Estudantes temem que bloqueio de recursos deixe Ufba mais insegura

MEC disse que 30% da verba de custeio foi retida por conta de ‘balbúrdia’

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  • Gil Santos

Publicado em 1 de maio de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

Segurança. Essa é uma das áreas que será afetada pelo bloqueio no orçamento da Universidade Federal da Bahia (UFBA), anunciado nesta terça-feira (30) pelo Ministério da Educação (MEC), e é também um dos pontos que mais preocupa os estudantes. A possível redução de investimento na pasta deixa em alerta quem precisa circular pelos campi durante o dia e, principalmente, à noite.

Na prática, o bloqueio afeta as verbas de manutenção da universidade, o que inclui além de segurança, limpeza, luz, telefone e água, entre outros pontos. Para a estudante de BI em Ciências e Tecnologia Luana Nunes, 20 anos, os impactos podem ir além das pastas citadas.

“Estamos falando de um corte de 30% que superara os R$ 30 milhões. A universidade está precisando de investimento, não de cortes. A segurança é uma área sensível, água, luz, e limpeza são questões que afetam a universidade como um todo e que podem nos obrigar a habitar o local de forma precária”, afirmou. Luana Nunes está preocupada com a segurança dos campi (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Em julho do ano passado as escadarias da UFBA foram alvo de uma reportagem do CORREIO que apontou a insegurança desses locais, com diversos relatos de estudantes que foram assaltados. Outra matéria, no mesmo mês, revelou três casos de estupro nos campi da universidade.

Na época, a direção informou que iria reforçar a segurança nesses espaços, e que o sistema é gerido pela Coordenação de Gestão de Segurança (Coseg), que além de fiscalizar os serviços terceirizados, propõe e realiza melhorias contínuas nessa pasta. Escadarias são apontadas como locais inseguros (Foto: Betto Jr/ CORREIO) A estudante de Engenharia Ambiental Larissa Caria, 22, também está temerosa pelos impactos da decisão do MEC na integridade da comunidade acadêmica da Ufba. Ela questionou a justificativa apresentada pelo Governo Federal.

“A argumentação não tem nexo. Eles falaram em uma baixa produção acadêmica, o que não é verdade, mas ainda que fosse, caberia investimento na universidade e não a retirada de recursos. A segurança é um problema na Ufba, principalmente à noite. Essa medida do MEC foi uma decisão opressora”, afirmou.

Já para o estudante de BI em Ciência e Tecnologia Osni David, 18, acredita que a motivação do MEC tem cunho mais político do que educacional. “A Ufba teve nota 4 em uma escala que vai até 5, na última avalição, então, a questão não é a produção acadêmica. As universidades são campos pensantes, que analisam e questionam, esse é o ponto. É uma decisão triste porque prejudica todo mundo”, afirmou.   Universidade já sofre com corte de recursos há 5 anos (Foto: Betto Jr/ CORREIO) O bloqueio de 30% no orçamento de custeio equivale a mais de R$ 37,3 milhões. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro Abraham Weintraub afirmou que MEC cortaria especificamente recursos de universidades que estivessem promovendo “balbúrdia” em seus campi, ao mesmo tempo em que não estivessem apresentando desempenho acadêmico esperado.

Segundo o ministro, três universidades já estão enquadradas nesses critérios: além da própria Ufba, somam-se à lista a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma quarta instituição, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, estaria sendo avaliada e corre o risco de se juntar às três primeiras.

À noite, o MEC informou que o bloqueio de 30% na verba das instituições federais vale para todas as universidades e institutos. Segundo o secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Junior, os valores contigenciados são um "bloqueio" feito de "forma preventiva", apenas para o segundo semestre deste ano. Ele disse ainda que o bloqueio foi feito de uma maneira "isonômica" para todas as instituições federais, mas que o órgão estuda "alguns parâmetros" para definir quais teriam uma redução maior ao longo do ano. Osni David acredita que a decisão do MEC foi política (Foto: Betto Jr/ CORREIO) O auxiliar administrativo Antônio Bonfim, 57, trabalha há 34 anos na Ufba, e lamentou a decisão do ministro. “O MEC impõe esse corte ignorando as necessidades da universidade e o pacto que estava posto de expensão e de cobertura do ensino. Isso vai comprometer o funcionamento do sistema. Estamos profundamente indignados. É um desrespeito e uma violência, mas não vamos desistir da universidade pública”, afirmou. Antônio Bonfim disse que o MEC ignorou as necessidadades da universidade (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Integrantes da Coseg se reuniram nesta terça (30) para discutir o assunto. Em nota, a Ufba informou que não recebeu qualquer notificação oficial do MEC acerca de corte orçamentário. A Universidade disse também que existe um bloqueio orçamentário no sistema eletrônico de gestão financeira da instituição, e que espera reverter através do diálogo e das medidas administrativas cabíveis junto ao Ministério.

" O valor que aparece bloqueado é de R$ 37,3 milhões e, a se confirmar, terá impacto significativo no funcionamento da Universidade até o final de 2019. Restrições orçamentárias vêm sendo enfrentadas nos últimos anos, mas sempre de maneira linear, atingindo o conjunto das instituições federais, jamais de modo seletivo", diz a nota. Reitor João Carlos Salles comanda reunião do Coseg, nesta terça (Foto: Betto Jr/ CORREIO) A UFBA tem 105 cursos de graduação, com 37.985 matriculados. Segundo a instituição, na última avaliação divulgada pelo MEC, constatou-se um salto de 40% para 96% do percentual de cursos avaliados com nota 4 ou 5, entre 2014 e 2016. No Enade, a média geral dos cursos de graduação da Universidade vem em evolução desde 2006 e, recentemente, saltou de 3,89, no triênio 2012-13-14, para 4,05, no triênio 2015-16-17.