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Da Redação
Publicado em 5 de março de 2021 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Em meio ao aumento do número de mortes por covid-19 na Bahia, as fabricantes de urnas funerárias do estado passam por dificuldades com a produção de caixões devido à escassez e aos reajustes de preço das matérias-primas. Algumas fábricas caminham para o encerramento das atividades. O problema é nacional, como informa a Associação dos Fabricantes de Urnas do Brasil (AFUB) em comunicado enviado ao mercado funerário. No texto, a entidade anuncia de “forma geral que deverá haver novamente a restrição de modelos de urnas por parte dos nossos associados e que o fornecimento é incerto”.>
No comunicado, o presidente da AFUB, Antonio Marinho, afirma que o setor acreditava no início da regularização no abastecimento dos insumos, mas vê um cenário crítico e pior que o do ano passado. “As matérias-primas oriundas de commodities são tratadas como ‘jóias raras’. A especulação faz com que tenhamos aumentos sucessivos e sem garantia de fornecimento, principalmente quando falamos de Aço, Madeira, MDF e produtos químicos. Estes vêm sofrendo reajustes massivos e o seu abastecimento é incerto”, informa Marinho.>
O presidente ainda alerta que a maioria dos fabricantes estão com a capacidade comprometida pela falta de matéria-prima, o que pode fazer com que haja atraso nas entregas ou até o não fornecimento. “Os reajustes estão sendo constantes e, por vezes, impraticáveis. Como o mercado caminha, poderá haver desabastecimento de urna a nível nacional, o que geraria um sério problema a todos, visto que estamos falando de um item essencial na cadeia do serviço funerário”.>
Dificuldade de compra>
Dono da Urnas Fênix, localizada em Lauro de Freitas, Álvaro Pereira tem sentido essa dificuldade para encontrar matéria-prima para a fabricação das urnas. Além da escassez de produtos, os valores dos itens aumentou bastante. Segundo ele, o preço da madeira pinus registrou crescimento de 25% desde o final de 2020.>
No começo da pandemia, o maior problema foi com a compra do TNT, usado para forrar os caixões. A saída foi substituir o produto. De acordo com Álvaro, o metro do tecido saltou de R$ 0,60 para R$ 1,60 em março - um aumento de 166,7%.>
O fornecimento de MDF também foi uma dor de cabeça para Álvaro, que não recebeu o produto entre agosto e novembro. Desde que a venda foi regularizada, segundo o dono da fábrica, o preço da chapa cresceu 86,7%, passando de R$ 30 para R$ 56.>
“No ano passado, trabalhei cerca de dois meses com o MDF que tinha estocado. Depois, tive que comprar no mercado da cidade para não faltar”, explica.>
A fábrica consegue atender os pedidos feitos pelas funerárias, mas tem trabalhado com o estoque de caixões quase zerado. Com o aumento das mortes pelo coronavírus em fevereiro, a demanda cresceu novamente.>
A Urnas Fênix possui um foco em caixões populares e atende os estados do Nordeste. Apenas em Salvador, a empresa registrou um crescimento no volume de pedidos de 15% desde janeiro. >
Fechamento>
Localizada em Ubaitaba, a Urnas Faisqueira caminha para o fechamento das portas. Segundo o funcionário da empresa, Fabrício Cestaro, a fábrica só consegue manter a atividade por mais dois meses caso o cenário não melhore. Em caso de encerramento da produção, a Bahia e os outros estados atendidos pela companhia deixam de receber as cerca de 1,4 mil urnas populares produzidas por mês no local.>
Fabrício afirma que o MDF teve um aumento de 36% desde janeiro e a madeira pinus subiu 23% no mesmo período. Outros produtos, como combustível e EPIs, também estão mais caros.>
“O MDF está em falta e ele é muito importante porque é usado agregado com a madeira. É usado para fazer o fundo, a tampa e o reforço para o interior do caixão. Quando conseguimos um material na rua, ele está pelo triplo do valor”, afirma Fabrício. >
A representante de vendas da Urnas São Matheus, Eliane Silva, diz que a fábrica de Lauro de Freitas passa por uma dificuldade para comprar madeira pinus. “Antes da pandemia, pagamos R$ 70 reais no kit de madeira. Hoje, o kit sai por R$ 95”, avisa.>
Se os problemas com matéria-prima continuarem, Eliane acredita que não vai ter como continuar fabricando os caixões. Na fábrica, a urna mais procurada é a popular, a mesma que é mais usada em casos de morte por coronavírus. Ela diz que a demanda por caixões desse tipo quase dobrou com a pandemia.>
Na Urnas Castro, a situação é mais tranquila. Localizada em Castro Alves, a empresa tem um estoque de matéria-prima para os próximos 5 meses, segundo o proprietário Luciano Castro. “A gente vive problemas pontuais de matéria-prima, mas nada que venha comprometer”, diz Luciano.>
Segundo o presidente do Sindicato de Empresas Funerárias do estado da Bahia (Sindef), Carlos Brandão, as funerárias da Bahia não estão sofrendo com a restrição de modelos ou com a falta de caixões. “Não existe dificuldade para comprar urnas na Bahia”.>
Atraso nas entregas Clientes das fábricas de caixão, as funerárias reclamam de atrasos nas entregas e aumento dos preços das urnas. De acordo com o presidente do Sindef, o prazo de entrega passou de 3 para 15 dias.>
Dono da funerária Pax Campo da Saudade, Nelson Pitanga, afirma que seus pedidos de caixão tem demorado até um mês para serem entregues, o que, antes da pandemia, ocorrida na mesma semana. “Da forma como as coisas estão evoluindo, o sistema vai sim entrar em colapso se nada mudar”, alerta o empresário.>
O proprietário da funerária Pax Regional, em Valença, Marcos Lafeta, comenta que o momento é de incertezas. Entretanto, ele pontua que a única opção para as funerárias é comprar os caixões, apesar dos preços mais altos. >
“A gente não consegue passar o aumento para a família da vítima, ainda mais porque as mortes por coronavírus não podem ter velório”, afirma Marcos. Brandão diz que as empresas do setor têm segurado o repasse dos aumentos no preço dos caixões e dos EPIs, mas que o valor do serviço funerário subiu entre 25% a 30%.>
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Associação dos Fabricantes e Fornecedores de Artigos Funerários (AFFAF), informa que não deve faltar caixão no país. A entidade aponta ainda que o aumento do prazo de entrega dos itens é compreensível em meio a uma pandemia e que o reajuste nos valores das urnas é reflexo dos gastos dos fabricantes. Ainda de acordo com a associação, não foi recebida nenhuma reclamação oficial quanto aos valores dos caixões.>
O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), Lourival Panhozzi, afirma compreender os reajustes repassados pelas fabricantes de urnas devido à falta de matéria-prima. Entretanto, a entidade optou por não fazer o reajuste na sua tabela de preços.>
“Existem atrasos pontuais de entrega, mas nós podemos suportar. Temos estoque regulador. Quando precisa suprir mais uma região, pode ocorrer um atraso em outra”, ressalta Panhozzi.>
Caixões ficam até 45% mais caro desde abril A dificuldade para comprar matéria prima e os recorrentes reajustes no preço desses produtos refletem no valor dos caixões. Segundo o presidente do Sindef, o valor de venda das urnas funerárias pelas fábricas aumentou, em média, 45% desde abril de 2020. “Recebemos um comunicado que vai aumentar ainda mais”, completa.>
Os caixões da Urnas Castro encareceram entre 35% e 45% desde abril, segundo o proprietário da empresa. “Antes, ficávamos um ano sem fazer reajuste. Agora, estamos no 3º aumento de preço. Não colocamos sobrecarga nos valores, apenas repassamos os reajustes da matéria-prima”, explica Castro.>
Na Urnas Fênix, o valor de venda dos caixões teve que subir entre 25% e 30% desde o começo da pandemia. “Todo mês, eu tenho que refazer meus custos para encaixar os novos aumentos no valor dos meus produtos”, afirma Álvaro.>
Os aumentos variam a depender dos fabricantes. A Urnas São Matheus subiu o preço médio de venda dos caixões em cerca de 20% no último ano para repassar os custos com os materiais.>
Nas empresas Urnasul e Urnas Faisqueira, que trabalham com caixões populares, o reajuste foi de 10%. Na primeira fabricante, o aumento só ocorreu a partir de janeiro porque a fábrica utilizou um estoque de matéria-prima em 2020. Segundo a Urnas Faisqueira, o mercado não tem aceitado aumentos acima dos 10%.>
“O material começou a aumentar desde a 1ª semana de pandemia, mas consegui segurar o reajuste das minhas urnas para dezembro”, afirma o proprietário da Urnasul.>
O presidente da Abredif diz não existir um parâmetro uniforme de reajuste dos preços dos caixões pelos fabricantes, mas um aumento dentro da realidade nacional é de 20% durante a pandemia. Entretanto, ele pontua não ter experimentado um crescimento de 45% no valor do produto.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>