Estudo aponta Cassange como o bairro de Salvador com maior risco para covid-19

Ainda estão no ranking São Tomé, Alto das Pombas, Nova Esperança, Pero Vaz, Calçada e Fazenda Coutos

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  • Priscila Natividade

Publicado em 6 de setembro de 2021 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Max Haack/Secom PMS/Arquivo

Aspectos sociais, demográficos e epidemiológicos mais a taxa geral de mortalidade da população colocaram o bairro do Cassange, em Salvador, na primeira posição entre os dez bairros da capital mais vulneráveis para a propagação de casos de covid-19. O levantamento é resultado de dados preliminares do novo Índice de Vulnerabilidade Epidêmica (IVE), que tem um intervalo de 0 a 1 ponto. Quanto mais próximo de 1 maior será a vulnerabilidade epidêmica. Cassange tem índice de 0,4197.

Em seguida, entre os de maior risco, vêm as localidades de São Tomé (0,3353), Alto das Pombas (0,3207), Nova Esperança (0,3134), Pero Vaz (0,3102), Calçada (0,3017), Fazenda Coutos (0,2968), Sete de Abril (0,2906), Santo Antônio (0,2866) e Alto da Terezinha (0,2866).

O índice é criado por um grupo de pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) e Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e Universidade Estadual da Georgia (Atlanta – Estados Unidos).

Ao todo, foram analisados os fatores de risco de 155 bairros da capital baiana, como destaca a professora adjunta do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba Samilly Miranda:“O índice consegue dar um norte sobre quais são as áreas mais vulneráveis na pandemia e, com isso, contribuir para o processo de planejamento e tomada de decisões pelo poder público. São bairros que precisam de uma atenção maior”.O IVE é financiado pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC Foundation) e conta com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS).

Para determinar o tamanho desse risco, foram considerados dados extraídos do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Internações Hospitalares (SIH-SUS), Sistema de Agravos e Notificação (Sinan) e do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Informações como analfabetismo, raça, acesso à rede de distribuição de água, coleta de lixo, número de pessoas por domicílio e taxa geral de mortalidade da população foram determinantes para construir a pesquisa. 

“Outro dado importante é que os bairros com maior grau de risco mostraram a maior taxa de hospitalização e de óbitos por covid-19”, completa Samilly.

O auxiliar de serviços, Diego Cruz, 24 anos, mora em Cassange e reconhece o risco. Ele conta que todo mundo anda sem máscara de proteção.“Não me sinto nem um pouco seguro em circular pelo bairro. As pessoas não se previnem e também não mantêm a distância ou fazem a higienização das mãos quando entram nos lugares. Eu não recebo nem mais visita em casa por conta disso”, afirma.A autônoma Itaiane Santos, 37, é mais uma que percebe a situação de vulnerabilidade. Ela mora em Fazenda Coutos e está sempre longe de aglomerações que vê no bairro. “É muita gente sem máscara. Tive muitos amigos e vizinhos que tiveram coronavírus. Só saio de casa de máscara e com o álcool em gel na mão.”

Desigualdade Se é nos bairros mais carentes que está a maior vulnerabilidade, áreas como o Itaigara apresentaram o menor risco para a doença em Salvador, seguido de Amaralina, Narandiba, Centro, Doron, Resgate, Patamares, Pituba, Cajazeiras II e Caminho das Árvores.

Para a professora do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, Samilly Miranda, o mapeamento só faz reforçar o quanto a dinâmica do coronavírus na população está diretamente ligada às condições de vida e saúde. “Claramente, o Itaigara alcança essa posição por conta da qualidade do acesso à saúde, renda, escolaridade e da própria infraestrutura do bairro. Apesar de ainda estarmos trabalhando esses dados, chama atenção como as questões sociais interferem na pandemia e como as áreas mais carentes da cidade são as mais vulneráveis”, ressalta.

O índice, que está em fase de ajustes, deve ser aplicado também para evidenciar os riscos para outras doenças transmissíveis além da covid, que tenham um forte marcador social de vulnerabilidade. Em seguida, o mesmo grupo de pesquisa pretende investigar a validação e aplicação do índice na análise de padrões de incidência, das internações e mortalidade por covid-19. “Tentaremos ampliar o uso dele para que isso não fique aqui em Salvador, mas possa também ajudar diversos estados e municípios no gerenciamento da pandemia”, completa Samilly.

Ações adotadas A prefeitura de Salvador informou que está analisando detalhadamente os dados do estudo para avaliar a necessidade de possíveis ações complementares a serem tomadas no enfrentamento da covid-19. No entanto, ressalta que, desde o início da pandemia, “a administração municipal esteve atenta aos números do coronavírus na cidade para adoção de medidas que oferecessem assistência à saúde e iniciativas que evitassem o aumento do número de casos na cidade”.

Na área de assistência à saúde, foram disponibilizados novos leitos clínicos e UTI, assim como gripários e unidades de ventilação respiratória, exclusivos para atendimento aos casos de coronavírus. Além disso, a Prefeitura adotou medidas de restrição das atividades, que contribuem para o distanciamento social, e promoção de ações de proteção à vida nos bairros com maior número de casos, a exemplo de Brotas, Pituba, Pernambués, Liberdade e Plataforma, que envolveram higienização de vias, oferta de testes rápidos e serviços de assistência social.

A nota diz ainda que, mesmo com o número de casos da doença atualmente em queda, com índice de ocupação de leitos de UTI em 23% nesse domingo (5), a administração continua monitorando os casos do coronavírus na cidade diariamente. Caso seja notado um crescimento em alguma dessas regiões informada no estudo, as ações de proteção à vida serão retomadas imediatamente para reduzir a circulação do vírus. A fiscalização para o cumprimento das determinações do decreto municipal de enfrentamento à pandemia prossegue sem interrupções.

BAIRROS COM MAIOR VULNERABILIDADE

. Cassange - 0,4197* . São Tomé - 0,3353     . Alto das Pombas - 0,3207     . Nova Esperança - 0,3134     . Pero Vaz - 0,3102     . Calçada - 0,3017     . Fazenda Coutos - 0,2968     . Sete de Abril - 0,2906     . Santo Antônio - 0,2866 . Alto da Terezinha - 0,2866

*  Índice de Vulnerabilidade Epidêmica (IVE)

BAIRROS COM MENOR VULNERABILIDADE

. Itaigara - 0,1063 . Amaralina - 0,1053     . Narandiba - 0,1048     . Centro - 0,0976 . Doron - 0,0936     . Resgate - 0,0913     . Patamares - 0,0903     . Pituba - 0,0814     . Cajazeiras II - 0,0688     . Caminho das Árvores - 0,0417