Ex-alunos do Colégio Militar da Bahia são homenageados e relembram antigas histórias

Honraria é dada a ex-alunos e pessoas de notório saber que prestam bons serviços à sociedade

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  • Eduardo Dias

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 15:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Fundado para atuar na formação de estudantes, principalmente filhos de militares e de funcionários públicos municipais e estaduais, o Colégio da Polícia Militar da Bahia (CPM-BA) tem 62 anos de existência. Desde a sua fundação, em 1957, com um estilo tradicional, conservador e com ensinamentos voltados para valores éticos, morais e patriotas, a instituição já formou mais de 50 mil estudantes somente na unidade I do Dendezeiros, na Ribeira.

Foi lá que, na manhã desta sexta-feira (8), o empresário baiano Gustavo Azevedo, de 53 anos, e mais outros cerca de 30 ex-alunos da unidade receberam das mãos dos oficiais a comenda Fernando Antônio Neves da Rocha, primeiro aluno do CPM a atingir o coronelato. O evento é realizado há cinco anos e homenageia pessoas que se formaram lá ou de notório saber, que prestam bons serviços à sociedade.

Gustavo se tornou empresário logo cedo, quando ainda estudava na unidade. Ao atender um pedido do pai, decidiu seguir os passos dele na vida empresarial e assumiu a administração da empresa da família, a Piscinas Sólazer, especializada em construção e instalação de piscinas, com sede localizada na Avenida Juracy Magalhães Júnior.

De religião judaico-cristã, Gustavo afirmou que, apesar de ter passado apenas três anos na instituição, foi lá que aprendeu a ter disciplina, valor que leva consigo até hoje. Além disso, segundo ele, ficaram ensinamentos importantes, como respeito ao próximo.

"O pouco tempo que passei no CPM foi suficiente para que eu aprendesse o básico da vida: respeito e disciplina. Isso meu pai já me ensinava, mas desenvolvi ainda mais quando estudava aqui. Por conta da cultura da nossa família, naquela época era comum seguir os passos do pai e assumir a empresa da família, e foi o que eu fiz. Descobri meu talento e permaneço até hoje trabalhando no negócio. O que prevaleceu nessa minha escolha foi a obediência. Meu pai me chamou, eu fui lá e obedeci”, contou o empresário, que revelou sua identificação com o antigo colégio.“Tenho uma relação muito boa com o colégio. Para mim, é uma obrigação cada vez maior, porque foi aqui que eu aprendi. Continuarei praticando que servir é o melhor para viver. Costumo me apegar aquela frase, que carrego no coração, que diz que quem não nasce para servir, não serve para viver”, completou. Gustavo na solenidade de entrega de comenda da PM (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O Colégio Atualmente, o CPM-BA possui 15 polos espalhados pela Bahia, com cerca de 12 mil estudantes matriculados do ensino fundamental I ao ensino médio. Somente na unidade I do Dendezeiros, estudam cerca de 2.700 alunos.

A instituição já recebeu diversos prêmios, dentre eles 11 na Olímpiada Baiana da Primavera, na modalidade Ginástica Calistenia, que é um conjunto de exercícios físicos onde procura-se movimentar grupos musculares, concentrando-se na potência e no esforço, além de títulos em campeonatos de vôlei e atletismo. Conquistou ainda boas colocações nas edições da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Para ingressar no colégio da PM, é realizado um sorteio anual, sempre no mês de janeiro. A quantidade de vagas ofertadas é equivalente à quantidade de alunos que deixam a instituição nas turmas finais do final do ano anterior. Somente no começo deste ano, cerca de 2 mil matrículas foram abertas para todo o estado.

De acordo com Heroldo Oitaven Rocha, 77, ex-aluno e atual professor da unidade, o que diferencia o CPM dos demais colégios baianos é o ensino militar aplicado que, segundo ele, "dá limites aos jovens e ajuda na formação de bons cidadãos".

“Muitos falam que o militarismo aliena os jovens. Fui um aluno, não sou alienado e hoje sou professor. Estar até hoje na unidade traz um sentimento muito bom. Rever colegas da época em que eu estudava é gratificante. Muita gente me pergunta por que venho de Lauro de Freitas para cá todos os dias, e eu digo que prefiro trocar o remédio pelo combustível. Prefiro gastar com gasolina e interagir com os alunos, ajudar a formar novos cidadãos”, revelou. Heroldo é professor na instituição onde estudou (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Gratidão Ao anunciar o início da solenidade, a melodia tocada pela Banda de Música do CPM era o clássico “Amigos para sempre”, um clássico de Andrew Lloyd Webber criado para os Jogos Olímpicos de Verão de 1992, em Barcelona. A entonação marcou o reencontro dos ex-alunos da unidade do Dendezeiros que iriam receber a honraria.  

Quando chegou no CPM Dendezeiro, o hoje coronel e diretor do Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, Admar Fontes, 57, não imaginava que sairia de lá direto para a Academia da Polícia Militar, em 1980. De lá para cá, ele mantém uma relação muito próxima com a unidade.

Segundo ele, o CPM mudou sua vida e dos ex-colegas de turma. “Aqui nós tínhamos à disposição oficiais que nos ajudavam em nossa educação. Eles nos deram régua e compasso para a vida. Através do Colégio da Polícia Militar pude me tornar um homem de bem e de respeito e estou fazendo o mesmo com meus filhos. Sou grato a todos os professores e oficiais”, contou. Admar ficou feliz em reencontrar ex-colegas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) André Luís do Nascimento iniciou os estudos na unidade do Dendezeiro aos 12 anos, na 8ª série. Desde então, ele já tinha o objetivo de seguir a carreira militar. Hoje formado em Direito, ele segue a carreira de advogado e não esquece a gratidão pelo antigo colégio.

“Entrei para a PM e fiquei durante 10 anos servindo, depois me formei e saí para advogar. O meu sentimento hoje é de dever cumprido. Eu entrei no colégio quando criança e saí com uma formação de adulto. Lembro que eles se preocupavam muito com nossa formação social, foi um imenso prazer ter estudado aqui”, afirmou. André Luís hoje é advogado (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Um dos fundadores e vice-presidente da Associação de ex-alunos do CPM, o professor e administrador Jorge Luiz Ventin, 47, foi um dos estudantes da unidade. Ele revelou que o objetivo da criação da associação era reunir os antigos colegas para confraternizar e compartilhar o orgulho que carregam por terem estudado na instituição.

“É um grande orgulho ter estudado no CPM. Estudei entre os anos de 1979 a 1989. Aqui, fiz amizades que levo para a vida toda. Foi um tempo que contribuiu definitivamente para a minha formação social”, garantiu. Jorge Luiz estudou durante toda a infância e adolescência no CPM (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Bastante emocionado por estar representando o pai, que por problemas de saúde não pôde receber a honraria nesta sexta, o Major Michel Muller, 48, contou a emoção de receber das mãos de colegas a honraria.

“Tanto eu quanto meu pai somos ex-alunos do colégio. Eu estudei por 10 anos e, para mim, é uma honra estar aqui representando ele hoje. Queria que ele estivesse aqui, sei que quando eu entregar para ele, ele vai se emocionar. Ele é a minha referência de tudo e merece muito”, contou.

Nova geração A nova geração dos alunos do Colégio da Polícia Militar, assistiu à solenidade de entrega da comenda. Alguns chegaram a imaginar como seria o momento em que viveriam a emoção de receber uma honraria. Aluna do 1º ano do ensino médio, Edite Gabriele Oliveira, 15, faz parte da unidade desde que era do 3º ano do fundamental. Segundo ela, seu sonho é seguir na carreira militar e, um dia, receber a premiação também.

“É muito bom estudar aqui, é uma disciplina muito boa, ajuda a nos formar melhor como alunos. Eu já me imagino daqui a uns anos fazendo parte da turma que está sendo homenageada hoje, é meu sonho”, revelou.

Camila Machado, 17, também estuda no 1º ano e já almeja seguir a carreira militar, assim como seu tio. Ela, pretende, um dia, olhar para trás e dizer que estudou no CPM e poder ser homenageada por isso.

“Aqui nós temos uma preparação muito boa. A disciplina nos ajuda bastante em toda a nossa formação. Isso ajuda a nos desenvolver melhor para nosso futuro. Pretendo fazer meu ensino médio todo e seguir a carreira militar, e um dia voltar e ser homenageada também” disse.

Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier