Ex-ministro vai ganhar quase quatro vezes mais no Banco Mundial

Demitido do Ministério da Educação, Abraham Weintraub deve ocupar um posto de diretor da instituição, nos EUA

  • D
  • Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Sergio LIMA / AFP

Demitido do governo na última quinta-feira (18) e considerado por quase toda a Nação o pior ministro da Educação da história do Brasil,  Abraham Weintraub está com pressa, com medo e cheio de ambições políticas. Quer deixar o país, como ele mesmo escreveu nessa sexta-feira (19),  no Twitter, o mais rápido possível. Seu  provável destino  é Washington (Estados Unidos). Lá, Weintraub, que é economista,  deve  assumir uma representação brasileira no Banco Mundial. Nada mal. O salário  no cargo é de  US$ 21,5 mil mensais (cerca de R$ 115,9 mil), quase quatro vezes mais do que ele ganhava como ministro (R$ 31 mil). De quebra, irá se sentir mais - muito mais - seguro.

"Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). Não quero brigar! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!", escreveu o ex-ministro na rede social. À CNN Brasil, ele reforçou:  "A prioridade total é que eu saia do Brasil o quanto antes. Agora é evitar que me prendam, cadeião e me matem", disse. 

Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro indicaram nas redes sociais que a nomeação de  Weintraub para o Banco Mundial não se trata de um prêmio de consolação, mas de uma estratégia do presidente para tirar o ex-ministro do país e evitar sua prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Weintraub é investigado no inquérito das fake news, que tramita na Corte e já determinou a prisão de vários alvos.

O youtuber Bernardo Küster, um dos alvos do inquérito das fake news, foi o mais explícito. Num vídeo, afirmou que Weintraub vai exercer um cargo no exterior para "fugir" de ser preso pelo Supremo. "Estão articulando a prisão desse homem e a vida dele vai de complicar. O Supremo já sinalizou que não vai dar moleza para ele quando o mantiveram no inquérito das fake news". 

Se continuar solto e for mesmo morar nos EUA, Weintraub deve seguir na defesa do presidente Jair Bolsonaro, mas, sobretudo, quer aumentar sua influência nas redes sociais e se projetar com um líder da direita. A interlocutores, ele admite usar a projeção que ganhou no MEC para concorrer a governador de São Paulo ou a senador em 2022.

Ao ocupar um posto de diretor do Banco Mundial também deve se aproximar ainda mais do guru Olavo de Carvalho, que mora no estado americano de Virgina. O ex-ministro também pretende manter relação com o diplomata olavista Nestor Forster, encarregado de negócios da embaixada brasileira na capital americana. Embora ex-alunos do guru bolsonarista, os dois não se conhecem pessoalmente. Por fim, Weintraub deseja também ser um interlocutor do grupo do presidente Donald Trump.

A indicação de  Weintraub  para o Banco Mundial já foi feita pelo Ministério da Economia, mas ainda depende de aprovação de outros países - o que deve ser apenas uma formalidade.  Em nota, o banco explicou que o cargo do ex-ministro consiste em representar o Brasil no Conselho de Diretor Executivos do Banco Mundial. O grupo do Brasil ainda tem Colômbia, Equador, Filipinas, República Dominicana, Panamá, Haiti, Suriname e Trindad e Tobago. São esses os países que têm de aprovar a indicação do ex-ministro.

Se aprovado, Abraham Weintraub ficaria no cargo até o dia 31 de outubro, quando acaba o atual mandato. 

Desavenças Weintraub, o segundo a comandar a pasta desde o início do governo Bolsonaro, ficou 14 meses no cargo, período no qual acumulou desavenças com reitores, estudantes, parlamentares, chineses, judeus e, mais recentemente, ministros do Supremo, chamados por ele de "vagabundos" em uma reunião ministerial. Em função dessa declaração, virou alvo do inquérito que apura fake news e ataques contra os ministros da Corte Suprema.

Em julgamento nesta semana, o STF  decidiu por 9 votos a 1 manter Weintraub no inquérito. O habeas corpus de Weintraub também tinha como objetivo beneficiar outros investigados - empresários, blogueiros e ativistas que foram alvo de ofensiva da Polícia Federal recentemente. A ação contesta a atuação do relator do caso, Alexandre de Moraes, que se declarou impedido de julgar no caso. Foi Moraes quem colocou Weintraub na lista de investigados do inquérito.

O argumento dos que defendiam a demissão era de que Weintraub se tornou um gerador de crises desnecessárias justamente no momento em que o presidente, pressionado por pedidos de impeachment, inquérito e ações que podem levar à cassação do mandato, tenta diminuir a tensão na Praça dos Três Poderes. 

Críticas Weintraub era um dos ministros mais contestados do governo do presidente Jair Bolsonaro. Presidente nacional do Democratas, o prefeito ACM Neto considerou que o economista "já foi tarde", avaliando negativamente sua passagem pela pasta. 

"O ministro saiu e já foi tarde. O Weintraub foi um dos piores ministros da Educação da história do Brasil. Desde que acompanho a política não me lembro de ninguém pior que o Weintraub", disse Neto, afirmando que o Brasil perdeu muito tempo com ele no MEC. "Ainda bem que ele caiu".