Eu assistiria a uma série sobre Eliza Samudio

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  • Carol Neves

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 14:31

- Atualizado há um ano

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A atriz Vanessa Giácomo vai interpretar Eliza Samudio, morta a mando do goleiro Bruno (foto/divulgação) A notícia de que a Globo planeja fazer uma série sobre a morte de Eliza Samudio circulou essa semana provocando indignações em rincões da internet. Veio logo depois da quase-contratação do goleiro Bruno, condenado pelo crime, pelo Fluminense de Feira. Antes disso, informações sobre o filme (que agora serão dois) sobre o caso Suzane von Richtofen também geraram críticas na linha de “por que vão explorar ainda mais esse sofrimento”?

A resposta é uma só: porque há um imenso interesse. Séries e filmes sobre crimes reais sempre foram feitos e é só dar uma olhada rápida na Netflix ou seu streaming preferido para entender que é um fenômeno real. Seja com documentários, como Making a Murderer, podcasts como Serial, versões ficcionalizadas como American Crime Story – O Povo contra O.J. Simpson, há uma grande demanda por esse tipo de histórias.

A Globo tentou se aproximar desse filão de uma maneira discreta. Amora Mautner, que deve comandar o projeto da série sobre Eliza, foi a responsável por dirigir Assédio, série ficcional da emissora baseada no caso de Roger Abdelmassih, médico que abusou de dezenas de pacientes, além de praticar outros crimes.

Não foi um sucesso estrondoso, mas teve uma boa recepção e é uma série feita com cuidado. O que as notícias agora dão conta é que a emissora quer expandir esse núcleo, usando apenas casos que já tenham sido concluídos na Justiça, como a morte de Eliza. O que me surpreende mais é que até demorou para chegar algo assim. O conteúdo brasileiro para o gênero está restrito a séries documentais pobres como “Investigação Criminal” e “Anatomia do Crime”.

Entendo que existem preocupações éticas sobre o modo com que o material deve ser tratado e como muitas abordagens, especialmente em crimes envolvendo mulheres, podem resvalar na misoginia. Outras pessoas sempre vão achar que se trata de uma certe estetização de um crime e vão preferir não ver, e tudo bem se essa não é a sua. Mas acredito que tendo em vista o trabalho feito em “Assédio”, e como li o livro que será usado de base, “Indefensável”, acho que as chances são boas de ser feita um trabalho honesto.

Uma boa série de true crime traz sim um crime chocante, mas também provoca outras reflexões. Muitas jogam luz em questões jurídicas e trabalho (bem ou mal feito) da polícia. E se o crime é chocante é porque tocou em algum aspecto social e humano que mexe com as pessoas. Por que um jogador famoso, com um possível futuro brilhante esportivamente pela frente comandou um crime bárbaro contra a mãe de um filho seu? O noticiário atual nos mostra mais do que nunca que casos como o de Eliza Samudio não existem em um vácuo.

Porque essas histórias interessam tanto é mais difícil de responder. O ser humano, aparentemente, sempre foi um pouco curioso pelo mórbido. Ainda hoje se acontecer um acidente alguém vai parar para ver. Repórter cobrindo crime sempre se depara com uma procissão de anônimos interessados em acompanhar de perto.

Eu mesma, ávida consumidora do gênero que vivo me questionando sobre ele, tentei entender um pouco mais em reportagem feita no ano passado, conversando com psicólogos e fãs, mas não há, claro, respostas definitivas. É algo natural até que ponto? Faz bem para nossa saúde mental? Creio que cada um deve construir sua resposta em relação ao consumo. Quanto à produção, é uma realidade de mercado e a Globo e qualquer emissora brasileira tem todo direito de investir nisso.

Se a série sair, eu vou assistir.

*Falando em esportistas cometendo crime, entrou na Netflix uma série documental sobre o jogador de futebol americano Aaron Hernandez, condenado por matar um homem em Boston.