Evento discute desafios e oportunidades do setor mineral da Bahia

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Noia

Quase um terço de todas as receitas do município baiano de Jaguarari são oriundas de royalties pagos pela atividade mineral. Além dessa injeção direta de capital, a produção de cobre da Mineração Caraiba ainda responde por pouco mais de 3 mil empregos diretos e indiretos, além de movimentar toda uma cadeia de serviços. O case da empresa foi apresentado ontem na primeira edição do evento CBPM Convida, criado pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) para apresentar o trabalho de empresas do setor na Bahia.

Segundo o presidente da CBPM, Antonio Tramm, o evento, que deve se repetir mensalmente a partir de agora, foi pensado para discutir a atividade e mostrar que a relevância social da mineração. “Estamos encerrando um ano difícil para a atividade por conta do acidente em Brumadinho, mas é hora de olhar para a frente. Temos um relevante trabalho para apresentar. Temos uma relevância social para mostrar”, destacou, durante o evento que aconteceu no auditório da CBPM e marcou o aniversário de 47 anos da companhia.

O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Flavio Ottoni Penido, ressaltou a necessidade de a mineração se apresentar melhor para a sociedade. “A atividade já está próxima da sociedade, mas muito do que se faz não é noticiado”, disse. Como exemplo aqui na Bahia, ele citou o projeto da Largo Resources, com a Vanádio de Maracás. “Estive aqui há 30 anos quando a CBPM iniciou as pesquisas. Hoje, quando vamos a Maracás percebemos o tamanho da transformação que a mineração levou para aquela cidade”, afirmou.

Vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico, João Leão contou que o governo estadual vê na mineração uma oportunidade para fomentar o desenvolvimento do semiárido e para descentralizar a geração de riquezas na Bahia. “Queremos modificar a estrutura de receitas do estado. Hoje, 77,86% da nossa arrecadação sai da Região Metropolitana de Salvador. A região do Vale do Paranapanema, onde existem importantes projetos para a produção de ferro, responde por 0,004%”, comparou. Segundo ele, o valor arrecadado não paga nem a estrutura de educação da região.

Para ele, os municípios de Brumado, Caetité e outros, no Sudoeste, vão experimentar um acelerado ciclo de desenvolvimento com a produção mineral na região.   

Durante a sua apresentação, o vice-governador fez questão de elogiar o papel que o CORREIO vem desempenhando na divulgação do trabalho da mineração na Bahia. “O jornal tem cumprido um papel fundamental para a mineração. Quando a gente vê um trabalho sendo desenvolvido a favor do desenvolvimento da Bahia, como está sendo feito, a gente apoia. Eu quero deixar aqui os meus sinceros parabéns, em meu nome e no nome do governador Rui Costa”, afirmou.

O presidente do Sindicato das Empresas de mineração na Bahia (Sindimiba) e CEO da Largo Resources, Paulo Misk, destacou a atuação das empresas do setor em áreas carentes da Bahia. “A gente precisa fazer mais mineração, porque a atividade tem tido um impacto muito importante em áreas carentes do estado”, diz. Segundo ele, o Sindimiba está investindo em uma campanha para mostrar à sociedade o que é a mineração na Bahia. “Através de vídeos curtos, vamos mostrar produtos em que o estado se destaca como produtor, ou atividades que são feitas com excelência por aqui”, explicou.

Misk ressaltou que a imagem que aparece do setor é incompatível com a atividade desenvolvida. “A mineração é inovadora e tem uma grande preocupação com a sustentabilidade. Queremos que as pessoas tenham acesso a informação e que discutam isso conosco”, destacou.

Presente ao evento, o presidente da Agência Nacional de Mineração (ANM), Victor Bicca, destacou a qualidade dos estudos minerais na Bahia. “Sem conhecimento, não há progresso e a geologia é um conhecimento elementar”, disse. Ele lembrou descobertas recentes no estado, como os casos do minério de ferro e bauxita. “São descobertas que tem o potencial de alterar a realidade do estado. E a Bahia ainda tem a felicidade de estar melhorando a sua logística”, destacou.

Nacionalmente, Bicca destacou a perspectiva de aumentos na arrecadação da CFEM, os royalties da mineração. “Saímos de R$ 1,6 bilhão em 2017 para R$ 3 bilhões em 2018 e agora vamos arrecadar R$ 4,6 bilhões”, diz. Para o ano que vem, a projeção é de uma arrecadação de R$ 8 bilhões. “Isso é um dinheiro que é praticamente repassado para os estados e municípios onde acontece a produção”, explicou.

O presidente da ANM ressaltou que apesar das dificuldades e da crise provocada pelo rompimento da barragem de Brumadinho, houve avanços no setor. Um dos destaques foi a implantação do protocolo digital, o que evita a necessidade de o empreendedor ir até Brasília para apresentar documentos. A estimativa é de que isso vá gerar uma economia de R$ 20 milhões por ano.  

Perseverança

Um dos palestrantes da manhã, Manoel Valério, diretor da Mineração Caraíba, contou como os investimentos em pesquisa mineral e em melhorias operacionais ajudaram a empresa a superar dificuldades dos últimos anos. Segundo ele, em 2016 a Caraiba tinha uma grande dívida e ainda enfrentou um acidente, sem vítimas, o que levou a empresa a entrar em um processo de recuperação judicial.

Um rio temporário encheu e inundou a mina com oito trabalhadores dentro. Após nove horas de trabalho, a equipe foi resgatava. A partir daí foi necessário o desenvolvimento de um trabalho para “resgatar” a empresa, contou. E a palavra de ordem foi perseverança. “Limpamos a mina, buscamos a licença para funcionar e trabalhamos para manter motivados os 2 mil funcionários. Procuramos passar a ideia de que o desafio era enorme, mas poderia ser vencido”, lembra.

A empresa foi adquirida por um grupo de investidores canadenses e iniciou o seu processo de reestruturação. “Os acionistas compraram a empresa pelo seu potencial”, diz. Pagaram US$ 8 milhões e abriram o capital na Bolsa de Toronto. Foram arrecadados US$ 50 milhões, o que representou a segunda maior operação de abertura de capitais da bolsa canadense.

De lá para cá, a Mineração Caraíba retomou o caminho de crescimento e já recebeu aproximadamente US$ 100 milhões em investimentos – cerca de US$ 20 milhões em pesquisas por ano. Como resultado, o novo projeto da Caraíba já produz mais cobre que a mina principal. E tudo isso traz resultados positivos para o município de Jaguarari e outros ao seu redor. A estimativa da empresa para os próximos anos é de ampliar a operação e consequentemente a distribuição de renda e tributos gerados.

Nas minas da Ferbasa, a expectativa também é de crescimento. A única produtora de ferrocromo do Brasil e maior produtora de ferroligas do país, está investindo em tecnologias para ampliar a produção de cromo, além de outras para tornar a produção mais segura. “Hoje 90% da produção retirada de nossas minas é subterrânea”, contou o diretor de mineração da empresa, Wandeley Lins.

Atualmente, a empresa tem um projeto-piloto para o uso de veículos autônomos, o que permite ampliar o período de operação nas minas, além de ampliar a segurança dos processos. Os primeiros testes foram realizados com veículos de até 3 toneladas, mas hoje já se chegou às 18 toneladas. “O operador pode controlar até três máquinas simultaneamente e sem a necessidade de se deslocar para o subsolo”, diz

Responsável diretamente por todas as etapas de fabricação das ligas, a Ferbasa emprega direta e indiretamente 4 mil pessoas em diversas regiões do estado. “O nosso trabalho é a prova de que a extração de minérios com responsabilidade leva ao desenvolvimento”, avaliou.

Fundador da Ferbasa é homenageado em evento

Fundador da Ferbasa, o engenheiro de minas José Carvalho foi o primeiro homenageado com o Prêmio CBPM de Mineração. Além da empresa , ele foi o criador da Fundação José Carvalho (FJC), que é sócia majoritária da Ferbasa.

O vice-governador João Leão destacou a necessidade de mais empresários com a mentalidade de José Carvalho. “Que surjam outros nomes na mineração baiana com a mesma mentalidade de José Carvalho”, destacou.

Para o diretor da WWI no Brasil, Eduardo Athayde, a oportunidade de conviver com José Carvalho foi enriquecedora. "Tivemos conversas sobre a visão social e empresarial dele. Era alguém que se preocupava com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) antes mesmo que a ONU (Nações Unidas) se preocupassem com isso”, diz.  

O presidente da FJC, Ronaldo Sobrinho, lembrou que José Carvalho doou grande parte de suas ações para a Fundação aos 44 anos, tal o seu comprometimento com o desenvolvimento de ações para a melhoria das condições de vida da população através da educação. Carvalho dizia que “se não existir educação, não teremos nada”.