Fabrício Boliveira festeja o poder da narrativa

Vivendo um bombeiro, ator baiano se destaca na série Treze Dias Longe do Sol, da TV Globo, que estreia dia 8, e anuncia novos projetos

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  • Laura Fernades

Publicado em 31 de dezembro de 2017 às 06:10

- Atualizado há um ano

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Enquanto aguardava a mãe terminar o turno do trabalho na biblioteca dos Barris, o então adolescente Fabrício Boliveira passava o tempo entre os livros. Não demorou para ter seu primeiro contato com textos teatrais e despertar seu interesse para o universo das artes cênicas, processo que ficou forte mesmo quando a mãe mudou de emprego e foi trabalhar no Teatro Castro Alves.

Na plateia, Fabrício assistiu aos mais variados espetáculos. “Vi muita coisa. Me lembro que, na primeira vez que vi A Bofetada, fiquei tão impactado com aquele universo que saí do espetáculo e fiquei esperando os atores para trocar uma ideia. Nem pensava ainda em ser ator, tinha 16 anos, e, logo depois, meu primeiro espetáculo foi com a Companhia Baiana de Patifaria: Capitães da Areia”, conta Fabrício que, do contato despretensioso na adolescência, virou ator.

Hoje, aos 35 anos, o artista baiano está no elenco da minissérie Treze Dias Longe do Sol, que estreia dia 8 de janeiro na Globo/TV Bahia, e da nova novela de João Emanuel Carneiro, ainda sem data. Além disso, Fabrício também está com papéis de destaque em quatro filmes previstos para 2018: Miragens, de Eryk Rocha; Simonal, de Leonardo Domingues; Tungstênio, de Heitor Dhalia; e Tudo Bom, Tudo Bem, de Willy Biondani.

“Saí da faculdade para fazer televisão, não concluí o curso”, lembra o ator, que foi chamado para fazer um teste para Sinhá Moça (2006) e passou a integrar o elenco da novela de Benedito Ruy Barbosa. Desde então, o currículo inclui novelas como Sítio do Pica-Pau Amarelo (2007), A Favorita (2009) e Boogie Oogie (2014), última que atuou.

Mas não é qualquer papel a atrair Fabrício, que declarou que nunca faria figuração de escravo. “Geralmente, esse escravo é sempre pano de fundo da Casa Grande. Mais uma vez o negro deixa de ser entendido como brasileiro, por isso é uma questão que falo bastante. Se é para tratar de uma ferida nossa, aberta, latente, que vem da escravidão, então a gente precisa dar voz a uma outra narrativa”, defende Fabrício. “É muito velha essa reprodução. É um pensamento velho, aristocrata, que não cabe mais”, completa. Na minissérie Treze Dias Longe do Sol, Fabrício vive um bombeiro  (foto/João Cotta/TV Globo)  Outro olhar -  Nos próximos trabalhos, seja no cinema ou na televisão, Fabrício terá papel de destaque. Em Miragens, será o protagonista: um taxista das ruas do Rio Janeiro, chamado Paulo, que ouve muita coisa dos seus passageiros enquanto lida com a crise no país, “falando sobre o Brasil contemporâneo, pós-golpe”, explica o ator.

Em Tudo Bom, Tudo Bem, que estreia em abril, Fabrício também interpreta um taxista. A história, que se passa em parte na França, mostra esse personagem chamado Tião: “Um nativo que a gente nunca sabe direito o que deseja, mas que na verdade quer sempre uma troca. É um cara que representa a troca, que está ali para devorar e ser devorado”, define Fabrício.

Já em Tungstênio, gravado em Salvador, o ator interpreta um policial que faz parte do quarteto protagonista. A história rodada na Cidade Baixa é baseada em um quadrinho do artista fluminense Marcello Quintanilha, que venceu o prêmio de melhor história policial em Angoulême, França.

No filme Simonal, Fabrício vive o cantor carioca Wilson Simonal (1938-2000): “Nosso primeiro grande popstar negro, que foi saqueado pela sociedade brasileira”, critica. “A sociedade não soube lidar com um negro poderoso. Como até hoje não sabe. Simonal é um cara vanguardista e por ser negro não entrou na nossa história racista”, alfineta o ator. Já na minissérie Treze Dias Longe do Sol, Fabrício vive um tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, espécie de herói da trama de Elena Soarez.

“Geralmente, as informações que chegam pra gente é sempre do negro como ‘o morto’. Quem morre bastante no Brasil são os jovens negros, mas a gente não olha o negro que salva, o que inventou a literatura e uma série de coisas que formam nossa cultura. Essa série traz um cara que salva vidas. Traz, de algum jeito, um novo olhar. Pra gente, como sociedade, é muito importante. Cada negro que é assassinado, era uma vida que poderia salvar”, reflete.