano, ampliou meu repertório, me deu a possibilidade de construir um senso crítico sobre os acontecimentos históricos em nosso país e me ajudou a desenvolver de habilidades individuais e coletivas que vão agregar pra mim como pessoa e estudante", afirma Giovanna. Luca corrobora com as falas da colega ao falar do que vai levar consigo após o feito na competição. "A olimpíada é uma experiência que aumenta muito o nosso pensamento reflexivo sobre questões históricas e nos dá a chance de enxergar sob perspectivas diversas. Me deu um repertório que não tem preço durante todas as fases. Cada passo que a gente nos trouxe aprendizados muito valiosos", declara.

Uma experiência que, para Beatriz, foi ainda mais valiosa pela companhia dos amigos com quem estuda desde o primeiro ano na equipe. "A gente estuda desde o primeiro ano juntos e ano passado já estávamos juntos na olimpíada. Participar disso com eles que são meus amigos desde o primeiro ano foi gratificante e extremamente decisivo pro resultado porque, pela nossa união, conseguimos sempre tomar decisões que envolvessem todos, com consenso", destaca.  Beatriz comemora o fato de ter conquistado o ouro na companhia dos amigos (Foto: Acervo Pessoal) Resultado de empenho

União que não deixou de existir nem mesmo na hora de uma premiação que teve que ser assistida via YouTube por eles. Giovanna conta que, mesmo com cada um em sua casa, deram um jeito de compartilhar o momento. "Estávamos longe fisicamente, mas conectados por ligação o tempo todo e não poderia ser de outra forma. A gente ficou bem ansioso e, no fim quando nos anunciaram, a emoção foi arrebatadora", relembra aos risos. 

Quem também se encheu de ansiedade e alegria com o resultado foi Thiago Palma, professor de história do Colégio Antônio Vieira e orientador das equipes da escola na olimpíada."A cerimônia de entrega das medalhas foi de maneira gradativa do bronze para o ouro. Isso nos deixou bem nervosos. Passaram várias equipes e a gente foi se preocupando de sair sem nada, os meninos ficaram aflitos. Quando faltavam quatro medalhas pro final, eles anunciaram a nossa e foi uma emoção indescritível. No universo de quase 10 mil equipes, ficar entre as 20 melhores é grandioso", afirma o professor.  Thiago se emocionou durante a premiação de seus orientados (Foto: Acervo Pessoal) Apesar do nervosismo e da dúvida dos meninos na hora em que o nome deles custava a ser chamado, Palma não ficou surpreso quando o ouro veio. "Era uma coisa que eu já esperava porque os grupos e não apenas esse que conquistou o ouro, correram muito atrás, se dedicaram bastante, pesquisaram e se envolveram de verdade na olimpíada, que é o mais importante. As equipes se pautaram no Dois de Julho e nas outras áreas do Norte e Nordeste que foram essenciais no processo de Independência e eu sabia que isso seria um diferencial", explica Palma.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro