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Em princípio, não caibo em caixas, e tudo perde o encanto quando precisa ser enquadrado em modelos
Da Redação
Publicado em 5 de dezembro de 2021 às 07:00
- Atualizado há um ano
Até muito recentemente eu não gostava de parabéns. Nem de cantar (ou melhor, de bater os parabéns, como se diz aqui no nordeste) e muito menos de recebê-los. Ficava sem graça nas duas ocasiões, não conseguia fitar as pessoas, e achava um saco parar tudo no melhor da festa e mobilizar todo mundo para aquela “obrigação” dos parabéns.
E aquele desperdício de bolo? Porque a gente calcula o tamanho do bolo pelo número de convidados, sem considerar: 1) aquelas pessoas que passam a vez porque não fazem questão ou estão de dieta; 2) aquelas que comeram tanto salgadinho e carcaram tanto o dente na mardita que quando veem o bolo chega a dar ginge; 3) as que vão embora antes.
Daí é um tal de catar tapauer para o povo levar, ou quando nada, é um pratinho emborcado em cima do outro equilibrado na mão até em casa. E ainda assim a gente abre o congelador um mês depois e descobre que não demos vencimento e ele ainda tá pra game.
Tô dizendo que é para diminuir o tamanho do bolo? Não tô. Mas não mesmo, porque hoje em dia eu entendo a simbologia do bolo. (Foto: Divulgação) A GLACE É DE QUÊ?
Eu comecei a suspeitar que tinha alguma coisa errada por trás desse meu mal-estar na hora do bolo quando o meu filho fez um ano e eu tentei demover a família dos parabéns. Veja que sacrilégio, que arrogância, que pessoa sem noção, e calcule o tamanho do iceberg pela ponta.
Afinal de contas quem sou eu na fila da hóstia para derrubar uma tradição que faz brilhar os olhos das avós e que independente das minhas questões pessoais, são momentos importantíssimos na vida de uma criança, ainda que seja um bolinho de ovo do primeiro mêsversário. E que direito eu tinha de questionar sequer a finalidade do mêsversário? Por que dizer não a todo e qualquer momento de celebração à vida em família?
Foi a minha cunhada e comadre Manza (teve filho, cunhada e sogra é para sempre, e no meu caso, que bom!), que acendeu essa luz no porão da minha infância quando me disse “Katita, vai ser tão importante para Bê quando mais velho poder olhar para a sua infância e ver todo esse amor ao seu redor a cada novo ciclo”
Foi quando comecei a “olhar para isso”. E todas as vezes que vejo o meu filho buscando e percorrendo com olhos curiosos e felizes os seus álbuns de retratos, eu agradeço àquela cabôca que tanto amo.
A glace era de traumas.
CAMADAS DE TERAPIA, ASTROLOGIA E BABA DE MOÇA
Não que eu tenha começado a fazer terapia para descobrir qual era a de mermo na hora do bolo, mas a terapia move tudo, e mais cedo ou mais tarde as coisas se encaixam, a pessoa enxerga o todo e começa a consertar a engrenagem.
Sem dúvida a terapia (junguiana, sistêmica, e todas as outras terapias de autoconhecimento e cura que busco na minha vida) foi fundamental, mas a proposição correta do meu enem eu tenho pra mim que foi a astrologia que me deu, à partir de uma palavrinha-chave que eu soltei lá em cima: “obrigação”.
Sagitário é bicho solto, quem não sabe disso? Pode ter o ascendente e a lua onde for. A parte humana atira a flecha, acende o fogo, convida para a viagem contemplando a paisagem, mas quem conduz o corpo é o cavalo (olha aí O Carro, minha carta 7 que não me deixa mentir).
Em princípio, não caibo em caixas, e tudo perde o encanto quando precisa ser enquadrado em modelos, convenções, padrões, regras. Tive que domar o meu cavalo convidando a todos os outros signos que passam pelo meu mapa astral para sentarem-se à mesa em círculo do meu aniversário.
E POR FALAR EM CÍRCULO
Fui pesquisar a origem e simbologia do bolo festivo e só encontrei círculos. O bolo era uma oferenda grega à deusa Artémis da fertilidade (também caçadora de arco e flexa) e da lua.
A lua é redonda e por isso o bolo é redondo; um presente à deusa da fertilidade, e portanto da barriga redonda de lua cheia; o bolo fica no meio da mesa e a gente canta parabéns em círculo para celebrar mais uma volta redonda em torno do sol redondo. Círculo é movimento, expansão, o Tempo de Nanã, união, plenitude.
Faço aniversário em 10 dias e daqui para frente quero bolo no centro da mesa redonda; quero parabéns para mim olhando fundo e de coração aberto nos olhos dos que me amam; quero apagar todas as minhas velinhas (que sejam das bem teimosas), fazer todos os pedidos que tenho direito, e comer bolo como se não houvesse amanhã - de preferência com glace de limão.
AGRADECIMENTOS EM PRANTOS A Manza.
E também a Luciano, querido pai do meu filho, que catou a minha mão e me levou para a terapia. A Thelma, mãe dos dois, avó do meu filho, e patrocinadora da festa babadeira de 1 ano de Bê;
À barriga redonda de mainha;
À lua, professora dos meus sentimentos;
A Pedro Dias, meu professor de astrologia;
A Silvana Maciel, sagita que nem eu;
Olga Gomez, escultora do meu cavalo;
E a todas as boleiras do mundo, especialmente as que ainda fazem bolo de glace com biquinho de limão.
Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!
Ô Katita, eu vou comer seu bolo!
Então venha Kátia Najara é cozinheira e empreendedora criativa do @piteu_cozinhafetiva